EQUIPA DA ADF
O Faraó Taharqa era devoto à tradição. Construiu pirâmides. Aceitou títulos, falou a língua egípcia e utilizou o seu sistema de escrita como meio de registo. Assumiu projectos de construção ambiciosos e empenhou-se na revitalização dos locais religiosos egípcios.
Mas Taharqa, que governou de 690 a.C. a 664 a.C., não era egípcio. Era um núbio do Reino de Kush, na actual região do Sudão. Foi um dos faraós núbios da 25.ª Dinastia. Os núbios governaram o Egipto durante quase 100 anos.
A ascensão da dinastia ao poder no Egipto começou com o Rei Piye, do império Kush, que invadiu o Egipto e capturou Mênfis, a capital, em 727 a.C. Declarou-se faraó, mas a conquista só ficou completa quando o seu sucessor, Shebitku, estabeleceu totalmente o controlo kushita sobre o Egipto.
O Egipto estava a perder poder e prestígio quando os núbios chegaram. Procuraram restaurar o reino à sua antiga glória e reunificaram o Baixo Egipto e o Alto Egipto e, juntamente com Kush, criaram o maior império egípcio desde que a era do Novo Reino terminou, cerca de 1070 a.C.
Taharqa sucedeu a Shebitku, mas o seu reino ficou para sempre na sombra do Império Assírio, no que é hoje o Iraque e outras partes do Médio Oriente. O rei assírio Esarhaddon conduziu várias campanhas contra Taharqa e tentou conquistar o Egipto em 673 a.C. Na esperança de um ataque surpresa, Esarhaddon fez marchar os seus soldados a grande velocidade, que estavam exaustos quando chegaram à cidade de Ashkelon. Na batalha que se seguiu, os assírios foram massacrados.
A derrota foi tão completa que Esarhaddon abandonou os seus planos de conquistar o Egipto durante dois anos. Quando finalmente regressou, o seu exército era muito maior e marchava a um ritmo mais lento para conservar a sua energia. Tomou Mênfis, confiscou as jóias da coroa e as concubinas do Egipto e capturou membros da família real, incluindo o filho e a mulher de Taharqa. Durante o tempo em que Esarhaddon controlou o Egipto, o seu império era o maior do mundo.
Quando Esarhaddon regressou à Assíria, Taharqa começou a planear revoltas contra ele em todo o Baixo Egipto e mais além. No espaço de dois anos, reocupou Mênfis e o Delta do Nilo e começou a trabalhar com o rei de Tiro, no que é actualmente o sul do Líbano. Juntamente com o Reino de Tiro, Taharqa derrotou os governantes locais fantoches que Esarhaddon tinha nomeado.
Apesar da ameaça incessante da Assíria, o reinado de Taharqa é considerado um grande sucesso. Teve sorte com as chuvas abundantes que inundaram o Nilo e produziram colheitas abundantes durante anos. Mas os historiadores dizem que ele também era um governante inteligente e eficiente e que continuou a tradição dos faraós núbios de construir e restaurar templos e outros edifícios. A historiadora Caroline Armstrong descreveu-o como “o maior construtor entre os governantes kushitas.” Os seus novos templos estimularam o crescimento de “cidades-templo,” que serviam como centros locais de governo e centros de comércio.
O amor de Taharqa pela cultura egípcia era tal que encomendou a primeira pirâmide de Kush, em Nuri, na margem ocidental do Nilo, no actual Estado do Sudão do Norte. Foi responsável por um nível de integração sem precedentes das culturas egípcia e de Kush, evidenciado pelo renascimento da arquitectura, das artes e da religião para padrões mais antigos e mais elevados. Reconstruiu e ampliou templos e monumentos em Karnak, Kawa e Jebel Barkal — monumentos que sobrevivem até aos nossos dias.
Apesar das suas conquistas culturais, Taharqa não conseguiu travar o Império Assírio. Após a morte de Esarhaddon, o seu sucessor expulsou Taharqa, obrigando-o a retirar-se para o Alto Egipto e, finalmente, para Kush. Quando morreu, em 664, foi enterrado na sua pirâmide em Nuri.