Os instrutores-chefes das Academias de Comando e Estado-Maior de 18 países reuniram-se em Kigali, no Ruanda, em Julho, num workshop sobre a melhoria da formação e educação militar, cultivando simultaneamente uma compreensão comum das ameaças emergentes impulsionadas pelas novas tecnologias.
O tema do Workshop de Instrutores-Chefes das Academias de Comando e Estado-Maior Africanas deste ano foi ”O Futuro da Formação e Educação Militar Africana: Colmatando o Fosso Digital.”
“O objectivo geral deste workshop é fortalecer a colaboração por meio do diálogo aberto e da aprendizagem mútua,” o Brigadeiro-General Andrew Nyamvumba, comandante da Escola de Comando e Estado-Maior da Força de Defesa do Ruanda (RDF), disse num comunicado à imprensa.
O Chefe do Estado-Maior da Defesa da RDF, General Mubarakh Muganga, disse que o workshop foi oportuno, na medida em que as ameaças à paz e à segurança em África são cada vez mais complexas e dinâmicas. O workshop de quatro dias terminou a 24 de Julho.
“À medida que a tecnologia evolui rapidamente, também devem evoluir os nossos métodos de formação e abordagens educativas,” Muganga disse numa reportagem do jornal ruandês The New Times. “Temos de garantir que nenhuma instituição militar ou oficial fica para trás na era digital.”
Grupos Terroristas Utilizam a IA
O uso da tecnologia pelos militares é fundamental no combate aos grupos terroristas em África, que começaram a utilizar novas ferramentas, como a inteligência artificial (IA), para realizar campanhas de propaganda e recrutamento. A IA também tem sido utilizada para pirataria informática e criação de armas, como drones e veículos-bomba autónomos.
“A integração da inteligência artificial em drones mudou as tácticas de guerra, permitindo aplicações mais avançadas e estratégicas,” a investigadora Claris Nelu escreveu para o Centro Internacional de Combate ao Terrorismo.
De acordo com a Military Africa, os exércitos do Quénia, da Nigéria e da África do Sul abraçaram a era digital, utilizando tecnologias de simulação de campos de batalha — incluindo sistemas de laser, ambientes de realidade virtual, cenários gerados por computador e simuladores de voo avançados — como alternativas económicas e eficientes aos métodos tradicionais de treino militar. Estas tecnologias ajudam os países a reforçar a prontidão para o combate, aumentar a eficiência operacional e modernizar as suas forças armadas.
Os especialistas afirmam que é possível realizar 30 exercícios simulados pelo custo de um único exercício real ao nível da brigada, que normalmente envolve centenas de soldados e equipamento pesado, segundo a Military Africa. Esta redução de custos torna o treino de simulação viável e atraente para as forças armadas que buscam maximizar os seus recursos.
Um relatório da Interpol divulgado em Junho mostrou que um número crescente de crimes relatados no continente está relacionado à cibernética. Dois terços dos países africanos membros da Interpol relataram que os crimes relacionados à cibernética representaram uma parcela média a alta de todos os crimes, chegando a 30% na África Oriental e Ocidental. A Equipa Nacional de Resposta a Incidentes Informáticos do Quénia — Centro de Coordenação detectou mais de 4,5 bilhões de eventos de ameaças cibernéticas de Abril a Junho, informou o jornal queniano The Star.
Construindo Parcerias Duradouras
O workshop contou com a participação de 35 representantes militares do Botswana, Camarões, Egipto, Etiópia, Gana, Guiné, Quénia, Líbia, Malawi, Marrocos, Namíbia, Nigéria, Sudão do Sul, Tanzânia, Uganda, Zâmbia e Zimbabwe.
“Estamos determinados a trabalhar com todos os Estados-membros para melhorar a cooperação, padronizar o conteúdo cultural e integrar a inovação digital aos nossos sistemas de treinamento,” Muganga disse num comunicado de imprensa.
O Brigadeiro-General David Chesire, instrutor-chefe da Escola Conjunta de Comando e Estado-Maior do Quénia, disse que muitas discussões se concentraram no fortalecimento da colaboração entre as escolas de comando e estado-maior, particularmente por meio de intercâmbios de alunos e funcionários. Ele enfatizou a importância da cooperação no enfrentamento das ameaças emergentes à segurança.
O Coronel Masheke Mutemwa, instrutor-chefe da Ala Aérea da Escola de Comando e Estado-Maior dos Serviços de Defesa da Zâmbia, disse que o workshop ofereceu oportunidades para os participantes se envolverem e interagirem em questões militares.
No final do workshop, o Ruanda comprometeu-se a aprofundar a colaboração entre os Estados-membros.
“Que as estratégias discutidas aqui encontrem o seu caminho para os currículos, salas de aula e exercícios de campo,” Muganga disse num comunicado de imprensa. “Que as redes formadas aqui se transformem em parcerias duradouras. O futuro da formação e educação militar africana está nas suas mãos.”