Os rebeldes Houthis do Iémen estão a aumentar o seu apoio ao al-Shabaab na Somália, aumentando potencialmente os riscos de segurança ao longo das rotas comerciais do Médio Oriente.
Isso é o que afirma um relatório de Março do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), que disse que a parceria poderia aumentar a capacidade do al-Shabaab de atacar navios com drones ou mísseis. Os Houthis também podem estar a fornecer treino militar ao grupo terrorista.
“Os Houthis pretendem fornecer ao al-Shabaab armamento mais avançado que lhes permita atacar navios no Golfo de Áden,” um assessor sénior do líder da Frente de Resistência Nacional do Iémen disse no relatório.
Os Houthis, apoiados pelo Irão, e o al-Shabaab estão afiliados à al-Qaeda. O al-Shabaab vê os drones fabricados pelos Houthis e as armas fabricadas pelo Irão como uma forma de recuperar o controlo da costa. Os Houthis vêem a sua aliança com o al-Shabaab como uma forma de projectar a sua influência e, por extensão, a influência do Irão em todo o Mar Vermelho e no Corno de África, afirmam os especialistas.
Embora ainda não haja provas directas de transferências significativas de armas dos Houthis para o al-Shabaab, novos fornecimentos de drones e mísseis antinavio podem permitir ao al-Shabaab lançar ataques mais destrutivos, de acordo com o CSIS.
“Os Houthis estão a avaliar as opções disponíveis para realizar ataques no mar a partir da costa somali, a fim de expandir o âmbito da sua área de operações [trabalhando com o al-Shabaab],” o Painel de Peritos sobre o Iémen, citando fontes confidenciais, disse num relatório apresentado ao Conselho de Segurança das Nações Unidas em Outubro de 2024.
Ameaça no Mar Vermelho
Ataques coordenados entre os Houthis e o al-Shabaab contra navios no Golfo de Áden e no Mar Arábico também podem complicar a ameaça dos Houthis ao transporte marítimo no Mar Vermelho, de acordo com o The Soufan Center. Isso aumentaria ainda mais os custos do transporte marítimo.
Os Houthis lançaram mísseis e drones contra mais de 130 navios comerciais que transitavam pelo ponto de estrangulamento no estreito de Bab el-Mandeb, onde o Mar Vermelho encontra o Golfo de Áden. Os ataques fizeram com que o transporte marítimo através do Mar Vermelho caísse para cerca de metade entre Novembro de 2023 e Novembro de 2024, de acordo com a página de internet de notícias sobre transporte marítimo Lloyd’s List. Os navios comerciais agora fazem uma rota mais longa em torno do Corno de África e da África Austral.
Quando a agitação no Mar Vermelho se desenrolava, a pirataria, há muito adormecida nas águas somalis, surgiu em Dezembro de 2023, após um período de seis anos sem grandes ataques. Analistas acreditam que o al-Shabaab chegou a um acordo para fornecer protecção aos piratas em troca de 30% de todos os rendimentos dos resgates e uma parte do saque, informou o jornal emiradense The National.
O Gabinete Marítimo Internacional registou oito incidentes de pirataria somali no ano passado, incluindo o sequestro de Novembro de 2024 de um arrastão chinês que ficou cativo durante sete semanas. O gabinete registou três incidentes de pirataria somali entre Fevereiro e Março de 2025.
Al-Shabaab Cada Vez ‘Mais Capaz’
O relatório do CSIS caracterizou o al-Shabaab como um Estado de facto que “provavelmente se tornará mais capaz” este ano. Além do apoio dos Houthis, o al-Shabaab provavelmente enfrentará uma diminuição da pressão militar, numa altura em que a Missão de Transição da União Africana na Somália foi substituída pela Missão de Apoio e Estabilização da União Africana na Somália, de menor dimensão.
As forças somalis e internacionais obtiveram ganhos contra o al-Shabaab, mas o grupo terrorista é resiliente e recentemente recapturou território que havia perdido para as forças governamentais. No dia 16 de Abril, por exemplo, o al-Shabaab recuperou a cidade estratégica de Aboorey após uma batalha feroz de duas semanas. Também retomou a cidade de Adan Yabaal.
“A combinação de uma força internacional mais fraca e uma ofensiva governamental estagnada diminuirá a pressão sobre o al-Shabaab e permitirá que ele aumente as suas actividades violentas em 2025,” segundo o relatório.