Os países africanos tornaram-se um campo de testes para tácticas de guerra híbrida nos últimos anos, um desenvolvimento que, segundo especialistas, exige que os países melhorem as suas defesas cibernéticas, fortaleçam os laços comunitários e tornem as populações mais resilientes a ataques.
“Os riscos são elevados,” Armand Badenhorst, antigo membro da Polícia Sul-Africana, escreveu recentemente no site defenceWeb. A informação falsa “pode incitar à violência, minar a confiança nas instituições e até mesmo comprometer operações militares.”
A disseminação de informações falsas faz parte de uma estratégia de guerra híbrida que combina tácticas militares convencionais com ataques cibernéticos e outros métodos não cinéticos destinados a semear a desconfiança e a discórdia entre a população de um país. Em última análise, o objectivo da guerra híbrida é explorar as vulnerabilidades das sociedades democráticas, minando os princípios que as sustentam.
A mistura de democracias frágeis, grupos étnicos por vezes antagónicos e economias delicadas da África Subsariana tornou esta região um local onde actores malévolos podem experimentar tácticas de guerra híbrida antes de as introduzir noutros locais, de acordo com os analistas Giovanni Faleg e Nad’a Kovalčíková, do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia.
A Rússia, por exemplo, já testou as suas próprias tácticas de guerra híbrida em vários países africanos, incluindo Argélia, Camarões, República Centro-Africana, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Etiópia, Gana, Guiné, Líbia, Madagáscar, Mali, Moçambique, Nigéria, República do Congo, África do Sul e Sudão.
“Os actores híbridos tendem a visar e explorar situações em que a fragilidade, o conflito e a violência estão a expandir-se,” escreveram recentemente Faleg e Kovalčíková.
A resposta aos ataques da guerra híbrida é multifacetada, mas centra-se na construção de uma sociedade imune a tais manipulações, afirmam os especialistas. Essa imunidade pode assumir a forma de legislação destinada a combater a informação falsa, comunicação intercultural que colmata as divisões sociais e étnicas e educação para ajudar as pessoas a reconhecer o tipo de manipulação inerente à guerra híbrida.
Nenhum país pode lutar para sair da guerra híbrida, de acordo com a analista Tinatin Khidasheli.
“As estratégias e doutrinas militares convencionais, muitas vezes, são inadequadas para lidar com a natureza multifacetada e difusa dessas ameaças, exigindo novas abordagens e maior colaboração entre sectores,” Khidasheli escreveu recentemente para a Fundação Friedrich Naumann para a Liberdade no Cáucaso do Sul, com sede na Geórgia.
Badenhorts também sugere construir a resiliência de uma nação contra a guerra híbrida por meio de:
- Fortalecimento das unidades de defesa cibernética dentro das forças armadas e serviços de segurança africanos para monitorar, detectar e combater operações de informação hostis.
- Promoção da cooperação regional para partilhar inteligência sobre ameaças híbridas e coordenar respostas.
- Criação de parcerias com plataformas tecnológicas para remover rapidamente conteúdos prejudiciais, salvaguardando a liberdade de expressão.
- Capacitação das comunidades para questionar narrativas suspeitas e verificar informações.
No cerne de uma estratégia de resiliência, dizem os especialistas, os países africanos devem superar os desafios criados pela rápida expansão do acesso à internet.
“A tecnologia e a conectividade ampliaram significativamente o alcance e o impacto das ameaças híbridas,” escreveu Khidasheli. “A capacidade de divulgar [informações falsas] amplamente, conduzir ataques cibernéticos sofisticados, explorar interdependências globais e coordenar operações em tempo real são factores-chave que tornam as ameaças híbridas particularmente desafiadoras na era moderna.”