Os extremistas da Província da África Ocidental do Estado Islâmico começaram a utilizar drones armados nos seus ataques contra as forças governamentais na Bacia do Lago Chade, marcando uma grande mudança de táctica para o grupo terrorista.
Tal como muitos outros extremistas, o grupo também conhecido como ISWAP utilizava anteriormente pequenos drones disponíveis no mercado para recolha de informações e criação de vídeos de propaganda. Os combatentes utilizaram drones para monitorizar os movimentos das tropas e para filmar as suas forças em campos de treino, como forma de recrutar novos membros.
Em 2022, a ISWAP divulgou um vídeo que mostrava imagens aéreas de campos e veículos militares que afirmava ter filmado com recurso a drones para espiar o exército nigeriano e a Força-Tarefa Conjunta Multinacional (MNJTF).
Em Dezembro de 2024, porém, a ISWAP subiu de tom ao lançar quatro drones armados com granadas contra a Base Operacional Avançada de Wajiroko do exército nigeriano, na região nordeste de Damboa. Os drones estiveram envolvidos num ataque em duas partes contra a base, que também recorreu a ataques terrestres convencionais que feriram cinco soldados.
Seguiram-se dois outros ataques com drones armados em Damaturu, no Estado de Yobe e em Abadam, no Lago Chade.
“A utilização de drones armados em operações no campo de batalha é uma nova e perigosa fase da insurgência da ISWAP, que desafia as actuais estratégias de combate ao terrorismo na região,” o analista Taiwo Adebayo escreveu para o Instituto de Estudos de Segurança, sediado na África do Sul. “Isso representa uma evolução perturbadora nas tácticas e na sofisticação e levanta a questão de como as forças regionais se podem adaptar a esta nova guerra.”
O Centro Nacional de Combate ao Terrorismo da Nigéria lançou uma revisão da sua estratégia antiterrorista no início deste ano para fazer face a ameaças como os drones nas mãos da ISWAP e de outros grupos terroristas.
“As tácticas utilizadas pelos actores não estatais continuam a evoluir e tornaram-se altamente imprevisíveis,” o Major-General Adamu Garba Laka, coordenador nacional do centro antiterrorismo, disse numa reunião das partes interessadas em Abuja, em Fevereiro.
Em muitos casos, os combatentes da ISWAP compram quadricópteros e outros pequenos drones disponíveis no mercado e destinados para uso civil. As fronteiras porosas da região facilitam o transporte dos drones e de outros equipamentos para as bases da ISWAP. Como outros grupos terroristas têm feito, os combatentes da ISWAP modificam os drones para transportar pequenos explosivos que podem lançar sobre alvos ou utilizar em ataques kamikaze.
De acordo com o projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, os actores não estatais, como a ISWAP, estão a ultrapassar os governos nacionais na corrida para acrescentar drones aos seus arsenais. Entre 2018 e 2023, o número de grupos não-estatais que cometeram pelo menos um ataque com drones aumentou 1.400%, de seis para 91.
O fácil acesso a drones dá aos actores não estatais uma ferramenta importante para a guerra assimétrica, de acordo com o investigador Rhordan Stephens, do Instituto para a Economia e a Paz.
Ao utilizar drones, a ISWAP aumenta a sua capacidade de lançar ataques de grande impacto, minimizando os danos potenciais para o seu próprio lado. “O grupo pode transformar postos militares avançados e locais civis relativamente seguros em alvos precários,” escreveu Adebayo.
Isso daria à ISWAP mais do que uma vantagem táctica — teria uma poderosa vantagem psicológica contra alvos militares e civis, escreveu Adebayo.
O aparecimento de drones armados no campo de batalha é um novo desafio para a MNJTF, que é composta por tropas dos Camarões, Chade, Níger e Nigéria. Em resposta à utilização de drones armados pela ISWAP, os membros da força-tarefa estão a explorar formas de contrariar a tecnologia. A Nigéria, por exemplo, adoptou um dispositivo fabricado na Lituânia, o EDM4S SkyWiper, que bloqueia os sinais de controlo dos drones, interrompendo a sua transmissão de dados e sinais de navegação. Apontando o SkyWiper a um drone que se aproxima, os utilizadores podem fazer com que o drone se despenhe ou regresse ao seu ponto de partida.
Apesar da chegada da tecnologia anti-drone, o afluxo de drones para o lado da ISWAP no campo de batalha do Lago Chade continua a ser uma preocupação para muitos observadores.
“É a realidade da segurança emergente,” o analista de segurança nigeriano, Chidi Omeje, disse à Voz da América. “Eles têm estas ligações com redes terroristas, por isso, vão naturalmente desenvolver estas competências. Por isso, cabe-nos a nós conceber formas de contrariar as tecnologias que eles estão a utilizar.”