Envios de armas de alta tecnologia dos rebeldes Houthis do Iémen para grupos terroristas na Somália podem comprometer a segurança de todo o Corno de África, afirmam especialistas.
No ano passado, houve um fluxo de drones e outras armas através do Golfo de Áden, do Iémen para a Somália, numa altura em que o al-Shabaab e o Estado Islâmico da Somália (ISSOM) sofreram perdas territoriais às mãos do Exército Nacional Somali e dos seus aliados.
A captura de sete homens pelas autoridades regionais da Puntlândia em 2024 demonstrou o vínculo crescente entre os Houthis e os grupos terroristas somalis. Os agentes de segurança descobriram que os homens transportavam cinco drones kamikaze que se acredita terem vindo dos Houthis.
Os drones eram quadricópteros disponíveis no mercado, modificados para transportar explosivos. A descoberta aumentou as preocupações de que tanto o al-Shabaab, afiliado à al-Qaeda, quanto os seus rivais do ISSOM estejam a deixar de lado as suas diferenças ideológicas e a trabalhar com os Houthis — e, por extensão, com o Irão, patrono dos Houthis — para espalhar drones armados do Médio Oriente para grupos terroristas africanos.
“Esta situação aumentou as fontes de instabilidade na região em geral,” os analistas Ibrahim Jalal e Adnan al-Jabarni escreveram recentemente para a Carnegie Endowment for International Peace.
Poucos meses depois de as autoridades da Puntlândia terem interceptado os drones kamikaze, o ISSOM lançou os seus primeiros ataques com drones contra as forças de segurança da Puntlândia.
O al-Shabaab chegou ao ponto de realizar reuniões na Somália com representantes Houthis para discutir a aquisição de armamento de alto nível e o treino para operá-lo. Algumas dessas armas podem ter chegado aos Houthis vindas do Irão.
“Ambos os grupos estão interessados em comercializar sistemas avançados, como mísseis terra-ar e drones de ataque, que não estão normalmente disponíveis na rede de contrabando do Golfo de Áden,” a analista Ghada Soliman escreveu recentemente para o Instituto do Médio Oriente da Universidade Nacional de Singapura. Soliman afirma que os Houthis servem de ponte entre o Irão e o al-Shabaab, dando aos iranianos influência sobre o estreito de Bab al-Mandeb, um ponto de estrangulamento para o transporte marítimo global no extremo sul do Mar Vermelho.
“É importante para o Irão apoiar o grupo terrorista somali e fornecer-lhe o treino e a inteligência necessários para conduzir operações além do Golfo de Áden e no Oceano Índico ocidental, juntamente com os ataques dos Houthis,” escreveu Soliman.
Além das suas relações com o Irão, os Houthis criaram o seu próprio programa de armas. O grupo abriu uma fábrica de drones em grande escala em 2018 e tem fabricado os seus próprios drones de asa fixa para uso em recolha de informações e ataques kamikaze.
Os Houthis também acumularam um arsenal de mísseis balísticos de curto alcance, minas antinavio e veículos não tripulados de superfície — drones marítimos — que continuam a utilizar contra navios comerciais no Mar Vermelho e no Golfo de Áden.
De acordo com analistas da Conflict Armament Research (CAR), os Houthis estão a tentar desenvolver drones movidos a células de combustível de hidrogénio que expandiriam as suas capacidades operacionais em termos de tempo e distância. Os investigadores da CAR, com sede no Reino Unido, examinaram pelo menos oito drones diferentes fabricados pelos Houthis para acompanhar a tecnologia à medida que ela se espalha para outros grupos terroristas.
“Aumentar o conhecimento sobre a capacidade de grupos não estatais de obter e usar componentes disponíveis comercialmente para fins letais, bem como as linhas de abastecimento pelas quais esses materiais são adquiridos, é fundamental para identificar as partes responsáveis pelo seu fornecimento,” os analistas da CAR escreveram num relatório de 2020 sobre as capacidades de construção de drones dos Houthis.
Apesar da relação crescente entre os Houthis e os terroristas somalis, os analistas da CAR afirmam que, até ao momento, não há evidências de que o al-Shabaab tenha começado a adicionar drones kamikaze ao seu arsenal de espingardas de assalto e dispositivos explosivos improvisados.
No entanto, observadores afirmam que é provável que seja apenas uma questão de tempo até que o al-Shabaab lance os seus próprios ataques com drones contra as forças de segurança na Somália. A ameaça significa que as autoridades na Somália, as forças de paz da União Africana e os países vizinhos, como Djibouti, Etiópia e Quénia, devem reforçar as suas defesas aéreas, de acordo com a analista Karen Allen, do Instituto de Estudos de Segurança da África do Sul.
“Possuir drones é importante para a projecção de poder dos grupos armados,” Allen escreveu recentemente. “As forças de paz sabem que, por enquanto, as espingardas de assalto ainda são a arma preferida na Somália. Mas partilhar tecnologia e conhecimentos com um interveniente fundamental na complexa guerra por procuração no Iémen pode redefinir o conflito no Corno de África e além.”