Os chefes tradicionais dos Camarões, do Chade, do Níger e da Nigéria estão a organizar-se além-fronteiras para reforçar a luta contra o extremismo e o terrorismo na Bacia do Lago Chade.
A primeira Reunião Regional dos Governantes Tradicionais da Bacia do Lago Chade teve lugar a 27 e 28 de Janeiro em Maiduguri, na Nigéria, tendo os líderes decidido combater as causas profundas da insegurança, incluindo a pobreza extrema, o desemprego, a desigualdade, a violência contra as mulheres e a falta de cooperação transfronteiriça.
“O objectivo final dos nossos esforços é criar uma região resiliente na Bacia do Lago Chade, uma região onde as pessoas possam viver em paz, ter acesso a oportunidades e construir um futuro melhor para os seus filhos,” afirmou o Secretário-Executivo da Comissão da Bacia do Lago Chade, Mamman Nuhu.
Nuhu, que é também o chefe de missão da Força-Tarefa Conjunta Multinacional, cerrou o punho para sublinhar a importância do apoio local às estruturas regionais alargadas da comissão.
“É muito importante que as autoridades locais continuem a apropriar-se do plano de acção territorial, que foi elaborado pelos governadores dos Estados,” afirmou no dia 29 de Janeiro. “É a única forma de garantir a adesão local. Esta é a primeira lição após cinco anos de aplicação do plano. A segunda lição é a necessidade de coordenação transfronteiriça. O terrorismo não respeita as fronteiras internacionais. É isso que temos estado a fazer durante a reunião dos governantes tradicionais e durante todo este fórum, é criar estas relações transfronteiriças.”
Cerca de 35 monarcas reuniram-se durante dois dias antes de participarem na quinta edição do Fórum dos Governadores da Bacia do Lago Chade, de 29 a 31 de Janeiro. Todos eles já sofreram o flagelo da insurgência do Boko Haram desde o seu início em 2009.
O emir de Fika, Muhammadu Idrissa, que também é presidente do Conselho de Governantes Tradicionais do Estado de Yobe, dirigiu a reunião. Sublinhou a necessidade de fazer face “à insegurança que assola a região” e de restabelecer a ordem e o desenvolvimento.
“Estamos muito desejosos de reforçar a amizade entre nós para nos ajudarmos mutuamente a controlar actividades suspeitas nas nossas respectivas comunidades e outras coisas como a proliferação de armas de pequeno calibre nas nossas comunidades,” disse, de acordo com o site de notícias Business Day Nigeria. “Vamos analisar iniciativas baseadas na comunidade, defender projectos que promovam a educação, os meios de subsistência e o apoio às comunidades.”
No final da reunião de dois dias, os governantes tradicionais divulgaram um comunicado em que se comprometem a desenvolver quadros locais para o diálogo, com ênfase nos jovens, nas mulheres e nos grupos marginalizados. O grupo afirmou também que iria estabelecer quadros para a resolução de conflitos relacionados com o comércio e o acesso aos recursos naturais.
“Comprometemo-nos a reforçar o nosso papel de guardiões da cultura e da tradição, da paz, da prevenção e da gestão dos conflitos comunitários e da promoção do diálogo e da reconciliação entre as partes,” disseram no comunicado. “Condenamos veementemente todas as formas de violência contra as mulheres, sejam elas físicas, psicológicas, económicas ou culturais. Estamos empenhados em sensibilizar as nossas comunidades para os direitos das mulheres e em promover comportamentos respeitosos e equitativos.”
Os monarcas concordaram igualmente em ajudar a criar centros de escuta e assistência e a integrar as mulheres nos processos de mediação e de tomada de decisões, reconhecendo assim o seu papel essencial na construção da paz.
Ao ler as observações preparadas pelo Presidente da Nigéria, Bola Tinubu, o Vice-Presidente Kashim Shettima afirmou que, embora o poder militar seja necessário para conter as ameaças colocadas pelo Boko Haram e pelo grupo Estado Islâmico, a resposta global deve ser multifacetada.
“Devem ser complementadas por estratégias que resolvam as causas profundas da insegurança: a pobreza, a desigualdade e a falta de oportunidades para os nossos jovens,” afirmou. “A verdadeira essência do poder não está na sua posse, mas na sua aplicação. O poder duro pode proteger as fronteiras, mas é o poder suave, através da diplomacia, da cultura e dos valores comuns, que constrói pontes e nos une.”