Estão a decorrer confrontos na região de Amhara, na Etiópia, onde uma milícia de base étnica conhecida como Fano está a lutar contra a Força de Defesa Nacional da Etiópia (ENDF) pelo controlo territorial.
Em Janeiro, eclodiram combates em Debre Birhan, uma cidade situada 120 quilómetros a norte da capital, Adis Abeba. Os militantes da Fano utilizaram ataques convencionais e emboscadas contra as forças governamentais, informou a página da internet Borkena.
Foram igualmente registados combates nas cidades de Wollo, Gojjam e Gondar.
“O conflito continua a agravar-se, com violência generalizada e confrontos violentos em toda a região de Amhara e em partes de Oromia,” Hone Mandefro, da Associação Amhara da América, e Henok Ashagray, do Centro para os Direitos Humanos da Universidade de Pretória, escreveram num artigo para o Inter Press Service. “As forças governamentais intensificaram as suas campanhas militares e estão agora a utilizar ataques aéreos e drones, enquanto as milícias Fano resistem ferozmente. Os combates são graves e prolongados, com o controlo territorial a mudar frequentemente.”
A violência surge após o que a ENDF designou por uma grande operação militar lançada em Outubro de 2024 para derrotar a Fano. Mas os observadores acreditam que a Fano ainda controla cerca de 80% da região. A milícia opera sobretudo fora dos grandes centros populacionais e só por pouco tempo controlou cidades ou estradas importantes.
Os combates afectam quase todos os aspectos da vida na região de Amhara, perturbando a agricultura e o comércio, encerrando centros de saúde e aumentando o risco de fome. Mais de 4,1 milhões de crianças não frequentam a escola e mais de 4.000 escolas estão encerradas, segundo o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas.
Os analistas consideram que, apesar do elevado número de vítimas, a Fano continua a beneficiar de um apoio generalizado da população, nomeadamente nas zonas rurais.
“As comunidades locais parecem estar a colaborar estreitamente com os grupos,” o Rift Valley Institute disse numa análise de 2024. “Isso parece incluir a partilha de informações, o apoio logístico e o fornecimento de refúgios seguros. A estrutura da Fano, que envolve principalmente pequenos grupos que operam nas suas áreas de origem ou perto delas, significa que podem contar com laços estreitos com as comunidades locais.”
A Fano foi formada em 2016 como um movimento de protesto e, mais tarde, tornou-se um grupo armado que afirma proteger os direitos à terra e outros interesses dos Amhara. Durante a guerra de 2020 a 2022 na região de Tigré, a Fano lutou ao lado das forças do governo federal e recuperou uma área disputada conhecida como Tigré Ocidental. A Fano, o governo e as forças de Tigré foram acusados de crimes de guerra generalizados, incluindo ataques brutais contra civis.
Perto do fim do conflito, a ENDF começou a desarmar e a prender os combatentes da Fano e, em 2023, a Fano lançou uma insurgência.
No meio da prolongada insurgência, há algumas notícias positivas. Nas sete semanas que terminaram a 31 de Janeiro, registou-se uma diminuição de 44% nos combates na região de Amhara, em comparação com as sete semanas anteriores, de acordo com o projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) sobre o Observatório da Paz da Etiópia.
Os analistas do ACLED acreditam que esta diminuição se deveu a uma pausa durante as férias e ao facto de cerca de 4.000 combatentes da Fano se terem rendido. O mérito é também das conversações de paz iniciadas por diplomatas da União Africana, da União Europeia, dos Estados Unidos e de outros países. No entanto, o carácter fragmentado da Fano torna difícil a realização de debates com todas as partes em conflito. Existem pelo menos nove grupos Fano, incluindo alguns que estão a lutar entre si.
“As duas partes em conflito enfrentam um longo caminho para se sentarem à mesa das negociações, particularmente devido à falta de unidade entre as milícias Fano,” de acordo com um relatório do ACLED de 2024. “As conversações de paz isoladas com cada milícia complicariam as negociações e ofereceriam menos garantias de estabelecer e manter a paz na região. Além disso, sem uma Fano unificada para se juntar às conversações de paz, os esforços do governo para pôr fim ao conflito não têm sido suficientes.”