Independentemente de Awamo Mitterrand ter sido enganado ou coagido a alistar-se no exército russo, ele foi enviado para a linha da frente na Ucrânia e morto em combate a 26 de Fevereiro, com o corpo abandonado pelos russos numa floresta.
O site de notícias CamerounWeb publicou a reportagem em Março, juntamente com um comentário editorial: “Este é o enésimo camaronês a morrer no auge da vida no exército russo. Esta situação deve servir de alerta para os jovens camaroneses que decidirem aceitar esta oportunidade envenenada.”
Nos últimos meses, tem surgido um fluxo constante de publicações em sites e plataformas de redes sociais nos Camarões de pessoas que procuram informações sobre amigos ou familiares que se alistaram no exército russo e depois deixaram de comunicar. Muitas vezes, as mensagens são acompanhadas por fotografias de homens africanos vestidos com fardas russas.
“O meu amigo foi para a Rússia… e há quase quatro meses que não temos notícias dele,” disse um deles. “Gostaríamos de saber se ele ainda está vivo ou morto.”
Algumas publicações são actualizadas para explicar que a pessoa desaparecida foi morta na guerra da Rússia na Ucrânia. Um camaronês que se identifica como N’zui Manto reuniu muitas dessas histórias. O CamerounWeb refere-se a Manto como um denunciante e no dia 27 de Maio informou que Manto disse que pelo menos 65 camaroneses foram mortos na guerra.
Usando intermediários e recrutadores, a Rússia está a recrutar as forças armadas de países da África Ocidental para lutar na sua guerra contra a Ucrânia, agora no seu terceiro ano. De acordo com o Instituto de Estudos de Segurança (ISS), as Forças Armadas dos Camarões (FAC) estão a ser visadas devido à sua transformação numa força de trabalho qualificada. Os soldados possuem conhecimentos técnicos valiosos e têm uma sólida experiência no combate ao terrorismo, à pirataria e a outras ameaças à segurança.
Raoul Sumo Tayo, investigador do ISS, com sede na África do Sul, afirmou que as FAC não podem dar-se ao luxo de perder soldados para a Rússia enquanto continuam a travar a sua difícil guerra contra organizações militantes extremistas nas regiões noroeste e sudoeste.
“Embora não existam estatísticas oficiais sobre as taxas de deserção, a situação é preocupante para um país que enfrenta ameaças do Boko Haram no norte, rebeldes da República Centro-Africana no leste, pirataria marítima ao longo da costa e a crise anglófona no oeste,” escreveu num artigo publicado a 2 de Abril pelo ISS.
O ISS entrevistou os camaroneses que descreveram uma rede local activa de recrutadores que a Rússia tem usado para atrair e recrutar pessoas. Aproveitando-se de uma grande diferença salarial, os desertores das FAC disseram ao ISS que lhes foram prometidos salários mensais de 1.976 a 2.479 dólares, enquanto especialistas ganhariam pelo menos 3.294 dólares por mês.
Fontes da inteligência militar britânica relataram de forma semelhante um bónus de assinatura de 2.000 dólares, um salário mensal de 2.200 dólares e a promessa de um passaporte russo.
Com salários militares consideravelmente mais baixos em comparação, os Camarões estão a tomar medidas para proteger o seu investimento em soldados altamente treinados e qualificados.
Num comunicado de 7 de Março, o Ministro da Defesa dos Camarões, Joseph Beti Assomo, anunciou que todo o pessoal militar estava proibido de sair do país.
“Na sequência de informações fiáveis e concordantes relativas à partida clandestina de certos elementos das forças de defesa e segurança, tomem todas as disposições urgentes e adequadas para garantir o controlo reforçado dos homens nas vossas fileiras,” disse o ministro.
Tayo disse que as autoridades camaronesas também estão preocupadas com o risco associado aos desertores que podem regressar como veteranos experientes em combate.
“Tendo adquirido experiência de combate na Ucrânia, eles poderiam usar as suas competências operacionais e capacidades de combate de alta intensidade contra os interesses de segurança dos Camarões,” escreveu.
Os soldados camaroneses que tiveram a sorte de sobreviver aos horríveis combates na Ucrânia podem regressar com problemas mentais de stress pós-traumático, o que pode prejudicar o tecido social das comunidades locais.
Especialistas em segurança alertam que restringir os movimentos dos soldados não resolverá o problema da deserção e recomendam que as autoridades camaronesas persigam as próprias redes de recrutamento que estão a subverter as forças de segurança do país.