EQUIPA DA ADF
O caos continua a reinar em muitas partes do Mali, com grupos militantes extremistas a aterrorizarem civis e a entrarem em confronto com as forças governamentais e mercenários russos quase diariamente.
Na sequência de um ataque descarado, em Setembro, contra a junta militar no poder na capital do Mali, Bamako, a aliança de grupos terroristas afiliados à al-Qaeda, denominada Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), está a tentar expandir as suas áreas de controlo.
No dia 29 de Novembro, a JNIM apoderou-se de uma outra cidade na região de Tombuctu, Léré, e tem-na mantido isolada desde então — uma táctica familiar que o grupo tem utilizado para asfixiar as economias locais, impedir os movimentos dos civis, interromper as rotas principais de abastecimento e continuar a expandir as extensões de terra sob o seu controlo.
“Os camiões ficaram presos na entrada da cidade e acabaram por voltar para trás,” disseram alguns residentes da zona à Radio France Internationale, descrevendo as acções da JNIM como um “bloqueio total.”
Seis dias antes da tomada de Léré, no centro do Mali, os militantes começaram a isolar a cidade, destruindo a ponte de Dabi, que a liga a Niafunké, a capital do distrito administrativo, a leste.
Mais recentemente, a JNIM cortou completamente a estrada que liga Léré a oeste à cidade de Niono, na região de Ségou — que depois liga a sul à capital, Bamako — ao tráfego do Mali e da Mauritânia, de acordo com um trabalhador dos transportes na região.
“As mercadorias devem ser transportadas em barcos de pesca a partir de Mopti através do rio,” disse à RFI.
A JNIM tem recorrido cada vez mais a bloqueios à medida que expande o seu território. Cercou cidades importantes como Tombuctu e Gao e cercou várias cidades e aldeias, incluindo Menaka e Boni.
“A JNIM consolidou zonas de apoio no norte da região de Koulikoro e no oeste da região de Ségou, que utiliza para degradar as linhas de comunicação do Mali, isolar os maiores centros populacionais e expandir-se para sul, em direcção a Bamako,” escreveu o analista Liam Karr na edição de 24 de Novembro do Africa File do Critical Threats Project.
“A JNIM controla a maior parte das zonas rurais do norte de Koulikoro e ao longo da fronteira regional entre Koulikoro e Ségou, a norte do Rio Níger. O controlo exercido pela JNIM nestas zonas caracteriza-se pela tributação do zakat, pelo encerramento de escolas, pelo impedimento da votação e por raptos de líderes locais sem qualquer resposta do governo.”
A analista do Sahel, Corinne Dufka, disse que a JNIM conseguiu pressionar várias comunidades a assinarem pactos de não-agressão.
“Os bloqueios sujeitam os aldeões à violência, à fome e ao medo e são, desde há muito, uma táctica utilizada por estes grupos jihadistas para castigar as comunidades pelo seu alegado apoio ao governo,” disse à The Associated Press.
Em muitos casos, o objectivo é minar o frágil governo militar do Mali e estabelecer um sistema alternativo de governação. Os civis apanhados no meio são frequentemente suspeitos de ajudarem as forças de segurança, os mercenários do Africa Corps e as organizações extremistas violentas.
“A nossa área é dominada pela JNIM e vocês têm de lidar com eles,” um homem de 30 anos de Ndorgollé, na região central de Ségou, disse à Human Rights Watch. “Dão-nos autorização para pastorear o gado e para pescar. É uma questão de sobrevivência e não de colaboração. Mas quando lidamos com eles, tornamo-nos um alvo [do governo], mesmo que não sejamos jihadistas.”
O custo humano dos cercos da JNIM é de grande alcance, cada assalto deixando um rasto de destruição, desespero e deslocação. À medida que mais cidades e aldeias sofrem incursões e bloqueios, o número de pessoas deslocadas internamente continua a aumentar.
Centenas de milhares de pessoas fugiram das suas casas no Mali, o que faz parte de uma tendência preocupante na região. Em Agosto de 2024, cerca de 5 milhões de pessoas foram deslocadas no Sahel, um aumento de 25% em relação a 2020, de acordo com as Nações Unidas.
Na cidade de Gao, no norte do país, que foi alvo de um bloqueio em 2024, o vice-presidente do município, Seyma Issa Maïga, apelou à junta para que fizesse face às tácticas de cerco da JNIM.
“Esta deve ser uma prioridade máxima para que as pessoas e os seus bens possam circular livremente, principalmente nas estradas,” disse à revista The New Humanitarian em 2024. “Estávamos lá em 2012 [quando o conflito começou] e ainda cá estamos hoje. Vamos lá estar amanhã e depois de amanhã.”
ADF is a professional military magazine published quarterly by U.S. Africa Command to provide an international forum for African security professionals. ADF covers topics such as counter terrorism strategies, security and defense operations, transnational crime, and all other issues affecting peace, stability, and good governance on the African continent.