EQUIPA DA ADF
O atentado terrorista mais mortífero da história do Benin abalou o país e as suas forças armadas, dando origem a duras críticas internas e externas.
A Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), uma organização afiliada da al-Qaeda, reivindicou a responsabilidade pela morte de 30 soldados beninenses no ataque de 8 de Janeiro a uma posição do exército chamada base operacional avançada de Point Triple, no norte do país. A base fica perto do rio Mekrou, que marca a fronteira com o Burquina Faso e o Níger.
O chefe do Estado-Maior da Guarda Nacional do Benin, Coronel Faizou Gomina, qualificou a base como “uma das mais fortes e militarizadas,” ao mesmo tempo que exortou os comandantes militares a melhorarem as suas estratégias operacionais.
“Recebemos um golpe muito duro,” afirmou num comunicado de 9 de Janeiro. “Acordem, oficiais e chefes de secção. Temos batalhas para ganhar. … Têm de ter a força para comandar e organizar os vossos homens no terreno. O equipamento por si só não é suficiente para ganhar uma luta.”
O porta-voz do Governo, Wilfried Léandre Houngbédji, criticou as juntas militares no poder do Burquina Faso e do Níger numa conferência de imprensa realizada a 15 de Janeiro, após uma reunião do Conselho de Ministros do Benin.
“Se dependesse do Benin, do Presidente Patrice Talon, estaríamos numa estratégia concertada com os nossos vizinhos,” disse. “Apesar dos nossos esforços que nos permitem conter o mal ou mesmo afastá-lo, as nossas forças de defesa e segurança posicionadas nas nossas linhas fronteiriças do norte continuam a ser testadas por terroristas que estão completamente livres nos países vizinhos.”
As forças armadas do Benin responderam ao ataque com “operações intensas contra os militantes entrincheirados no Parque Nacional W e nas suas imediações,” informou o analista de riscos de segurança Charlie Werb no dia 10 de Janeiro.
Uma fonte militar disse à Agence France-Presse que as operações de combate ao terrorismo mataram pelo menos 40 militantes.
“O contra-ataque do exército foi imediato e foram mobilizados aviões da força aérea e tropas terrestres para repelir os terroristas,” disse uma fonte militar sénior ao HumAngle media. “Além disso, está em curso uma importante operação de limpeza para avaliar a extensão dos danos e localizar os assaltantes.”
Até agora, em 2025, a JNIM tem intensificado os seus ataques no Burquina Faso, mas o grupo também reivindicou um ataque a 21 de Janeiro a uma base beninense perto da cidade de Porga, perto da fronteira com o Burquina Faso e o Togo. Os militantes terão matado quatro soldados e roubado um conjunto de armas e munições.
Em Dezembro de 2024, homens armados não identificados mataram três soldados e feriram outros quatro que estavam a guardar um oleoduto no nordeste do Benin. Em Junho de 2024, sete soldados beninenses foram mortos num ataque no Parque Nacional Pendjari, na fronteira com o Burquina Faso.
“O ataque [de Janeiro de 2025] realça os desafios que as forças beninenses enfrentam, dadas as fortes zonas de apoio aos insurgentes do outro lado da fronteira, no Burquina Faso e no Níger, que permitem grandes ataques no norte do Benin,” escreveu o analista Liam Carr na sua avaliação de 16 de Janeiro sobre as Ameaças Críticas.
“As Nações Unidas informaram em Julho de 2024 que as células da JNIM baseadas no Burquina Faso realizam a maior parte dos ataques do grupo nos países do litoral com o objectivo de estabelecer zonas de apoio sobre recursos e corredores logísticos essenciais para a expansão.”
Em 2022, o Benin enviou cerca de 3.000 soldados para reforçar a segurança no norte e impedir a passagem das fronteiras no âmbito da Operação Mirador. As forças de segurança também recrutaram mais 5.000 efectivos para serem destacados no norte.
No entanto, o impacto do reforço militar deixou os funcionários com mais perguntas do que respostas. Mais de 120 militares beninenses foram mortos entre 2021 e Dezembro de 2024, uma fonte diplomática disse à AFP no início de Janeiro.
“Actualmente, é evidente que a ameaça está a intensificar-se, quanto mais a situação no Níger e no Burquina Faso se deteriora, mais difícil se torna para o Benin,” disse a fonte, acrescentando que o exército beninense ainda está “em construção” e enfrenta o desafio de treinar as suas tropas enquanto está operacional.
“Há resultados. [O exército beninense] pode matar terroristas, mas não quer comunicar esse facto, por isso, nem sempre é visível — sobretudo para não informar os jihadistas da sua estratégia e porque é indutor de ansiedade,” disse a fonte.
O Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Benin, General Fructueux Gbaguidi, também chamou a atenção para a falta de cooperação antiterrorista dos países vizinhos a norte. Observou que as autoridades beninenses tomaram medidas com o Burquina Faso e o Níger, mas que esses esforços ainda não se traduziram em acções.
“O Benin sempre procurou uma sinergia de acção na sub-região,” afirmou no dia 16 de Janeiro, de acordo com o jornal estatal La Nation. “O Presidente da República do Benin deslocou-se duas vezes ao Burquina Faso. Visitei o Burquina Faso duas vezes para propor que trabalhássemos em conjunto.
“O terrorismo funciona em redes e é essencial que unamos forças para o enfrentar.”