EQUIPA DA ADF
Um jovem agricultor maneja uma enxada sob um sol implacável na província de Ituri, no nordeste da República Democrática do Congo. Um soldado da Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO) estava por perto, protegendo-o.
Ao longo de uma estrada de terra batida, as forças de manutenção da paz da MONUSCO acompanhavam mulheres e crianças que transportavam cestos de produtos agrícolas. À volta dos campos agrícolas, capacetes azuis com espingardas estavam preparados para impedir qualquer ameaça aos trabalhadores.
Durante anos, a região foi afectada por conflitos entre grupos rebeldes, forças de autodefesa e outras milícias. O grupo terrorista M23, em particular, está activo na zona e os agricultores, muitos deles deslocados das suas casas devido ao conflito, congratulam-se com a presença protectora da MONUSCO.
“Vim para cá por causa da presença da MONUSCO,” Lokana Heritier, de 23 anos, que vive no território de Djugu, disse à Reuters. “É graças à presença deles que vou para o campo; caso contrário, tenho medo.”
Ituri é uma das províncias do leste da RDC que enfrenta níveis de crise ou de emergência de fome devido ao conflito em curso, às deslocações e à interrupção da produção agrícola. Mais de 7 milhões de pessoas no leste da RDC foram deslocadas devido à violência, metade das quais são crianças, segundo a organização Save the Children.
Conhecida como “Colheita Segura,” a operação da MONUSCO protege os agricultores que cultivam principalmente milho, feijão, batata e mandioca. O objectivo é permitir-lhes cultivar livremente durante a época das colheitas.
“Em caso de problema, só precisamos de lhes enviar um bipe e depois a MONUSCO telefona-nos,” um outro agricultor disse à Reuters. “Damos-lhes o local onde ocorreu o ataque. Intervêm rapidamente… estão tão perto que basta dar-lhes o sinal, dar-lhes o aviso prévio e eles intervêm.”
O Brigadeiro-General Monzurul Alam, comandante da MONUSCO, disse que a ideia de formar a missão foi concebida em 2022.
“Tínhamos visto e avaliado a situação operacional na nossa área de responsabilidade,” disse Alam. “Vimos que durante a época das colheitas — ou seja, Outubro, Novembro e Dezembro — a população vai para os campos para colher os seus produtos agrícolas. Os perpetradores, os grupos armados, aproveitam a oportunidade para invadir os campos agrícolas e saquear artigos variados. Também tem havido muitos assassinatos.”
Destacada na RDC desde 2010, a força da MONUSCO, com 13.500 efectivos, tem sido alvo de escrutínio devido à percepção de que não protegeu adequadamente a população. O Presidente Félix Tshisekedi insistiu na retirada total da missão até ao final de 2024, mas o Conselho de Segurança da ONU, no final de Dezembro, prorrogou o mandato da missão por um ano, principalmente devido a preocupações com o M23.
No início de Janeiro, o M23 ganhou o controlo de Masisi, uma cidade estratégica e centro administrativo local a cerca de 80 quilómetros da grande cidade de Goma, na província de Kivu do Norte, que faz fronteira com Ituri. Pelo menos sete civis foram mortos.
Fontes locais disseram à Al Jazeera que os combates deslocaram milhares de pessoas que estão agora a procurar abrigo nas áreas circundantes, incluindo Goma, que já acolhe 4 milhões de pessoas deslocadas.
Bintou Keita, chefe civil da MONUSCO, condenou a violência em curso.
“Esta escalada de violência, que afecta cruelmente as populações civis, constitui um ponto de viragem trágico na meta do ano 2025 e deve parar imediatamente,” Keita disse num comunicado. “Expresso as minhas mais sinceras condolências às famílias das vítimas destas atrocidades.”
De acordo com a France 24, o M23 capturou recentemente outras cidades do Kivu do Norte, incluindo
Alimbongo, que tem mais de 20.000 habitantes, e Bingi, que tem 60.000 habitantes.
“São zonas remotas, onde há poucos jornalistas e a maioria das pessoas não tem telefone,” Baraka Héritier, um jornalista baseado em Goma, disse à France 24. “Há aldeias, como Bingi, por exemplo, onde nem sequer existe uma rede telefónica.”
Em meados de Janeiro, a violência envolvendo o M23 tinha-se estendido aos territórios de Masisi, Lubero e Nyiragongo, no Kivu do Norte. Em Lubero, as forças congolesas estão a utilizar aviões de combate e helicópteros de combate para bombardear o território rebelde.
“O exército tem feito grandes esforços para tentar derrubar os rebeldes nesta região — para além dos aviões, está a utilizar artilharia pesada,” Martial Bendelo, jornalista do canal de televisão Télé 50, disse à France 24. “Os rebeldes estão a aguentar-se, apesar dos bombardeamentos. Para já, não se retiraram de nenhuma aldeia. No entanto, os bombardeamentos estão a ter um impacto grave nas populações civis, muitas das quais fugiram das zonas de combate.”