Membros das Forças Armadas do Mali (FAMa) e mercenários russos, agora conhecidos como Africa Corps, são acusados de matar nove pessoas, incluindo mulheres e crianças, num ataque a um veículo na região de Segou, no Mali, em Janeiro.
Mohamed Elmaouloud Ramadane, porta-voz da coligação de grupos Tuaregues do norte do Mali, disse à Reuters que as vítimas se dirigiam para um campo de refugiados na Mauritânia quando foram atacadas.
Tratou-se da última de uma série de atrocidades cometidas pelas FAMa e por mercenários russos desde que a missão de manutenção da paz das Nações Unidas, MINUSMA, deixou o país há mais de um ano.
A Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) e o Estado Islâmico no Grande Sahara também têm estado activos desde a saída da MINUSMA. Os grupos terroristas mataram pelo menos 47 civis e deslocaram milhares de pessoas entre Junho e Dezembro de 2024, segundo a Human Rights Watch (HRW). A JNIM queimou mais de 1.000 casas, pilhou milhares de animais e aumentou os ataques contra civis e forças de segurança.
O Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) informou que os ataques a civis malianos aumentaram 38% desde a partida da MINUSMA, tendo as batalhas e os ataques se alastrado para novas áreas no norte do Mali.
Segundo o ACLED, o exército maliano e os mercenários russos cometem “torturas, execuções sumárias, decapitações, expulsão de prisioneiros de aviões e armadilhas de cadáveres.”
De acordo com o ACLED, as forças militares e aliadas do Mali levaram a cabo 255 operações, matando 1.063 civis entre 1 de Janeiro e o final de Outubro de 2024. Durante o mesmo período em 2023, estas forças conduziram 216 operações que mataram 912 civis.
Um relatório recente da HRW inclui entrevistas com testemunhas de algumas das atrocidades.
Em busca de homens da etnia Fulani acusados de apoiar a JNIM, as forças malianas e os mercenários russos mataram, a 8 de Maio, dois homens e um rapaz em Barikoro, uma aldeia controlada pelo grupo terrorista. Chegaram em motorizadas e cerca de 10 veículos militares, incluindo carros blindados.
Um mecânico disse que aconselhou um homem Fulani a sair da sua garagem quando soube que as forças estavam a chegar. Depois de o homem ter saído, o mecânico ouviu vários tiros.
“Encontrei o corpo do meu primo no lado oeste da aldeia com oito tiros: na testa, na cabeça, nas costas e nas pernas,” um sobrevivente disse à HRW. “A metros de distância, encontrámos os corpos de dois homens Fulani também crivados de balas, por isso, cavámos três buracos e cobrimo-los com areia.”
No dia 16 de Agosto, as forças malianas e russas invadiram a aldeia de Dounkala, onde a JNIM ataca regularmente as forças de segurança. Testemunhas disseram que as forças foram de porta em porta, reuniram todos os homens e interrogaram-nos à porta de uma mesquita, onde mataram um jovem de 19 anos.
“A mãe dele disse-me que quando os [combatentes] do Grupo Wagner lhe ordenaram que fosse à mesquita, ele recusou e chamou-lhes ‘kuffar’ [descrentes],” uma testemunha disse à HRW. “Então, um [combatente] do Grupo Wagner atirou nele. Vi o corpo com um ferimento de bala no peito.”
As forças conduziram operações semelhantes a 15 de Agosto na aldeia de Toulé, matando sete homens e incendiando dezenas de casas. Um agricultor disse que se escondeu num canal de irrigação no seu campo de arroz. Ouviu pessoas a gritar e viu chamas a saírem da aldeia.
“No dia seguinte, regressei a Toulé e encontrei os corpos de sete aldeões, com as mãos atadas atrás das costas, com os olhos vendados e com a garganta cortada,” contou.
Um homem de 52 anos disse que três dos seus filhos se encontravam entre os 21 civis alegadamente mortos em Tinzawaten, onde 47 soldados das FAMa e 84 mercenários russos foram mortos em Julho durante uma feroz batalha de três dias com a JNIM. Dois dos filhos do homem tinham menos de 18 anos.
“Ouvi os dois ataques e o medo de um terceiro impediu-me de correr para o local,” o homem disse à HRW. “Assim, os corpos dos meus filhos ficaram ali até ao início da noite, quando finalmente os vi, todos atingidos por estilhaços. … Enterrámo-los num único buraco, sem lhes tirar a roupa, a apenas 900 metros do local do ataque.”
Dezenas de soldados malianos e cerca de 10 combatentes russos atacaram a aldeia de Ndorgollé no dia 8 de Outubro. Testemunhas disseram que soldados uniformizados chegaram às 8 horas da manhã em mais de 20 veículos militares, incluindo dois carros blindados. Cercaram a aldeia, mataram dois homens e prenderam outros três.
“Perguntaram a um homem mais velho onde estava o seu filho,” disse um pastor. “Ele respondeu que não sabia. Então, um soldado deu-lhe um tiro no peito à queima-roupa. Depois disso, o seu filho saiu e foi baleado na cabeça.”