As estratégias de combate ao terrorismo dos países africanos variam de combates em campos de batalha a caçadas de gato e rato no espaço cibernético. Mas há um aspecto do combate ao terrorismo que, segundo alguns especialistas, merece mais atenção: a influência que os terroristas presos podem ter sobre outros prisioneiros.
A preocupação, segundo o General Paul Phiri, comandante da Força de Defesa do Malawi, é que os terroristas espalhem a sua radicalização a outros prisioneiros, que depois a levarão de volta para a comunidade quando forem libertos.
“Precisamos de estabelecer melhores ligações entre as autoridades militares e prisionais,” Phiri disse à ADF durante uma entrevista na Conferência dos Chefes de Defesa Africanos, no início deste ano, em Nairobi, no Quénia. “As forças armadas precisam de aderir.”
O Malawi evitou os ataques terroristas que assolaram outros países africanos nas últimas décadas. Mas a ameaça está presente e a crescer, segundo especialistas em segurança.
No ano passado, o Serviço Nacional de Inteligência do Malawi (NIS, na sigla inglesa) relatou actividades terroristas no interior do país, incluindo tentativas do grupo Estado Islâmico (IS) de recrutar combatentes. Tal como muitos países africanos, o Malawi possui fronteiras porosas. Isso inclui a sua fronteira de 1.750 quilómetros com Moçambique, onde terroristas afiliados ao IS operam na província de Cabo Delgado.
A radicalização nas prisões é um problema mundial, de acordo com as Nações Unidas e o grupo de defesa Prison Reform International.
“A superlotação e as más condições, juntamente com os maus-tratos, são amplamente reconhecidas como causas de queixas, frustração e ressentimento entre as pessoas presas, e podem levar algumas a radicalizarem-se, levando à violência,” os especialistas da Prison Reform International escreveram num relatório de 2020.
Embora o terrorismo continue a ser uma questão menor no Malawi, as prisões superlotadas do país criam condições que podem levar à radicalização.
“Se não tivermos cuidado, pode tornar-se um terreno fértil,” disse Phiri.
Os terroristas não são criminosos “comuns,” o analista Peter R. Neumann observou num relatório sobre a radicalização nas prisões.
“Muitas vezes, usam o tempo na prisão para mobilizar apoio externo, radicalizar outros prisioneiros e, quando têm oportunidade, tentam recriar estruturas de comando operacional,” Neumann escreveu numa análise de 2010 para o Centro Internacional para o Estudo da Radicalização e da Violência Política.
Enquanto os líderes do Malawi procuram impedir que o extremismo violento se espalhe nas prisões, Moçambique oferece algumas ideias.
A luta contra o terrorismo em Cabo Delgado aumentou significativamente o número de reclusos nas prisões do Serviço Nacional Penitenciário de Moçambique (SERNAP). A população prisional cresceu de 18.000 em 2020 para mais de 22.000 em 2024, mais do triplo da sua capacidade.
As autoridades moçambicanas têm trabalhado com a ONU e as autoridades prisionais belgas para formar agentes penitenciários em práticas de reabilitação de prisioneiros associados ao terrorismo. Os esforços de desradicalização continuam em curso.
Um dos objectivos do SERNAP é desenvolver programas centrados na educação e em actividades culturais e desportivas nas prisões, para ajudar a reabilitar e reintegrar ex-prisioneiros.
Phiri gostaria que o sistema prisional do Malawi lançasse um sistema de programas psicológicos nas prisões como ferramenta de combate ao terrorismo. Ele disse que os ex-terroristas devem ser monitorados após a sua libertação da prisão.
“É preciso acompanhar as pessoas para ver o que estão a fazer depois de regressarem à sociedade,” sublinhou Phiri.