Os desafios de segurança que o continente africano enfrenta no século XXI são demasiado grandes para que qualquer nação os possa enfrentar sozinha, o que torna a cooperação regional e a unidade continental imperativas para o futuro.
Essa foi a mensagem que os principais líderes militares africanos ouviram repetidamente durante a cimeira dos Chefes de Defesa Africana (ACHOD) de 2025, realizada em Nairobi, Quénia, no final de Maio. A conferência reuniu representantes de 36 países africanos, juntamente com os seus parceiros internacionais, para vários dias de discussões francas e interacções presenciais.
Entre os participantes estavam líderes do Mali, Níger e Somália — três países que estão activamente envolvidos na luta contra grupos terroristas no seu próprio território.
Do terrorismo ao tráfico de drogas e de pessoas, da pesca ilegal à caça ilegal de animais selvagens, os desafios de segurança da África atravessam fronteiras porosas, exploram lacunas na segurança governamental e geram conflitos entre regiões. Ao abordar essas questões, as forças de segurança africanas podem criar um ambiente para o continente prosperar, afirmaram os participantes.

“Este é um apelo à acção,” o Major-General Molefi Seikano, director dos serviços de apoio geral da Força de Defesa do Botswana, disse em entrevista à ADF. “O terrorismo é uma ameaça global. Não tem nenhum campo de batalha tradicional.”
O Major-General Ramanka Mokoloba, chefe do comando de logística e serviços de apoio da Força de Defesa do Lesoto, ecoou o tema da conferência.
“Nenhum país pode fazer isso sozinho,” disse à ADF. “É por isso que precisamos de cooperação. Quando se tem paz e segurança, isso significa que o resto (da sociedade) pode prosperar.”
O presidente do Quénia, William Ruto, reforçou esse ponto quando se dirigiu aos líderes reunidos. Com 60% da sua população com menos de 25 anos, África pode desempenhar um papel global vital nas próximas décadas se conseguir superar os obstáculos que a impedem de tirar o máximo partido dos recursos humanos e naturais, afirmou.
“África encontra-se num momento crucial, pronta para aproveitar o seu vasto potencial e moldar um futuro próspero,” disse Ruto. “No entanto, todos nós também devemos enfrentar os desafios persistentes que impedem o nosso futuro.”
Esses desafios exigem que os países africanos repensem a sua abordagem à cooperação em matéria de segurança.
“A segurança vai além das fronteiras de qualquer país,” argumentou Ruto. “A realidade é que a nossa segurança está interligada. Quando um país ou região vacila, o efeito em cascata transcende as fronteiras, afectando os meios de subsistência, as economias e as perspectivas de desenvolvimento.”
Os quenianos conhecem em primeira mão a realidade da afirmação de Ruto, principalmente nos condados do Nordeste, onde os residentes têm sido repetidamente vítimas de ataques dos combatentes do al-Shabaab que atravessam a fronteira da Somália.

Alguns desses ataques tiveram como objectivo dissuadir as Forças de Defesa do Quénia de participar em operações multinacionais de manutenção da paz na Somália. O reforço das parcerias entre as instituições de defesa do continente ajudará a aprofundar a unidade geral de África, afirmou Ruto.
Para o Major-General Manantsoa Deramasinjaka, Chefe do Estado-Maior do Madagáscar, as ligações pessoais estabelecidas na cimeira ACHOD foram uma razão importante para se juntar aos seus colegas chefes de defesa em Nairobi.
“O melhor é o intercâmbio com os nossos parceiros,” disse por meio de um intérprete. “Como somos uma ilha, é importante mitigar as ameaças com os nossos parceiros, porque não temos tanta capacidade.”
Tal como muitas nações africanas, o Madagáscar enfrenta ameaças à sua segurança marítima e trabalha com outras nações insulares, incluindo Maurícias e Seychelles, para monitorar vastas áreas do Oceano Índico ocidental que compartilham.
O Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Libéria, Major-General Davidson Forleh, salientou o papel que a cooperação transfronteiriça com a Costa do Marfim e a Serra Leoa tem desempenhado na segurança das águas costeiras da Libéria e no combate à pirataria e à pesca ilegal no Golfo da Guiné ocidental.
Forleh disse que as ligações pessoais que surgem de encontros como a cimeira ACHOD fazem com que esse tipo de colaboração funcione sem percalços.
“É muito importante revitalizar as relações entre os países,” disse Forleh. “Os africanos têm de trabalhar em estreita colaboração para reforçar a sua segurança.”