Analistas de segurança alertam que as disputas internas entre o governo federal da Somália e os Estados regionais estão a minar a estratégia de contra-insurgência do país e a abrir oportunidades para grupos terroristas.
O al-Shabaab lançou uma ampla ofensiva em 2025, assumindo o controlo de dezenas de cidades e aldeias em regiões ao redor de Mogadíscio, a capital cada vez mais isolada.
“Os avanços do grupo ocorreram num contexto de crescente fragmentação do panorama político interno da Somália,” o centro de estudos Soufan Center escreveu num relatório de 24 de Julho. “As lutas pelo poder em curso entre o governo federal da Somália e Estados-membros como Puntlândia e Jubaland prejudicam a coordenação e os esforços de combate ao terrorismo.”
O avanço do al-Shabaab, que é o afiliado mais mortal e mais bem financiado da al-Qaeda, reverteu quase todos os ganhos estratégicos e territoriais da Somália desde que lançou uma contra-ofensiva em 2022. Os combatentes do al-Shabaab invadiram as regiões de Hiiraan, Lower Shabelle e Middle Shabelle, aproximando a luta de Afgoye, a cerca de 30 quilómetros de Mogadíscio.
As tensões aumentaram em Março de 2024, devido ao processo de revisão constitucional que substituiu o sistema de partilha de poder baseado em clãs, em vigor há décadas na Somália, por um modelo de voto único. Os líderes dos Estados semiautónomos de Puntlândia e Jubaland viram a mudança como uma concentração inaceitável do poder presidencial antes das eleições nacionais previstas para 2026.
“Os críticos rapidamente denunciaram a medida como uma tentativa de desmantelar o frágil sistema de federalismo que dá a pequenos Estados como Puntlândia controlo praticamente irrestrito sobre os seus territórios, incluindo sobre a tributação e a segurança,” a revista The Economist escreveu num artigo publicado a 26 de Julho.
“A disputa envenenou as relações entre o governo central da Somália e os Estados federais e desencadeou um debate sobre o futuro do país. Há mais de 15 meses que as relações formais entre a Puntlândia e Mogadíscio estão cortadas.”
As relações com Jubaland, no sul, são ainda piores, visto que as forças regionais entraram em confronto com as tropas federais pelo controlo do Estado, com dezenas de mortos desde Dezembro de 2024.
A Somália tem lutado durante anos com rivalidades políticas que minam os esforços de segurança, de acordo com Selam Tadesse Demissie, investigador do Instituto de Estudos de Segurança com sede na Etiópia e especialista no Corno de África.
“Desde 2012, os sucessivos governos somalis têm lutado para manter as operações de contra-insurgência — principalmente devido à natureza cíclica da política da Somália,” escreveu num artigo publicado a 28 de Julho. “Cada novo governo começa com esforços antiterroristas intensificados, mas estes diminuem à medida que as tensões políticas aumentam antes das próximas eleições, desviando a atenção e os recursos para outras prioridades.”
Como o al-Shabaab tem explorado a falta de harmonia na Somália em todas as instâncias, especialistas como Demissie e outros têm instado o governo federal a resolver as tensões regionais e ampliar o diálogo com os partidos da oposição e outros líderes dos Estados-membros para construir um consenso e promover a unidade.
“A fragmentação política dificulta a luta contra o al-Shabaab,” escreveu Demissie. “A fragmentação do governo somali provavelmente piorará se as divisões políticas continuarem e as próximas eleições se tornarem excludentes ou disputadas.
“O enfraquecimento ainda maior da autoridade do Estado pode acelerar a expansão do al-Shabaab das áreas rurais para as cidades. … Isso pode permitir que os militantes se infiltrem nas instituições estatais e se integrem nas estruturas oficiais de governação.”