Angola fez progressos significativos na remoção de minas terrestres e outros engenhos explosivos remanescentes da guerra civil que durou 27 anos no país. Estes esforços tornaram áreas anteriormente perigosas seguras para a agricultura, habitação e projectos de desenvolvimento comunitário, mas ainda há trabalho a fazer.
Espera-se que as províncias de Benguela e Huambo, em Angola, fiquem completamente livres de minas este ano. Benguela fica no oeste de Angola, na costa atlântica. Huambo fica no centro de Angola.
O Brigadeiro-General Leonardo Severino Sapalo, director-geral da Agência Nacional de Acção Contra as Minas de Angola, falou sobre o progresso após uma visita de uma delegação multinacional de diplomatas para ver o trabalho da Halo Trust, uma organização não-governamental do Reino Unido que ajudou a destruir mais de 120.000 minas terrestres em Angola desde 1994.
Cerca de 975 campos minados no país ainda precisam de ser limpos. A desminagem custa cerca de 3,10 dólares por metro quadrado, e outros 240 milhões de dólares são necessários para concluir o trabalho, Sapalo disse numa reportagem da Reuters.
Cerca de 192 dos campos minados restantes estão próximos à Ferrovia de Benguela, que liga Angola a países vizinhos, como a República Democrática do Congo (RDC) e a Zâmbia. A remoção de minas ao longo da ferrovia permitirá que bens e serviços de Angola e outros países africanos circulem pela ferrovia, além de possibilitar investimentos em infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias.
“A ferrovia foi completamente desminada para que possa ser reabilitada,” Sapalo disse na reportagem da Reuters. “O comboio circula normalmente, mas há áreas específicas que ainda não foram completamente limpas de minas. O trabalho não está parado, mas precisamos de o dinamizar.”
De acordo com a Halo Trust, o processo de desminagem ao longo do Corredor do Lobito já neutralizou 43.142 minas antipessoal, 2.460 minas antitanque e 235.050 outros explosivos.
A Halo e outras organizações do Reino Unido, bem como da Bélgica, Japão e Noruega, trabalham com a Comissão Nacional de Desminagem e Assistência Humanitária e o Instituto Nacional de Desminagem de Angola para eliminar os campos minados.
Os campos minados e outros engenhos explosivos não detonados são, na sua maioria, resquícios da guerra civil angolana, que terminou em 2002. As minas foram colocadas esporadicamente por agentes estrangeiros e nacionais em campos, aldeias e cidades, matando e ferindo milhares de pessoas. De acordo com as Nações Unidas, cerca de 15.000 civis em Angola são mortos ou mutilados por minas todos os anos. A maioria das minas foi colocada sem marcação ou mapeamento adequados, o que complica a sua remoção.
Este flagelo faz deslocar as pessoas das suas residências, impede os agricultores de trabalhar nos seus campos e paralisa o desenvolvimento.
O trabalho de desminagem começa com levantamentos para identificar os campos minados. Em seguida, os desminadores demarcam blocos, limpam a vegetação rasteira e utilizam detectores de metal para identificar e neutralizar as minas. Ratos especialmente treinados são frequentemente utilizados para farejar explosivos escondidos. Estes animais são leves, por isso, não accionam as minas e podem cobrir rapidamente grandes áreas.
Os esforços de desminagem de Angola concentraram-se inicialmente nas capitais regionais e nas cidades, mas agora estão principalmente concentrados nas zonas rurais das províncias que rodeiam o Corredor do Lobito, incluindo Cuando Cubango, Cuanza Sul, Lunda Norte, Lunda Sul e Moxico.
As equipas de sensibilização comunitária da Halo também visitaram aldeias perto da cidade de Cuemba, na província de Bié, no centro de Angola, para ministrar aulas de educação sobre riscos. As equipas de neutralização de engenhos explosivos respondem quando são descobertos projécteis, granadas e bombas antigas.
Helena Kasongo, que trabalha para o Mines Advisory Group, é mãe de uma filha pequena e compreende que as crianças, muitas vezes, são vítimas de explosões. Kasongo recordou um incidente ocorrido em 2023, no qual uma menina de 6 anos morreu e outras seis ficaram feridas devido a uma explosão na província oriental de Moxico, na fronteira com a RDC e a Zâmbia. As crianças brincavam com uma bomba não detonada que encontraram num campo.
“Esta é uma história que todos conhecemos muito bem,” Kasongo disse à BBC. “Não há ninguém em Angola que não conheça alguém que tenha sido ferido. Precisamos de parar este ciclo para o bem do nosso povo e da nossa nação.”
Em Agosto de 2024, três crianças foram mortas e seis ficaram feridas após a explosão de uma granada na província de Luanda, na costa atlântica, no norte de Angola. Segundo relatos, as crianças encontraram uma granada de mão num caixote do lixo em Cacuaco, a cerca de 20 quilómetros de Luanda, a capital do país. A granada explodiu segundos depois de um dos rapazes ter puxado o rastilho.