Pelo segundo ano consecutivo, o Burquina Faso é a nação mais afectada pelo terrorismo no mundo, de acordo com a última edição do Índice Global de Terrorismo.
O Instituto de Economia e Paz da Austrália compila a sua lista anual com base em incidentes de terrorismo, mortes, feridos e reféns. Seis dos 10 países mais afectados pelo terrorismo da lista encontram-se em África.
Para além do Burquina Faso, os outros países africanos na lista dos 10 mais afectados incluem os seus vizinhos do Sahel, o Mali (n.º 4) e o Níger (n.º 5), juntamente com a Nigéria (n.º 6), a Somália (n.º 7) e os Camarões (n.º 10).
“A região do Sahel continua a ser o epicentro do terrorismo, sendo responsável por mais de metade de todas as mortes causadas pelo terrorismo a nível mundial,” referem os analistas do índice.
Embora o último relatório mostre uma queda geral nas actividades terroristas, os ataques tornaram-se mais mortíferos.
No Burquina Faso, por exemplo, o número de ataques caiu 17% entre 2023 e 2024; no entanto, as mortes aumentaram 68%.
Num incidente, 200 pessoas morreram numa única comunidade burquinabê quando foram atacadas pela Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), afiliada à al-Qaeda, em Agosto de 2024. A violência relacionada com a JNIM aumentou 50% no Burquina Faso em 2024, em comparação com 2023, segundo os analistas do índice.
No Níger, o terrorismo atingiu um nível sem precedentes. O Níger viu as mortes relacionadas com o terrorismo quase duplicarem de 479 em 2023 para 930 em 2024. Quase 500 das mortes de 2024 foram entre membros das forças armadas.
Na região de Tahoua, perto do Mali, 300 terroristas mataram 237 soldados, tornando-se o ataque mais mortífero do Níger. Foi também o ataque mais mortífero em todo o mundo em 2024.
As juntas dirigentes dos países do Sahel derrubaram os seus governos democraticamente eleitos entre 2021 e 2023, com o argumento de que os governos eleitos não tinham conseguido travar os terroristas. Os governantes militares afirmaram que fariam melhor. Até à data, porém, a segurança nos três países tem continuado a deteriorar-se. O Burquina Faso, por exemplo, saltou do 6.º lugar da lista do índice em 2020 para o 2.º em 2022, ano em que o país sofreu dois golpes militares com nove meses de diferença. Desde então, o Burquina Faso tem ocupado o primeiro lugar da lista.
O relatório de 2024 foi o terceiro a mostrar mais de 1.000 pessoas mortas por terroristas no Burquina Faso. Cerca de dois terços dessas mortes ocorreram perto da fronteira tripartida com o Mali e o Níger.
O grupo Estado Islâmico, que opera em todo o Sahel e na Somália, continuou a ser uma das principais causas do terrorismo em todo o mundo. No entanto, os incidentes relacionados com este grupo em África diminuíram 44% entre 2023 e 2024.
A JNIM, a segunda organização terrorista mais mortífera do mundo, matou 1.454 soldados e civis em 146 ataques em África. Esse número de mortos representou um aumento de 46% em relação a 2023 e atingiu o nível mais alto desde que o grupo surgiu no Mali em 2017.
O “uso estratégico de fronteiras porosas e terrenos desafiantes por parte da JNIM permitiu-lhe evitar confrontos directos, mesmo quando as forças antiterroristas intensificam as operações,” disseram os analistas do índice. “A sua capacidade de inserir-se nas comunidades locais e explorar a fraca governação solidificou a sua posição como o grupo insurgente mais proeminente da região.”
O especialista nigeriano em segurança, Kabir Adamu, disse à Channels TV que a Nigéria registou menos ataques em geral, mas mais incidentes com vítimas mortais do que nos anos anteriores. Entre estes, conta-se um ataque no nordeste do Estado de Yobe que matou 150 pessoas. Adamu afirmou que é vital que os países invistam mais na saúde socioeconómica das regiões onde os terroristas operam. O desenvolvimento dessas economias locais reduziria a capacidade dos grupos terroristas de atrair novos membros.
O combate ao terrorismo não é uma tarefa exclusiva dos militares, disse Adamu.
“O oxigénio que permite que os terroristas prosperem está enraizado nas condições socioeconómicas,” explicou Adamu. “Se os grupos são capazes de recrutar, eles são capazes de incentivar pessoas com pouco dinheiro a fazer as actividades terroristas que quiserem.”