Três vastos parques nacionais interligados na África Ocidental — o W, o Arly e o Pendjari — são conhecidos como o Complexo WAP. Também se tornaram conhecidos pelos grupos terroristas e pelo crime transnacional.
Estendendo-se por 34.000 quilómetros quadrados através das fronteiras do Benin, Burquina Faso e Níger, o WAP está repleto de florestas densas, zonas húmidas pantanosas e savanas arborizadas onde abundam grandes populações de vida selvagem.
No entanto, a ausência de presença governamental, a escassez de forças de segurança e a porosidade das fronteiras dos três países facilitam o acesso de redes criminosas envolvidas no contrabando e no tráfico de droga e de armas.
Os grupos terroristas do Sahel ligados ao Estado Islâmico e à al-Qaeda, como a Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), também criam esconderijos a partir dos quais lançam ataques nos três países fronteiriços.
“A violência e a actividade da JNIM na zona da tríplice fronteira entre o Burquina Faso, o Níger e o Benin têm vindo a aumentar há algum tempo, mas desde o início do ano a insegurança aumentou consideravelmente,” o analista de riscos de segurança Charlie Werb escreveu numa publicação de 20 de Março no X. “Os recentes ataques indicam que a situação pode deteriorar-se ainda mais.”
Em Março, a JNIM terá lançado ataques com morteiros e drones explosivos na zona da tríplice fronteira, fora do complexo WAP, tendo Werb afirmado que o grupo militante “parece estar a testar algumas das suas novas capacidades.”
Descreveu o complexo de parques como “exacerbando enormemente” as falhas de segurança e “quase impossível de proteger e monitorizar. … A relativa liberdade de que a JNIM goza no parque significa que pode transportar armas, pessoal e equipamento entre os três países com alguma facilidade.”
Há décadas que o WAP é uma parte importante de rotas lucrativas de comércio e contrabando. Fidel Amakye Owusu, analista do Conflict Research Consortium for Africa, disse ao Instituto de Estudos de Segurança (ISS), sediado na África do Sul, que a rede criminosa local utiliza motorizadas e animais para transportar grandes quantidades de armas por caminhos que atravessam os parques.
“Usando o seu conhecimento do terreno acidentado da região, actuais e antigos militantes, transportadores profissionais e membros corruptos das forças de segurança compram, vendem e transportam armas de fogo,” o investigador do ISS Feyi Ogunade escreveu num artigo de 4 de Março.
Embora existam ligações claras entre grupos criminosos, grupos terroristas e traficantes de armas, as iniciativas regionais para combater o fluxo de armas são limitadas no Complexo WAP, disse Ogunade.
“Os actores regionais e internacionais têm-se concentrado em respostas centradas na segurança, com pouco sucesso,” escreveu. “Não há dúvida de que o reforço da cooperação regional, a partilha de informações, as patrulhas fronteiriças e as missões de busca específicas reduziriam o fluxo ilícito de armas no WAP. Mas as respostas de segurança devem fazer parte de uma intervenção mais alargada que vise os factores de oferta e procura de armas ilícitas.”
Muitas vezes, os soldados beninenses coordenam as suas patrulhas no parque W com guardas-florestais que conhecem o terreno e sabem como lidar com a vida selvagem. De acordo com um investigador experiente no norte do Benin, um ataque mortal da JNIM em Julho de 2024 foi o resultado de um ataque surpresa a um acampamento partilhado.
“Era uma posição militar que estava dentro do parque no nordeste de W, que era usada para seguir os movimentos,” disse o investigador, que falou com a organização de comunicação ambiental Mongabay sob condição de anonimato. “O exército criou uma série delas nos parques, onde têm estes pequenos locais onde tentam ver o que está a acontecer, e esta posição foi simplesmente dominada pelos jihadistas. Foi simplesmente tomada de assalto. Portanto, não foram DEI, foi um tiroteio, e um que foi bastante desequilibrado.”
Werb espera que mais ataques de militantes na sub-região da tríplice fronteira acabem por constituir uma ameaça crescente para os países costeiros vizinhos da África Ocidental, como o Togo e o Gana.
“As acções da JNIM até agora, este ano, sugerem que podemos assistir a um aumento significativo da violência neste canto da região nos próximos meses,” escreveu. “Isso permitir-lhe-á continuar a ameaçar partes do Burquina Faso e do Níger, mas também promover a sua expansão no Benin.”