À medida que as missões de manutenção da paz são reduzidas ou encerradas em África, a Força de Defesa do Ruanda (RDF) está a ganhar reputação por intervir para preencher eficazmente as lacunas de segurança.
Na República Centro-Africana, desde 2020, a RDF protegeu altos funcionários de grupos rebeldes, treinou jovens soldados centro-africanos e destacou mais de 2.000 soldados para a missão de manutenção da paz das Nações Unidas no país. O Brigadeiro-General Ronald Rwivanga, porta-voz da RDF, disse que a situação de segurança na RCA agora está “relativamente calma.”
“Repelimos com sucesso os rebeldes,” Rwivanga disse ao The Africa Report. “Estamos a proteger o presidente, a cidade de Bangui e alguns locais ao redor da capital, como as casas [do presidente] em Damara.”
Na província de Cabo Delgado, em Moçambique, as forças ruandesas têm garantido a segurança desde 2021 e permaneceram no país após a partida da Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral em Moçambique. As forças ruandesas em Moçambique cresceram de 1.000 para cerca de 5.000, e as suas operações expandiram-se para cobrir cinco distritos, de acordo com o Instituto de Estudos de Segurança, com sede em Pretória.
Os terroristas ainda lançam ataques esporádicos, mas Rwivanga disse que a situação de segurança em Cabo Delgado está estável, dado que a RDF ajuda a forçar os insurgentes a recuar para as florestas densas.
“A mudança para as florestas em busca de segurança prejudicou os insurgentes, porque cortámos o seu acesso ao Oceano Índico, uma rota essencial para se conectarem com as grandes redes do ISIS que operam em África,” Rwivanga disse à Agência de Informação de Moçambique, a agência noticiosa nacional do país. “Todas as áreas costeiras foram limpas. Bloqueámos o acesso a alimentos e comunicações.”
A disposição do Ruanda de enviar tropas por conta própria é única num continente onde a maioria das intervenções é multilateral. Alguns países vêem isso como uma vantagem.
“Ao contrário das forças multilaterais de manutenção da paz, que exigem mecanismos burocráticos pesados, o Ruanda pode enviar tropas rapidamente,” Federico Donelli, professor assistente de relações internacionais da Universidade de Trieste, na Itália, escreveu para o The Conversation. “Em segundo lugar, o envolvimento das tropas ruandesas ao abrigo de um acordo bilateral parece mais fácil de gerir do que um exército multinacional ao abrigo de uma organização regional ou internacional.”
O analista e advogado ruandês Gatete Nyiringabo Ruhumuliza considera as mobilizações do país, que denomina “missões bilaterais orientadas por valores,” como o próximo passo lógico nas intervenções.
“O futuro da manutenção da paz é bilateral,” Nyiringabo disse ao The Africa Report. “Ruanda é pioneira nisso — na RCA e em Cabo Delgado.”
O Ruanda também contribui com cerca de 1.650 soldados para a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul. Eles realizam patrulhas de segurança, protegem civis e pessoas deslocadas internamente, fornecem apoio logístico humanitário e realizam trabalhos civis-militares, como assistência médica e workshops educativos, ao mesmo tempo que trabalham em projectos de infra-estruturas.
O sucesso nessas e noutras missões reforça a reputação da RDF como uma força forte, disciplinada e com conhecimentos tecnológicos, composta por cerca de 35.000 soldados.
“O Ruanda quer mudar a sua imagem global de um país marcado pelo genocídio para um país que ascendeu a uma posição de influência no continente,” Donelli escreveu num artigo publicado pela The Conversation. “Projecta a imagem de um provedor de segurança continental.”