A Rússia alargou a sua presença militar na Líbia, transferindo pessoal e equipamento para a base de Maaten al-Sarra, perto das fronteiras com o Chade e o Sudão, segundo uma agência noticiosa italiana. A base estava abandonada desde 2011.
Em Dezembro, a Rússia enviou soldados sírios para restabelecer a base, a partir da qual Moscovo pode abastecer directamente o Burquina Faso, o Mali e o Sudão, informou a agência noticiosa Nova. Os técnicos russos e as tropas sírias restauraram as pistas e os armazéns da base, que ainda precisam de novas habitações, armazéns, torres de controlo e cercas de segurança.
Uma importante coluna militar alinhada com o Marechal Khalifa Haftar, que lidera o Exército Nacional Líbio, dirigiu-se recentemente para Maaten al-Sarra para proteger a área e as rotas que abastecem o Sudão com armas e combustível a partir do porto de Tobruk, no nordeste da Líbia. Haftar está a tentar dominar o Governo de Acordo Nacional (GAN), reconhecido internacionalmente.
Estes desenvolvimentos são coerentes com a estratégia russa de posicionar as bases militares líbias como um ponto central para o Africa Corps, o grupo mercenário russo que substituiu o Grupo Wagner. Há muito que a Rússia apoia Haftar, que é acusado de enviar abastecimentos às Forças de Apoio Rápido paramilitares do Sudão na sua guerra civil com as Forças Armadas do Sudão.
“Dada a sua localização estratégica, a reabilitação do aeroporto de Maaten Al-Sarra enquadra-se provavelmente no plano mais vasto da Rússia para reforçar a sua influência em África através da Líbia,” segundo a plataforma de informações de fonte aberta EekadFacts.
A aquisição da base faz parte dos esforços do Kremlin para estabelecer um corredor comercial e militar do Mediterrâneo para África. A Rússia também reforçou as suas operações nas bases militares líbias em al Khadim oriental, al Jufra central, Brak al-Shati noroeste e Al Qurdabiya centro-norte. Estas bases contêm uma série de equipamento militar, incluindo defesas aéreas, aviões de combate MiG-29 e drones. São operadas por soldados e mercenários russos.
No entanto, os analistas dizem que os esforços da Rússia para aumentar o seu poder militar na Líbia podem desestabilizar ainda mais a África do Norte e a região do Sahel.
“A Líbia é um ponto fulcral para a expansão das operações russas em África, abrindo oportunidades de acesso a países como o Sudão, o Mali, o Chade e a República Centro-Africana,” Miral Sabry AlAshry, co-líder para o Médio Oriente e a África do Norte no Centro para a Liberdade dos Media da Universidade de Sheffield, escreveu na Eurasia Review.
Moscovo também está a fomentar as relações com as comunidades tribais na região sul de Fezzan, uma extensão de deserto que se estende até ao Chade e ao Níger. A Rússia forjou alianças com tribos locais nas zonas fronteiriças para reforçar a sua posição estratégica e aceder às minas de ouro controladas pelas tribos Tebu nas montanhas de Kalanga, segundo a Nova.
Os mercenários russos foram enviados para a Líbia já em 2018 e lutaram por Haftar durante a guerra em Trípoli, que foi apoiada pela Turquia. A Rússia forneceu a Haftar combatentes do Grupo Wagner, aviões de ataque e armas durante a batalha que durou mais de seis anos. Embora a guerra de Moscovo com a Ucrânia seja o principal desafio militar do Presidente da Rússia, Vladmir Putin, existem ainda 800 a 1.200 mercenários russos na Líbia, muitos dos quais controlam instalações de produção de petróleo e redes de contrabando, bem como portos importantes, proporcionando a Moscovo centros logísticos fiáveis, de acordo com o Atlantic Council.
“A sua presença continuada ilustra a convicção do Kremlin de que a África do Norte e o Médio Oriente são uma região de importância vital, com enormes recursos inexplorados que podem ajudar a economia russa a longo prazo,” Chiara Lovotti, investigadora do Instituto Italiano de Estudos Políticos Internacionais, e Alissa Pavia, directora associada do Programa para a África do Norte do Atlantic Council, escreveram no site do Atlantic Council.
A Rússia tem também uma presença diplomática crescente, incluindo em Trípoli, onde está sediado o GAN, de acordo com Frederic Wherey, investigador do programa do Médio Oriente no Carnegie Endowment for International Peace. O esforço não militar está a reforçar a influência de Moscovo nos domínios económico, energético e político, acrescentou Wherey.