Poucas armas mudaram tanto a natureza da guerra em África como os drones. E poucos drones têm sido tão populares e tão eficazes como os provenientes da Turquia.
Desde os pequenos modelos ZD100 e ZD200 de estilo quadricóptero até ao Bayraktar TB2 de asa fixa e semiautónomo, os drones turcos estão a tornar-se rapidamente o veículo aéreo não tripulado (VANT) de eleição para as nações africanas.
Embora as empresas turcas ofereçam uma variedade de drones para diversos fins, as nações africanas concentraram grande parte da sua atenção nos drones militares desenvolvidos pela Baykar, dirigida pelo genro do presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan. No final de 2024, o Quénia tornou-se a mais recente nação africana a receber o Bayraktar TB2, recebendo seis das plataformas de armas voadoras. O Quénia recebeu os VANT pouco depois de Baykar ter anunciado nas redes sociais, em Agosto, que os operadores quenianos tinham concluído a sua formação.
O Quénia junta-se a uma lista crescente de clientes da Baykar em África, que inclui Angola, Burquina Faso, Djibouti, Etiópia, Mali, Marrocos, Níger, Nigéria, Somália, Togo e Tunísia. O Ruanda poderá estar também a tentar adquirir drones Baykar, de acordo com notícias publicadas.
Em Dezembro de 2024, a Baykar lançou um projecto para construir e manter os drones Bayraktar TB2 e os drones Akinci, mais avançados, em Marrocos. Marrocos comprou 13 drones Bayraktar TB2 em 2021 por 70 milhões de dólares.
“Ao instalar uma fábrica de produção em Marrocos, a empresa turca poderá fornecer drones aos seus clientes africanos mais rapidamente do que os seus concorrentes,” o North African Post escreveu em Janeiro.
Com um preço de 2 a 5 milhões de dólares cada, o Bayraktar TB2 custa cerca de um quarto do preço de outros drones de nível militar. Isso permite que os países aumentem as suas capacidades militares, apesar dos orçamentos de defesa modestos, de acordo com o analista Patrick Kenyette, que escreve para o Military Africa.
Os países africanos viram pela primeira vez a tecnologia turca de drones durante a guerra civil na Líbia. A aliança da Turquia com o Governo de Acordo Nacional, reconhecido internacionalmente, permitiu-lhe inundar o campo de batalha com drones. Em 2019, um drone turco atacou uma base aérea controlada pelo Exército Nacional da Líbia. Os drones também destruíram um avião de carga Ilyushin na base aérea de al-Jufra, controlada por mercenários russos.
Os drones turcos desempenharam um papel fundamental na derrota dos rebeldes de Tigré no ano passado na Etiópia. Também foram utilizados contra terroristas na Somália. Na África Ocidental, a Nigéria e o Togo estão a utilizar drones turcos para patrulhar as suas fronteiras com o Burquina Faso e o Níger, a fim de impedir que os extremistas invadam os seus países.
Em meados de 2024, a Turquia anunciou um plano para promover os seus drones em África, com a Arábia Saudita a fornecer o financiamento para ajudar nas compras. Alguns drones fabricados pela Baykar também serão fabricados na Arábia Saudita a partir de 2026.
“Os drones turcos provaram a sua eficácia em muitas batalhas diferentes, principalmente na Líbia,” o investigador Ahmed Abouyoussef escreveu para o Centro de Investigação Al Habtoor. “Estes drones fabricados localmente proporcionaram à Turquia um novo instrumento de política externa que tem utilizado para maximizar a sua influência externa.”
A abordagem sem compromissos da Turquia em relação à exportação de drones ajudou-a a construir novas alianças militares em África, em particular entre países que lutam contra insurgências como a Etiópia e a Somália, observou Abouyoussef. No entanto, essa mesma abordagem incondicional coloca em risco a actividade da Turquia no domínio dos drones, caso os países seus clientes utilizem essas armas contra civis, como já aconteceu em alguns casos, ou de outras formas que possam constituir crimes de guerra, escreveu Abouyoussef.
“Nesse caso, os opositores regionais e mundiais da Turquia poderiam utilizar este facto como justificação para impor mais limites à indústria de drones turcos,” escreveu Abouyoussef.