Uma ofensiva contínua das Forças Armadas do Sudão (SAF) recuperou zonas do Sudão controladas pelas Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares no Estado de Cartum e no Estado do Darfur do Norte.
No dia 19 de Fevereiro, as Forças Armadas do Sudão (SAF) afirmaram ter matado 33 combatentes das RSF a nordeste da cidade estratégica de el-Fasher, capital do Estado do Darfur do Norte. Nesse dia, as RSF também bombardearam el-Fasher, matando pelo menos 10 pessoas, ferindo dezenas e incendiando várias casas. Esta situação levou a que cerca de 10.000 famílias fugissem para um campo vizinho de pessoas deslocadas.
El-Fasher está sob o cerco das RSF desde Maio de 2024.
“A contagem regressiva para o fim da guerra começou, o campo de guerra mudou-se para El Fasher….,” Osman Mirghani, chefe de redacção do jornal sudanês Al-Tayar, disse ao programa de rádio da Deutsche Welle “ Sudan Now.”
As SAF, lideradas pelo General Abdel-Fattah al-Burhan, fizeram progressos nas áreas controladas pelas RSF no final do ano passado e em Fevereiro, ganhando terreno em Cartum, a capital nacional, no Estado do Nilo Branco e no Estado do Cordofão do Norte, onde as SAF recuperaram a capital, el-Obeid, no dia 24 de Fevereiro, pondo fim a um cerco de dois anos. As RSF são dirigidas pelo General Mohammed Dagalo, ou “Hemedti.”
O Ministro das Finanças do Sudão, Jibril Ibrahim, disse à BBC que a vitória das SAF em el-Obeid constitui um “passo enorme” para acabar com o cerco das RSF a el-Fasher e permitiria a entrega de ajuda humanitária ao Cordofão. Foi recuperada horas depois de as RSF terem assinado uma carta política no Quénia para estabelecer um governo separatista nas áreas sob o seu controlo. El-Obeid é um centro estratégico que liga Darfur a Cartum.
No Estado de Cartum, as SAF controlam actualmente 90% de Bahri, no norte, a maior parte de Omdurman, no Oeste, e 60% do centro de Cartum, onde se situam o palácio presidencial e o aeroporto internacional, segundo a Agência Anadolu. As SAF quase cercaram estas cidades, enquanto os combatentes das RSF permanecem entrincheirados em bairros a leste e a sul.
De acordo com o International Crisis Group (ICG), a batalha por Cartum irá provavelmente aprofundar o envolvimento das potências regionais. É provável que os mediadores internacionais esperem que os combates se acalmem antes de convocarem novas conversações de paz.
Uma vez terminados os combates em Cartum, os mediadores “devem pressionar Burhan, Hemedti e as partes exteriores a pôr fim à guerra, mesmo que essa perspectiva dependa provavelmente de uma aproximação entre o chefe do exército e os Emirados Árabes Unidos, o principal patrocinador das RSF,” refere o ICG.
As RSF ainda controlam quatro dos cinco Estados da região de Darfur.
Ambas as partes são acusadas de cometerem atrocidades contra civis. Em Janeiro, as RSF mataram pelo menos 70 pessoas num ataque ao último hospital em funcionamento em el-Fasher. Desde o início da guerra, cerca de 70 ataques aéreos das SAF atingiram el-Koma, cerca de 75 quilómetros a nordeste de el-Fasher. Estes ataques intensificaram-se recentemente, obrigando os residentes e as pessoas deslocadas a fugir.
“Aqueles que não podem sair começaram a sair de manhã para passar o dia ao ar livre e regressar à noite, sob um frio intenso, para evitar serem atingidos,” o activista da sociedade civil, Saleh Harirein, disse à Rádio Dabanga, do Sudão.
Em Outubro de 2024, dezenas de pessoas foram mortas e mais de 200 ficaram feridas nos ataques aéreos das SAF ao mercado da cidade de el-Koma.
“É impossível que o exército de um país bombardeie pessoas com a sua força aérea e afirme que o faz para proteger o país,” um funcionário local disse à Rádio Dabanga.
No Estado do Darfur do Sul, em meados de Fevereiro, a Força Aérea Sudanesa atacou o aeroporto de Nyala e bairros da parte oriental da cidade com oito bombas de barril, mas não foram registadas vítimas mortais.
Desde que eclodiu em Abril de 2023, a guerra do Sudão provocou a maior e mais rápida crise de deslocações do mundo e a maior crise humanitária de que há registo, segundo o Comité Internacional de Resgate (IRC). Mais de
11,4 milhões de pessoas estão actualmente deslocadas no país e mais de 3 milhões de pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, fugiram para países vizinhos.
Durante a época de vacas magras de 2024, 750.000 pessoas em todo o Sudão enfrentaram uma insegurança alimentar catastrófica, o que significa que a morte por inanição estava a acontecer diariamente. A guerra interrompeu as linhas de abastecimento e, no ano passado, pelo menos 25 trabalhadores humanitários foram mortos no Sudão.
“Um cessar-fogo imediato é agora mais crítico do que nunca para evitar mortes em massa resultantes de uma crise de fome que se está a espalhar rapidamente pelo Sudão,” o director nacional do IRC para o Sudão, Eatizaz Yousif, disse no site da organização.