EQUIPA DA ADF
Enquanto o Sudão continua a ser dilacerado pela guerra civil, a Rússia e o Irão estão a alimentar o conflito com armas e outros bens. Os países estão a fornecer às Forças Armadas do Sudão (SAF) armas, drones, combustível e peças para caças, enquanto estas lutam contra as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares. Os Emirados Árabes Unidos (EAU) são acusados de armar as RSF.
Simon Marks, repórter da Bloomberg, esteve recentemente em Port Sudan, uma localização estratégica no Mar Vermelho que atrai a Rússia e o Irão. Marks analisou imagens de satélite e dados de transporte e entrevistou funcionários sudaneses sobre as entregas de Moscovo e Teerão.
“Estão a utilizar esse porto para fazer entrar e sair coisas, através das exportações de ouro que estão a utilizar para gerar fundos para pagar os abastecimentos que alimentam a guerra,” Marks disse na Bloomberg Television.
Disputando a Presença em Port Sudan
A Rússia, que inicialmente apoiou as RSF, há anos que faz pressão para que seja instalada uma base militar em Port Sudan, receando perder os seus meios militares na Síria, um elo crítico com África. Em troca, a Rússia terá oferecido equipamento militar avançado, incluindo o sistema de defesa antimíssil S-400, mas o Sudão rejeitou a proposta em Dezembro de 2024.
“Podemos ver que a Rússia pode fazer entrar os seus navios [no Sudão] através da sua chamada ‘frota sombra’ para fornecer combustível,” disse Marks. “E também vimos que o Irão pode facilmente enviar navios da zona do Golfo para Port Sudan e fazer entrar coisas, não só nos portos, mas também no aeroporto, que foi ampliado. A ala militar teve a sua pista alargada e um hangar foi construído para dar resposta a algumas destas importações que estão a chegar.”
O Irão procurou atracar um porta-helicópteros na costa do Sudão. O Sudão ainda não concordou com isso, mas os analistas do Instituto Robert Lansing de Estudos sobre Ameaças Globais e Democracias acreditam que as SAF poderão abrandar essa posição à medida que a guerra for avançando. “Pensamos que Cartum não será capaz de resistir à pressão iraniana,” escreveram os analistas do instituto.
Os drones iranianos Mohajer-6 têm sido vitais para o sucesso das SAF na reconquista das áreas detidas pelas RSF e na expulsão da força das áreas a oeste de Cartum, observaram os analistas. Os drones iranianos são eficazes na identificação de alvos e requerem uma formação mínima dos utilizadores, dizem os especialistas, mas também têm sido mal utilizados, resultando na morte de civis.
O Irão faz isso para projectar poder, reforçar a sua aliança com o Sudão e influenciar o conflito, Eric Lob, professor associado de política e relações internacionais na Universidade Internacional da Florida, escreveu no The Conversation. Teerão também enviou drones para a Etiópia.
“No que diz respeito ao Sudão, armar as SAF ajuda tanto os objectivos geopolíticos mais amplos do Irão como a sua concorrência com os rivais regionais, incluindo a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e Israel,” escreveu Lob.
Envolvimento dos EAU
No início de Dezembro de 2024, o Ministério da Defesa do Sudão acusou os EAU de armarem as RSF através do Chade. Durante uma conferência de imprensa, o Major-General Ahmed Saleh Aboud afirmou que os EAU forneceram às RSF um “novo e avançado tipo de drone suicida de grandes dimensões,” enquanto o Ministro da Defesa, Yassin Ibrahim, caracterizou as acções dos EAU como “um claro acto de agressão contra o Estado.”
Estes drones têm mísseis teleguiados, uma envergadura de 5,3 metros e uma capacidade de carga útil de 50 quilogramas de explosivos, informou o The Sudan Tribune.
Aboud disse que os drones foram utilizados pela primeira vez num ataque a Omdurman no final de Novembro. Disse que os drones foram lançados a partir do Chade e que os combatentes das RSF estão a ser treinados pelas forças de Abu Dhabi nos EAU, em Cartum e no Darfur.
Em meados de Janeiro, os ataques de drones a instalações de produção de electricidade provocaram cortes de energia na maioria das zonas controladas pelas SAF. De acordo com a Reuters, os ataques começaram a 13 de Janeiro na barragem de Merowe, a maior do país.
Os cortes de electricidade propagaram-se cinco dias depois, após um ataque nocturno à central eléctrica de al-Shouk, no leste do Sudão, que matou um número desconhecido de pessoas. Activistas disseram ao The Sudan Tribune que uma central eléctrica no Estado de Sennar também foi atacada nesse dia, causando um apagão num aeroporto em Atbara.
Calcula-se que cerca de 150.000 pessoas tenham sido mortas durante a guerra e 8,7 milhões tenham sido obrigadas a abandonar as suas residências. Mais de metade das pessoas deslocadas são crianças. Em Outubro de 2024, só no Estado de al-Gezira, mais de 135.000 pessoas foram deslocadas em 10 dias devido a uma vaga de violência, segundo as Nações Unidas. Muitas vivem com pouca comida ou água.
“As palavras não podem descrever este tipo de coisa,” Mohamed Ahmed, vice-chefe da missão da organização Médicos Sem Fronteiras no Sudão, disse ao The New York Times. “É realmente um sentimento de desespero.”