EQUIPA DA ADF
O ouro é apenas um dos minerais preciosos encontrados em abundância na província de Kivu do Sul, no leste da República Democrática do Congo (RDC). Mas a raiva continua a crescer entre os habitantes da região, à medida que os flagelos da extracção ilegal de minérios e do contrabando os privam da riqueza das suas terras.
No dia 8 de Janeiro, várias centenas de pessoas protestaram na cidade de Bukavu, após a libertação de um grupo de chineses detidos por suspeita de exploração mineira ilegal. Dois congoleses empunhavam um dístico onde se lia “Os minerais do Kivu do Sul devem servir o desenvolvimento e o bem-estar das comunidades locais,” segundo a Agence France-Presse.
“Estas empresas chinesas em (cidades de) Lugusha, Kitutu, Kaboke, Suguru e Mitobo não cumpriram as suas promessas,” um manifestante disse ao Serviço da Voz da América para a África Central. “Prometeram construir escolas, pontes, estradas, hospitais, um estádio e bolsas de estudo para os nossos alunos. Mas eles não fizeram nada.”
O líder da sociedade civil Nene Bintu instou as autoridades a tomarem medidas.
“Os nossos minerais estão a ser pilhados por empresas que são maioritariamente chinesas e o nosso povo continua em extrema pobreza, as estradas estão muito degradadas, temos dificuldade em conseguir água potável, cuidados de saúde, educação, electricidade, emprego,” disse durante a manifestação, segundo a Reuters. “Esta situação já se arrasta há demasiado tempo e tem de acabar agora.”
É um sentimento apoiado pelo governador provincial, Jean Jacques Purusi, que disse aos jornalistas locais ter ficado chocado ao saber que 17 cidadãos chineses, detidos em Dezembro e acusados de explorarem uma mina de ouro ilegal, tinham sido libertos e autorizados a regressar à China.
Purusi, que ouviu falar de um carregamento de minerais que foi recentemente contrabandeado para fora do país, criou discretamente um sistema de monitorização. A iniciativa rapidamente deu frutos, pois as autoridades foram alertadas para uma grande tentativa de contrabando.
“Esta informação revelou-nos que outra quantidade de minerais ia ser retirada do mesmo local para atravessar a fronteira,” disse Purusi, segundo o jornal congolês de língua francesa, Actualité. “Assim que recebemos esta notícia, organizámos uma operação.”
As autoridades interceptaram um veículo em excesso de velocidade na aldeia de Mashango, no território de Walungu, a menos de 50 quilómetros da fronteira com o Ruanda. Prenderam três chineses, revistaram o carro e encontraram 12 barras de ouro e cerca de 800.000 dólares escondidos debaixo dos bancos.
No dia 14 de Janeiro, um juiz de Bukavu condenou os homens a sete anos de prisão e ordenou-lhes que pagassem 600.000 dólares em multas por exploração ilegal de recursos minerais, fraude, branqueamento de capitais e pilhagem, de acordo com os documentos do tribunal. O juiz também proibiu permanentemente a entrada dos homens no país após o cumprimento das suas penas. Tratou-se a primeira vez que a RDC condenou correctores de minérios estrangeiros por exploração mineira sem autorização.
“Este é um julgamento educativo que deve servir de alerta para todos os cidadãos chineses que pensam que podem sair da China, chegar a Kitutu, Kibe, Lugushwa, Kamituga ou Mwenga e comportarem-se como se estivessem no seu próprio quarto, sem sequer pagar as taxas do hotel,” Christian Wanduma, um advogado que representa as comunidades locais no julgamento, disse aos jornalistas no exterior do tribunal após a sentença.
As autoridades do Kivu do Sul intensificaram os esforços para combater o tráfico ilegal de minerais. Em Junho de 2024, as autoridades identificaram 547 empresas a operar ilegalmente. Em Julho, Purusi suspendeu todas as actividades mineiras e ordenou às empresas e aos operadores que abandonassem as suas instalações, a fim de melhorar as capacidades reguladoras da província. No dia 13 de Janeiro, na véspera do veredicto, disse aos jornalistas que os seus eleitores estavam exasperados com as operações chinesas que pilhavam sistematicamente os minerais congoleses.
“Isso é apenas um décimo do que eles já nos tiraram,” disse Purusi, segundo a VOA. “Não o deixaremos escapar. Esta é a riqueza do povo do Kivu do Sul. Estamos determinados a ir até ao fim, porque já chega.”