O Boko Haram e a Província do Estado Islâmico na África Ocidental (ISWAP) começaram a usar drones armados e bombas à beira da estrada, numa altura em que a violência aumenta no nordeste da Nigéria.
Pelo menos 22 pessoas foram mortas e várias outras ficaram feridas em dois ataques nos Estados de Borno e Adamawa durante três dias no final de Abril. Na área de Gwoza, em Borno, militantes mataram 10 civis um dia depois de matar dois membros da Força-Tarefa Conjunta Civil.
“Eles foram a um matagal próximo em busca de lenha no sábado, quando os rapazes [insurgentes] os emboscaram e mataram dez, deixando dois com ferimentos graves,” Mohammed Shehu Timta, emir da região, referindo-se aos 10 civis, disse numa reportagem do jornal nigeriano Punch.
Não ficou claro que grupo ou grupos cometeram o ataque.
No distrito de Hong, em Adamawa, homens armados que se acreditam ser membros do Boko Haram mataram 10 pessoas e feriram várias outras na aldeia de Kopre, segundo a Reuters. Posteriormente, o porta-voz da polícia regional, Suleiman Yahaya Nguroje, disse num comunicado de imprensa que mais agentes da polícia e soldados foram enviados para reforçar a segurança em Kopre.
O governador do Estado de Borno, Babagana Zulum, alertou no início de Abril que o Boko Haram havia desalojado algumas formações militares em vários distritos e matado civis e forças de segurança.
“É um revés no frágil Estado de Borno e na região Nordeste,” Zulum disse às forças de segurança, segundo a Reuters. “Os novos ataques e sequestros do Boko Haram em muitas comunidades, quase diariamente sem confronto, sinalizaram que o Estado de Borno está a perder terreno.”
Analistas dizem que o aumento dos ataques ocorreu em meio a uma trégua nos combates entre o Boko Haram e a ISWAP. Os grupos ocasionalmente realizam operações conjuntas. No dia 25 de Março, o Boko Haram e a ISWAP mataram 12 soldados camaroneses e feriram outros 10 num ataque a uma base militar na cidade fronteiriça de Wulgo, no Estado de Borno.
O Ministério da Defesa dos Camarões afirmou que os grupos terroristas utilizaram “armamento avançado que têm cada vez mais à sua disposição.” Entre as armas utilizadas encontravam-se drones carregados com explosivos.
“O ataque em Wulgo é um sinal do ressurgimento do poder destes combatentes,” o jornalista Franck Foute escreveu para a Jeune Afrique.
Analistas afirmam que o uso de drones armados sugere que a ISWAP está a receber mais financiamento do grupo Estado Islâmico (IS).
Vincent Foucher, investigador do Centro Nacional de Investigação Científica da França, que entrevistou ex-combatentes, disse que há relatos de que os conselheiros do IS foram enviados para ajudar os combatentes da ISWAP no terreno.
“Eles podem melhorar as tácticas, e vimos o uso de drones e explosivos e ataques em grande escala,” Foucher disse à Reuters. “Isso pode ser interpretado como o impacto dos conselhos do Estado Islâmico.”
Também no dia 25 de Março, combatentes do Boko Haram e da ISWAP atacaram uma base do Exército na área de Wajiroko, no Estado de Borno. Um soldado em Wajiroko disse à Reuters que pelo menos quatro soldados foram mortos e vários outros ficaram feridos, incluindo o comandante da brigada. Os atacantes também incendiaram veículos de patrulha militar.
“Ambos os grupos tornaram-se um pouco mais ousados e mostraram que possuem tecnologia sofisticada,” James Barnett, pesquisador do Instituto Hudson que realiza trabalho de campo sobre insegurança na Nigéria, disse à Reuters.
Malik Samuel, pesquisador sénior do grupo de reflexão de segurança Good Governance Africa, disse que os grupos também são resilientes e adaptáveis às tácticas militares.
“O seu ressurgimento actual reflecte períodos anteriores em que eles levaram a luta para o exército, em vez de esperar que o exército atacasse antes de repeli-los,” Samuel disse à Reuters.
Os grupos terroristas também estão a adoptar novos métodos de financiamento. A ISWAP actualizou o seu manual financeiro, transformando partes do nordeste da Nigéria numa economia impulsionada por conflitos através de uma mistura complexa de tributação, extorsão, contrabando e justificação ideológica, informou a HumAngle.
Ambos os grupos também recorreram à dark web para gerar receitas, explorando o anonimato das criptomoedas para fugir da vigilância financeira tradicional. Eles usam plataformas como Monero, uma página de criptomoedas digitais com recursos de privacidade aprimorados, para solicitar doações.