EQUIPA DA ADF
Combatentes árabes étnicos das Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares do Sudão cometeram dezenas de crimes de guerra contra civis residentes em duas comunidades no Estado do Cordofão do Sul enquanto lutavam contra as forças governamentais, de acordo com uma análise recente da Human Rights Watch.
Imagens de satélite e entrevistas com sobreviventes documentaram a investida das RSF contra as comunidades de Habila e Fayu, ambas povoadas por pessoas de etnia não árabe Nuba. Os ataques dos primeiros três meses de 2024 mataram pelo menos 56 civis. Os combatentes das RSF são também acusados de violar mulheres e de saquear e incendiar casas em ambas as comunidades. Imagens de satélite mostram que, desde o ataque, ambas as comunidades foram maioritariamente abandonadas, de acordo com a Human Rights Watch (HRW).
“Os abusos cometidos pelas Forças de Apoio Rápido contra civis no Cordofão do Sul são emblemáticos das atrocidades que continuam a ser cometidas em todo o Sudão,” Jean-Baptiste Gallopin, investigador sénior da HRW para crises e conflitos, disse num comunicado.
A HRW apelou à intervenção das Nações Unidas e da União Africana no conflito para proteger os civis. Os ataques das RSF ocorreram enquanto o grupo paramilitar lutava contra as tropas das Forças Armadas do Sudão (SAF) e do Movimento de Libertação do Povo do Sudão-Norte (SPLM-N), uma milícia essencialmente Nuba, pelo controlo do Cordofão do Sul.
O SPLM-N controla a maior parte do Cordofão do Sul, que engloba as montanhas Nuba na fronteira com o Sudão do Sul. O SPLM-N tem lutado tanto com as SAF como com as RSF desde o início da guerra em Abril de 2023.
Em Outubro de 2024, os investigadores falaram com cerca de 70 pessoas, incluindo 40 sobreviventes de Habila e Fayu, que viviam em campos para pessoas deslocadas em zonas controladas pelo SPLM-N. Com base nessas entrevistas, os investigadores conseguiram documentar 56 mortes de civis, incluindo 11 mulheres e uma criança. Também documentaram 79 mulheres e raparigas que foram violadas por combatentes das RSF, numa forma de escravatura sexual.
As RSF entraram em Habila no dia 31 de Dezembro de 2023. Um dia depois, os combatentes entraram em Fayu.
“Quando as RSF chegaram, eles disseram aos homens: ‘Tirem as vossas armas para nós!,’” um residente de Habila disse à HRW. “Os homens disseram que não tinham armas. Depois, as RSF disseram: ‘Tragam o vosso dinheiro.’ Os homens disseram que não tinham dinheiro. Foi então que as RSF começaram a disparar contra eles.”
Um vídeo filmado e publicado nas redes sociais por combatentes das RSF na aldeia vizinha de Tungul mostrava casas em chamas por volta de 12 de Fevereiro.
“Os assassinatos deliberados de civis, as violações e outras formas de violência sexual, as pilhagens e a destruição deliberada de bens civis são crimes de guerra,” afirmam os investigadores da HRW no seu relatório.
A destruição no Cordofão do Sul reflecte os ataques contra os rebeldes na região, levados a cabo pelas SAF e pelas RSF em nome do então ditador Omar al-Bashir em 2014. As RSF utilizaram tácticas semelhantes de destruição de aldeias inteiras para expulsar a população local, numa forma de limpeza étnica.
Desta vez, a estratégia expulsou mais de 47.000 pessoas das suas casas no condado de Habila até Abril de 2024, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações. Os habitantes que fugiram de Habila e de Fayu disseram que regressaram dias depois e que pouco restava das suas comunidades.
“Não havia nada,” um morador de Fayu disse à HRW. “Tudo foi destruído, completamente saqueado. Levaram a minha cama, os meus lençóis, o nosso tractor com o reboque, as nossas roupas e todos os nossos bens dentro [da nossa casa]… até a porta.”