Em Setembro de 2024, o Coronel Assimi Goïta, líder da junta militar do Mali, viajou a Pequim para visitar a Norinco, uma empresa fabricante de armas. O Mali e a Norinco assinaram um acordo que fornecerá a Bamako equipamento militar, formação e tecnologia relacionada com a defesa.
De acordo com a Agência Anadolu, a entrega foi feita perto do fim de um embargo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental em 2022. Sadio Camara, Ministro da Defesa do Mali, expressou a sua gratidão: “Não esqueceremos este gesto.”
Analistas afirmam que Pequim se esforça para se tornar um actor importante na segurança africana — um reflexo dos seus esforços para expandir globalmente a sua influência diplomática e poder de persuasão. Embora a assistência do sector de segurança da China tenha como objectivo ajudar o Mali a combater o terrorismo, o pesquisador Paa Kwesi Wolseley Prah, pós-doutorando na Dublin City University, acredita que isso pode trazer consequências.
Segundo Prah, a dependência excessiva de soluções militares para os desafios de segurança corre o risco de agravar os conflitos e não aborda as causas profundas do conflito, tais como a coesão social e a governação local. A forte dependência da China expõe o Mali a potenciais perturbações no abastecimento, à diminuição do poder de negociação e a uma flexibilidade estratégica limitada.
“Isso também levanta preocupações sobre a influência potencial da China nas políticas de defesa e nos processos de tomada de decisão do Mali,” Prah escreveu no The Conversation. “Por sua vez, isso poderia consolidar a posição do governo militar do Mali. A China adopta uma abordagem de não intervenção nas estruturas de governação dos países com os quais se relaciona. As esperanças de democratização no país podem ser afectadas.”
Desde que assumiu o poder em Agosto de 2020, Goïta descumpriu as promessas de retorno ao regime democrático. Os líderes militares do Mali concederam recentemente a Goïta um mandato presidencial de cinco anos, renovável “quantas vezes for necessário” e sem necessidade de eleições.
O Mali é o quarto maior produtor de ouro do continente e a China também investe fortemente no seu sector mineiro. No entanto, isso acarreta riscos, visto que grupos terroristas, particularmente o Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) e o grupo Estado Islâmico, atacam locais de mineração de ouro, colocando em perigo os trabalhadores.
No dia 12 de Maio, um grupo armado matou três pessoas e sequestrou outras duas durante ataques a um local de mineração artesanal de ouro em Narena, cerca de 100 quilómetros a sudoeste de Bamako.
“Na madrugada de segunda-feira, terroristas realizaram dois ataques na comuna de Narena,” Mamadou Kanté, vice-prefeito de Narena, disse à Associated Press. “Primeiro, eles atacaram uma loja pertencente a cidadãos chineses. Sequestraram dois cidadãos chineses e queimaram as suas máquinas pesadas usadas na mineração de ouro.”
Kanté disse que os combatentes atacaram em seguida uma mina artesanal de ouro nas proximidades, matando um maliano e dois ganeses. Nenhum grupo reivindicou a responsabilidade pelo ataque, mas este foi semelhante aos levados a cabo pelo JNIM, afiliado à al-Qaeda.
Pequim está envolvida num projecto de exploração de lítio e urânio estimado em 130 milhões de dólares na cidade de Kidal e na comuna de Falea. A China também investiu em infra-estruturas no Mali, incluindo um projecto ferroviário de 2,7 bilhões de dólares que liga Bamako a Dakar, no Senegal. De acordo com Prah, a dívida do Mali para com a China pode agora ser de pelo menos 13 bilhões de dólares.
“Muitas vezes, isso tem sido criticado como “diplomacia da armadilha da dívida,” aumentando a dependência dos países beneficiários de Pequim,” escreveu Prah. “No Mali, acredito que isso corre o risco de consolidar a vulnerabilidade económica e dar à China influência geopolítica.”
O investigador afirmou que o Mali deveria publicar relatórios regulares sobre a assistência ao sector de segurança, colaborar com a China para integrar essa assistência com abordagens de segurança lideradas por civis e diversificar as suas parcerias de segurança e económicas.
“Promover a integração económica regional e os laços com potências globais reforçará a resiliência económica do Mali,” escreveu Prah.