A violência islâmica militante no Burquina Faso, Mali e Níger continua a expandir-se para oeste e sul, ameaçando as nações costeiras desde a Mauritânia à Nigéria.
A violência ligada a grupos terroristas afiliados à al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico (IS) tem aumentado constantemente em escala e alcance nos últimos anos. As mortes relacionadas a esses grupos são mais de duas vezes e meia superiores aos níveis registados em 2020, quando ocorreu o primeiro golpe militar no Mali, informou o Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS). O aumento da insegurança também ocorreu após golpes subsequentes em Burquina Faso e Níger.
“A continuação da expansão para sul e oeste dos grupos militantes islâmicos está a aumentar a pressão nas fronteiras de todos os países costeiros da África Ocidental,” informou o ACSS. “Isso exigirá a redobrada proatividade das medidas de segurança e de aproximação governamental nas regiões do norte destes países, a fim de mitigar esta ameaça e manter a linha.”
As mortes relacionadas com a violência de grupos militantes islâmicos num raio de 50 quilómetros ou além das fronteiras da costa da África Ocidental aumentaram de 1.601 para 2.036 entre 2023 e 2024, de acordo com o ACSS. O maior aumento ocorreu no Mali, onde as mortes relacionadas com grupos militantes islâmicos num raio de 50 quilómetros das suas fronteiras com a Guiné, Mauritânia e Senegal passaram de 23 em 2023 para 125 no ano passado.
Na costa da África Ocidental, a maior parte da violência ocorre no Benin e no Togo, que registaram 153 e 96 mortes relacionadas com grupos militantes islâmicos, respectivamente, em 2024. Esta tendência continuou a espalhar-se este ano.
Em meados de Abril, o grupo Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), afiliado à al-Qaeda, reivindicou a responsabilidade por um ataque que matou 54 soldados beninenses perto das fronteiras do país com o Burquina Faso e o Níger. Este foi o ataque terrorista mais mortífero desde que os insurgentes começaram a operar no norte do Benin há vários anos.
Wilfried Leandre Houngbedji, porta-voz do governo beninense, afirmou que o país está determinado a combater os jihadistas. “Não vamos ceder… Posso garantir que, mais cedo ou mais tarde, mais cedo ou mais tarde, vamos vencer,” Houngbedji disse numa reportagem da BBC.
No sudoeste do Burquina Faso, grupos ligados ao JNIM continuaram a ameaçar o norte da Costa do Marfim, onde o número de mortes relacionadas com os grupos aumentou de 267 em 2023 para 361 em 2024.
O JNIM e o seu ramo, a Frente de Libertação de Maçina (FLM), estabeleceram uma fortaleza no centro do Mali. A partir daí, a FLM expandiu-se mais profundamente para o sul do Mali e para o Burquina Faso. De acordo com a Reuters, os terroristas que combatem no Burquina Faso também estão a usar a zona fronteiriça sul com o Gana como base logística e médica.
Outros contingentes do JNIM, como Ansaroul Islam e Katiba Hanifa, têm mantido as suas actividades no norte e leste do Burquina Faso e expandido mais para sul, para as zonas fronteiriças do Togo e do Benin.
Katiba Hanifa está estabelecida no sudeste do Burquina Faso, onde usa refúgios na reserva W-Arly-Pendjari (WAP) para se infiltrar no Benin e no Togo, enquanto se expande mais para oeste no Burquina Faso, ao longo das fronteiras com o Gana e o Togo, informou o ACSS. No ano passado, o grupo ameaçou o comércio ao atacar redes viárias e importantes postos fronteiriços, como Gaya, no Níger. Se o grupo conseguir expandir-se pelo sul do Burquina Faso, Ouagadougou, a capital nacional, ficaria cercada
As mortes relacionadas a grupos militantes islâmicos na região leste do Burquina Faso — incluindo o complexo WAP e as fronteiras com Benin, Níger e Togo — quase triplicaram nos últimos dois anos, chegando a 1.472 mortes, de acordo com o ACSS. Na região centro-leste, na fronteira com o Gana e o Togo, as mortes relacionadas com grupos islâmicos militantes aumentaram 266%, para 612 mortes durante o mesmo período.
A partir do seu reduto na região de Ménaka, no norte do Mali, o Estado Islâmico no Grande Sahara (ISGS) intensificou os seus ataques violentos no oeste do Níger, onde as mortes causadas pela violência militante islâmica aumentaram 66%, para 1.318, no último ano, informou o ACSS. O ISGS manteve a pressão no norte do Mali e no norte do Burquina Faso, onde ocasionalmente combate o JNIM.
Dezenas de ataques extremistas violentos também foram relatados no sul do Mali, a menos de 50 quilómetros das fronteiras com a Guiné, a Mauritânia e o Senegal. Até recentemente, estas áreas tinham registado pouco ou nenhum terrorismo.