No dia 11 de Abril, Amboma Safari e a sua família passaram a noite debaixo da cama, enquanto tiros e explosões de bombas ecoavam pelas ruas de Goma, a capital sitiada da província do Kivu do Norte.
“Vimos cadáveres de soldados, mas não sabemos de que grupo são,” disse à The Associated Press.
Enquanto os combates continuam no leste da República Democrática do Congo entre as forças governamentais, as milícias locais aliadas e os rebeldes do M23 apoiados pelo Ruanda, a frustração com o desarticulado processo de paz do Acordo de Luanda tem-se transformado gradualmente em pessimismo.
Depois de liderar o processo de paz durante quase três anos, o Presidente de Angola, João Lourenço, demitiu-se do cargo de mediador no dia 24 de Março, invocando a necessidade de se concentrar no seu papel de presidente da União Africana. A UA nomeou o Presidente do Togo, Faure Gnassingbé, como novo mediador a 11 de Abril.
Ao sair do processo de paz, Lourenço lamentou uma série de negociações fracassadas, acordos de cessar-fogo não cumpridos e os anos que foram necessários para convencer o Presidente da RD Congo, Félix Tshisekedi, a aceitar conversações directas com o M23, que considera um grupo terrorista e um representante do Ruanda.
“Trabalhámos para atingir este objectivo e conseguimos o consentimento de ambas as partes para a realização da primeira ronda de negociações em Luanda, no dia18 de Março deste ano. No entanto, este evento foi abortado à última hora,” o seu gabinete disse num comunicado. O M23 culpou as sanções internacionais pela sua decisão de rejeitar a reunião.
O conflito intensificou-se desde que o M23 lançou uma ofensiva em Janeiro e capturou cidades importantes nas províncias do Kivu do Norte e do Kivu do Sul, matando milhares de pessoas, obrigando milhões a fugir das suas casas e agravando a crise humanitária na região.
As tentativas de conversações de paz têm sido afectadas por uma série de obstáculos, incluindo a desunião e a confusão resultantes de múltiplas tentativas paralelas de mediação, questões de financiamento e actores externos que impediram a criação de uma força de manutenção da paz credível para separar os combatentes.
Numa reunião surpresa realizada a 18 de Março em Doha, no Qatar, Tshisekedi e o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, falaram cara a cara e emitiram um comunicado conjunto apelando a um cessar-fogo “imediato e incondicional”. Uma reunião de acompanhamento planeada para 9 de Abril entre responsáveis da RDC e do M23 não se concretizou.
Onesphore Sematumba, analista sénior do Congo no grupo de reflexão Crisis Group, afirmou que as conversações directas entre a RDC e o M23 seriam muito mais significativas do que a reunião no Qatar.
“Vamos esperar e ver o que virá a seguir — o Ruanda e a RDC apenas colocaram a primeira pedra num longo caminho,” disse à Bloomberg News. “Não se deve ser ingénuo e pensar que Tshisekedi e Kagame vão resolver os seus problemas de uma só vez. O M23 continua a avançar e a ganhar mais território em todas as direcções. O Ruanda pode sempre dizer que era a favor de um cessar-fogo, mas não é o beligerante.”
Apesar dos sinais de vontade de desanuviamento de ambas as partes, o processo de paz da UA está num limbo até à primeira iniciativa de Gnassingbé, que será apoiada por uma equipa de mediadores da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral e da Comunidade da África Oriental.
O analista político congolês, Bob Kabamba, manifestou a sua preocupação quanto à clareza do mandato da nova equipa de mediação, bem como quanto ao seu financiamento.
“Os papéis desta mediação não foram claramente definidos,” disse à Deutsche Welle. “A divisão de responsabilidades não está clara. A questão do financiamento também é importante. Angola gastou muito e não estou a ver nenhum outro país disposto a avançar e a financiar a mediação.”
O analista de política e segurança do Gana, Fidel Amakye Owusu, acredita que o processo de paz é complicado devido à riqueza de recursos naturais da RDC, à fronteira que partilha com os países vizinhos e ao número de influências externas.
“O conflito da RDC é muito complexo,” disse à DW. “Envolve tantos indivíduos poderosos, tantos grupos e instituições poderosos, e países poderosos, como actores regionais e actores internacionais. O país é enorme… e tudo o que acontece lá afecta outros países.”
O desafio mais importante para os mediadores, segundo ele, é lidar com a dinâmica e a história entre os grupos étnicos Tutsi e Hutu: “Qualquer mediador terá dificuldade em criar um equilíbrio ou trabalhar numa linha muito ténue neste labirinto. E quando o mediador, com o tempo, não vê resultados, fica frustrado.”