À medida que os três governos do Sahel, liderados por juntas, se voltam cada vez mais para dentro, a sua ausência nas organizações regionais está a dificultar os esforços antiterroristas em toda a África Ocidental, segundo os analistas.
Lutando para conter as insurgências dentro e fora das suas fronteiras, o Burquina Faso, o Mali e o Níger abandonaram oficialmente, em Janeiro, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), um mecanismo através do qual a região prosseguia uma abordagem de cooperação no combate ao terrorismo.
Nesse mesmo mês, o Níger anunciou que estava a suspender a sua cooperação com a Força-Tarefa Conjunta Multinacional (MNJTF) que combate o Boko Haram e a sua ramificação, a Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP), na Bacia do Lago Chade.
Ambas as decisões foram tomadas depois de os países do Sahel se terem retirado do grupo antiterrorista G5 Sahel.
Em vez dessas organizações regionais mais alargadas, as nações formaram a Aliança dos Estados do Sahel (AES) para reunir os seus próprios recursos para combater os insurgentes que operam nos três países.
Apesar destas acções, o terrorismo aumentou em toda a região, com um aumento particular na região de Liptako-Gourma, onde os três países se encontram. Segundo algumas estimativas, os insurgentes controlam 80% do território do Burquina Faso. Os três países figuram actualmente entre os países mais propensos ao terrorismo no mundo, estando o Burquina Faso classificado no topo do Índice Global de Terrorismo.
Ahmadulbadawy AbdulRaheem, analista do Qiraat África, considera um erro a decisão de abandonar os organismos regionais mais alargados.
“Prevenir e mitigar a violência na região exige um esforço conjunto, uma vez que grande parte do conflito ocorre em regiões fronteiriças, onde as linhas estatais não são claras e a influência da governação central é fraca,” escreveu AbdulRaheem. “Dadas as suas capacidades financeiras limitadas, é pouco provável que eles [os países do Sahel] consigam levar a cabo sozinhos a guerra contra o terrorismo, que é financeiramente intensiva.”
A decisão das nações do Sahel de se retirarem dos esforços regionais de combate ao terrorismo só beneficia os terroristas, o Presidente da Nigéria, Bola Ahmed Tinubu, disse numa recente reunião de líderes no Estado de Yobe. O Estado de Yobe faz fronteira com o sudeste do Níger e está entre os Estados nigerianos que regularmente sentem o peso do terrorismo.
Tinubu disse na cimeira que a melhor forma de combater os terroristas é através da força colectiva da cooperação militar regional. O Presidente lamentou as “falsidades” que estão a minar essa cooperação, criando desconfiança.
As relações entre o Níger e a Nigéria degradaram-se desde o golpe de Estado do Níger em 2023, com as autoridades nigerinas a acusarem o seu vizinho do sul de interferir nos seus assuntos internos. A tensão prejudicou a cooperação na MNJTF, que inclui também o Benin, os Camarões e o Chade.
Desde que virou a sua atenção para o terrorismo em 2015, a MNJTF tem conseguido degradar com sucesso o Boko Haram e o ISWAP na região do Lago Chade. No entanto, as disputas internas e os problemas de financiamento começaram a dificultar esse progresso.
“A MNJTF tem resistido aos ataques do Boko Haram em toda a região, mas é pouco provável que sobreviva a uma fractura entre os países que contribuem com as suas tropas e recursos,” os analistas Remadji Hoinathy e Raoul Sumo Tayo escreveram recentemente para o Instituto de Estudos de Segurança (ISS).
A perda global da cooperação antiterrorista do Burquina Faso, do Mali e do Níger fez recair a maior parte do fardo sobre as forças armadas nigerianas, segundo o Marechal Hassan Abubakar, chefe do Estado-Maior da Força Aérea.
“Consequentemente, a carga sobre as Forças Armadas da Nigéria para apoiar a MNJTF irá aumentar, exigindo uma resposta mais robusta, ágil e adaptável da Força Aérea Nigeriana (NAF),” Abubakar disse numa reunião recente dos chefes de ramo, oficiais de comando e comandantes da forças aéreas em Abuja.
“O reforço da prontidão operacional, a melhoria da coordenação entre agências e o aproveitamento do poder aéreo avançado serão fundamentais para mitigar estas ameaças em evolução à medida que avançamos até 2025,” acrescentou Abubakar.
Mas isso pode não ser suficiente, segundo Hoinathy e Tayo.
“A ameaça jihadista na Bacia do Lago Chade é transnacional e inter-regional e não pode ser ultrapassada apenas com abordagens nacionais,” escreveram para o ISS. “Para serem eficazes, as respostas devem corresponder à ameaça.”