Muitas das forças de segurança nigerianas que combateram o Boko Haram e os terroristas afiliados ao Estado Islâmico debatem-se com transtorno de estresse pós-traumático e outros problemas de saúde mental muito depois de terem servido o seu país no campo de batalha.
No cumprimento do seu dever, alguns militares sofrem ou testemunham actos de violência terríveis que podem induzir efeitos a longo prazo, como ansiedade grave, pensamentos intrusivos, recordações e pesadelos.
Chioma Onyemaobi, psicóloga principal da HumAngle Foundation, sediada em Abuja, alertou recentemente para os desafios psicológicos e emocionais, muitas vezes negligenciados, que podem advir das operações antiterroristas.
“É um enorme fardo psicológico lutar contra uma insurgência,” escreveu num blogue de 15 de Janeiro na página da internet da fundação. “Muitas vezes, os soldados enfrentam situações de risco de vida, com a perda de irmãos de armas, com os terrores que advêm do combate numa guerra e com o efeito duradouro nas suas famílias. Estas experiências, muitas vezes, resultam em problemas de saúde mental, incluindo transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, ansiedade e abuso de substâncias.”
Em Fevereiro de 2024, o Quartel-General da Defesa da Nigéria afirmou ter criado um número indeterminado de centros de TEPT para monitorizar a saúde mental dos soldados envolvidos em operações de segurança. A acção foi tomada para fazer face a um aumento de incidentes de soldados que mataram colegas e a si próprios. O Exército afirmou que a maioria desses casos foi atribuída ao TEPT.
O exército nigeriano organizou seminários de sensibilização sobre o TEPT, incluindo um em Junho de 2024 para oficiais e soldados da sua Terceira Divisão na cidade de Rukuba, no Estado de Plateau.
“Os incidentes de toxicodependência e de abuso de substâncias, bem como de TEPT entre as tropas destacadas nos teatros de operações, são bastante preocupantes,” afirmou o antigo Chefe do Estado-Maior do Exército, Toareed Lagbaja, de acordo com um artigo publicado na página da internet da Peoples Gazette. “Os comandantes a todos os níveis devem continuar a apresentar medidas inovadoras para melhorar as suas abordagens no sentido de reduzir a fadiga de combate, melhorar a gestão de pessoal e a prontidão de combate.”
Ao longo da história, os problemas de saúde mental e os tratamentos têm sido estigmatizados nas culturas militares, onde a mentalidade de guerreiro é cuidadosamente cultivada. Onyemaobi disse que pode ser difícil para os soldados procurarem ajuda.
Para além de desestigmatizar as questões de saúde mental, recomendou que as forças armadas eduquem as tropas durante a formação e antes de serem destacadas, sensibilizem toda a força e dediquem mais recursos, tais como teleconferências, para servir os soldados quando estão em locais remotos.
“A eliminação das barreiras culturais à procura de ajuda entre os militares nigerianos não só é crucial para a sua saúde geral, como também é vital para a segurança nacional do país,” escreveu. “Só conseguiremos desenvolver uma força de defesa robusta e eficaz se dermos prioridade à saúde mental daqueles que servem.”