Com várias detenções no último ano, a Libéria é o mais recente país da África Ocidental a reprimir as operações de mineração ilegal conduzidas por cidadãos chineses.
O senador Albert Tugbe Chie condenou recentemente os danos económicos e ambientais causados por mineiros não regulamentados, incluindo a degradação do solo e a poluição dos rios por operações de dragagem, que são proibidas pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
“Estas actividades não só são ilegais, como também roubam ao condado e ao país receitas muito necessárias, deixando para trás uma devastação ambiental,” afirmou durante um discurso proferido a 10 de Abril em Barclayville, de acordo com o site de notícias The Liberian Investigator.
No vizinho Gana, onde a mineração ilegal é conhecida como galamsey, o governo tem enfrentado dificuldades semelhantes com o impacto económico e ambiental da mineração ilegal chinesa. As autoridades prenderam e deportaram dezenas de cidadãos chineses nos últimos meses.
Na Libéria, a mineração é fundamental para a economia, representando cerca de 15% do produto interno bruto do país. Em 2023, o sector de mineração contribuiu com 665,4 milhões de dólares para o PIB, um aumento em relação aos 621,8 milhões de dólares em 2022. Ouro, diamantes e minério de ferro são as principais exportações minerais da Libéria.
Em Agosto de 2024, a Agência de Protecção Ambiental da Libéria fechou a China Union’s Bong Mines por construir uma fábrica de processamento de minério de ferro sem licença, operar sem licença de descarga de efluentes e descarregar ilegalmente rejeitos num pântano.
Em Outubro de 2024, as autoridades suspenderam temporariamente a produção novamente e prenderam 19 imigrantes chineses que não possuíam autorização de trabalho válida na TXT Mineral Resources Limited, uma subcontratada da Bong Mines.
Embora o ferro seja extraído em escala industrial na Libéria, os cidadãos e as autoridades estão cada vez mais frustrados com as operações de mineração ilegal em pequena escala realizadas por chineses. O governo respondeu com uma ampla iniciativa para reprimir a mineração ilegal, fazer cumprir os regulamentos e proteger os recursos naturais.
No ponto crítico da mineração ilegal no condado de Rivercess, o MME ordenou que a Hongtu Mining Limited, em Mat House Town, cessasse as operações no dia 20 de Março. Quando a empresa ignorou a ordem, as autoridades confiscaram o seu equipamento e prenderam cinco cidadãos chineses em Abril.
“Esta é uma mensagem clara para todos os envolvidos na mineração ilegal: os recursos naturais da Libéria devem ser explorados de forma legal e responsável,” disse o inspector-geral do MME, Agatius Coker, de acordo com o blogue de notícias Geez Liberia. “Não toleraremos empresas ou indivíduos que desrespeitem as nossas leis para obter ganhos pessoais.”
Num editorial de 23 de Abril intitulado “Os dias de impunidade para os mineiros ilegais estão a chegar ao fim,” o jornal liberiano The Inquirer disse que as detenções foram “bem-vindas e tardias.”
“Por muito tempo, a riqueza mineral da Libéria foi desviada por meio de operações obscuras que prejudicam as comunidades locais, enganam o tesouro e corroem a confiança no Estado de direito,” afirmou. “Um país abençoado com ouro e diamantes não deveria ter seus rios entupidos com sedimentos e suas florestas marcadas por escavações ilegais.”
Um ponto de viragem pode ter ocorrido em 2024, quando um chinês chamado Gao Feng, considerado o líder de um cartel de mineração ilegal, foi indiciado juntamente com vários compatriotas por sabotagem económica, evasão fiscal e conspiração criminosa.
Na capital, Monróvia, a polícia liberiana prendeu Feng, Zheng Yi, Li YingJun e Mo HaiLong quando estes se entregaram no dia 23 de Julho. Sob condição de anonimato, um alto funcionário do Ministério da Justiça disse ao jornal Daily Observer da Libéria que a acusação foi um desenvolvimento significativo na luta do país contra a mineração ilegal.
“[Feng] e os seus homens não podiam sair do país e não podiam mais se esconder porque selámos todos os pontos de saída com informações sobre eles,” a fonte disse no dia 24 de Julho. “Agora eles sabem que terão de enfrentar a justiça neste país. Eles responderão às perguntas e prestarão contas das suas acções de acordo com as leis da Libéria.”
A acusação revelou que a operação de Feng utilizou mais de 100 escavadoras e 50 instalações industriais de lavagem de minerais em toda a Libéria durante seis anos, custando ao país mais de 29 milhões de dólares em receitas do governo.
“Faremos tudo o que pudermos para levar [Feng] e os seus homens à justiça por saquear os recursos deste país durante todos esses anos,” disse o funcionário. “Eles não ficarão impunes.”