Os ganhos militares das Forças Armadas do Sudão no Estado de Cartum podem significar que está à vista o fim da guerra civil de dois anos no país, afirmou recentemente o Ministro dos Negócios Estrangeiros sudanês, Ali Yusuf.
Os comentários de Yusuf, feitos durante uma reunião no Egipto, a 10 de Fevereiro, com embaixadores estrangeiros e representantes de missões diplomáticas no Sudão, surgiram no momento em que as SAF ganhavam terreno em Kafouri Bahri, um reduto do seu rival, as Forças de Apoio Rápido (RSF). O Exército enviou aviões de guerra e artilharia pesada para Kafouri Bahri, que fica a 7 quilómetros a nordeste de Cartum, a capital.
Dias antes de Yusuf ter falado no Cairo, as SAF, lideradas pelo General Abdel Fattah al-Burhan, intensificaram a sua ofensiva em Khartoum, avançando a partir das periferias sul e leste da cidade. O General Mohamed “Hemedti” Hamdan Dagalo lidera as RSF rivais.
As conversações destinadas a pôr termo à esmagadora guerra fracassaram.
“Insistimos na implementação da Declaração de Jeddah como condição para encetar quaisquer futuras negociações com as RSF,” Yusuf disse numa reportagem da Agência Anadolu. O comunicado reconhece as obrigações de ambas as partes, ao abrigo do direito internacional humanitário e dos direitos humanos, de facilitar a acção humanitária para satisfazer as necessidades de emergência dos civis. As SAF também obtiveram ganhos militares no Estado de al-Jazirah, onde se aproximaram de Abu Quta, a cerca de 65 quilómetros do local onde as forças das RSF estão fortemente concentradas.
Em Janeiro, as SAF recapturaram Wad Madani, a capital de al-Jazirah. A reconquista de Wad Madani, um centro agrícola e comercial que estava na posse das RSF desde Dezembro de 2023, foi considerada uma vitória importante para as SAF. Grupos aliados, como as Forças do Escudo do Sudão, as Brigadas Al-Baraa bin Malik e os batalhões da Força Conjunta do Darfur, ajudaram a recuperar a estratégica cidade.
As únicas batalhas importantes em Wad Madani foram travadas nos arredores da cidade. Enquanto as SAF avançavam, as RSF recuavam. A retirada das RSF “não foi voluntária,” Faisal Mohamed Saleh, antigo Ministro da Informação do Sudão, escreveu no jornal britânico Asharq Al-Awsat. “O ataque em várias frentes do Exército e a inevitabilidade de uma derrota iminente deixaram as RSF sem opção.”
Hemedti reconheceu a derrota, mas prometeu continuar a lutar.
“Perdemos Wad Madani, mas vamos recuperá-la,” disse num discurso. “As pessoas só precisam de se reagrupar, reorganizar e reavaliar.”
Estes ganhos das SAF levam Saleh a acreditar que o equilíbrio do poder militar na guerra se alterou. As SAF passaram grande parte de 2024 a recuperar o terreno que tinham perdido para as RSF no início da guerra. Segundo Saleh, as RSF estão a desmoronar-se rapidamente porque estão sobrecarregadas. Simplesmente não dispõem de tropas suficientes para proteger as zonas que ocuparam.
“A estratégia das RSF baseou-se no pressuposto de que o exército não dispunha de infantaria móvel capaz de se deslocar rapidamente para as batalhas urbanas utilizando veículos ligeiros que pudessem manobrar à volta de tanques e veículos blindados lentos,” escreveu Saleh.
O Exército sudanês recrutou milhares de novos combatentes, adquiriu grandes quantidades de veículos e equipamento militar e ganhou uma vantagem significativa ao assegurar aviões modernos de nações aliadas, escreveu Saleh. A Força Aérea do Sudão também intensificou os seus ataques às instalações das RSF, permitindo às forças de infantaria avançar em várias frentes.
“A realidade no terreno sugere que as RSF não podem permanecer em Cartum e em Al-Jazira,” segundo Saleh. “A não ser que apresentem novos reforços, não têm uma estratégia viável, e isso não parece possível nesta fase.”
Em meados de Fevereiro, os Emirados Árabes Unidos apelaram a um cessar-fogo com a aproximação do Ramadan. Os EAU fornecem armas às RSF, e as SAF rejeitaram rapidamente a proposta. O Irão e a Rússia ajudam a abastecer as SAF.
“Não aceitamos um cessar-fogo no Ramadan até que o cerco seja quebrado em todas as cidades e áreas sitiadas,” uma fonte de alto nível do exército sudanês disse à Reuters.
As RSF ainda controlam grande parte do Sudão Ocidental, onde há meses lutam contra as SAF pelo controlo de El-Fasher, capital do Estado de Darfur do Norte. El-Fasher é o último reduto das RSF na região de Darfur.
No final de Janeiro, um ataque com drones ao único hospital em funcionamento na cidade matou 70 pessoas. O ataque, atribuído às RSF, foi objecto de condenação internacional. Ambas as partes são acusadas de terem cometido crimes de guerra, nomeadamente de terem atingido civis e de terem bombardeado indiscriminadamente zonas residenciais.
A guerra no Sudão matou dezenas de milhares de pessoas e deslocou mais de 12 milhões de pessoas, provocando o que as Nações Unidas descreveram como a pior crise de deslocados do mundo.