EQUIPA DA ADF
A junta governativa do Níger assumiu o poder em Julho de 2023, prometendo restaurar a segurança nas zonas do país devastadas pela violência extremista. Mais de 18 meses depois, a situação só se agravou.
Os ataques contra soldados e civis nigerinos em Dezembro deixaram dezenas de mortos e serviram para lembrar mais uma vez que a junta liderada pelo General Abdourahamane Tchiani enfrenta desafios mais sérios do que o governo que derrubou.
De acordo com os dados do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, os extremistas afiliados ao Estado Islâmico mataram cerca de 1.600 civis desde o golpe de Estado, em comparação com os 770 anteriores.
Entretanto, a Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), filial da al-Qaeda, aumentou a sua actividade na região de Tillaberi, no sudoeste do Níger. A região faz fronteira com o Burquina Faso e com o Mali, onde os líderes das juntas estão igualmente a lutar para acabar com os extremistas depois de terem derrubado os seus próprios governos democraticamente eleitos. A JNIM expandiu as suas operações na região de Dosso, no sul do Níger, constituindo uma ameaça potencial para as zonas fronteiriças do Benin e da Nigéria.
Grupos extremistas em motociclos atacam frequentemente comboios que trazem alimentos e bens comerciais para o país sem litoral a partir de portos no Togo. Os camionistas esperam semanas para que os soldados nigerinos escoltem as suas colunas até à capital, Niamey. Os terroristas utilizam tácticas semelhantes contra colunas militares, permitindo que os seus combatentes ataquem rapidamente e escapem com a mesma rapidez.
As Nações Unidas descreveram os recentes ataques contra soldados e civis no Níger como sendo de “extrema letalidade.” A escalada da violência na região de Tillaberi, em particular, coloca soldados e civis à mercê dos terroristas. Em Novembro de 2024, o Exército informou que uma dezena de terroristas em motociclos matou três trabalhadores que faziam parte de uma empresa que construía uma barragem no Rio Níger, perto de Kandadji. Os atiradores fugiram para o Mali, onde o governo disse ter matado 10 pessoas num ataque aéreo.
Em Dezembro, os extremistas mataram 21 pessoas em Libiri, outra comunidade de Tillaberi. Saquearam os bens dos residentes e queimaram as suas casas. Dois dias depois, os extremistas mataram mais 18 pessoas na comunidade de Kokorou.
Hadjara Zibo e as suas três filhas fugiram da sua casa em Libiri quando os homens armados atacaram.
“Se nos alcançassem, podiam violar-nos e matar-nos,” Zibo disse ao The Guardian. Em 2021, os extremistas atacaram Libiri, mataram o marido de Zibo e raptaram algumas das mulheres da comunidade para servirem de escravas sexuais.
“Matam os homens à frente das mulheres,” disse Zibo. “As mulheres enfrentam o horror e a humilhação e, sem a ajuda da junta, somos deixadas à mercê dos jihadistas.”
Para além da morte de civis, as forças armadas nigerinas também estão a perder soldados devido a ataques terroristas. Os terroristas mataram pelo menos 90 soldados e 50 civis em dois ataques em Chatoumane, na região de Tillaberi, segundo testemunhas e a BBC. Testemunhas relataram que os atacantes se disfarçaram de civis e abriram fogo contra soldados em patrulha na feira semanal da comunidade. Os soldados não responderam ao fogo devido ao risco de matar ou ferir civis.
Os dirigentes da Junta afirmaram que apenas 10 pessoas morreram em Chatoumane. Denunciaram as notícias de mais mortes como infundadas e disseram que tinham como objectivo minar o moral dos militares. Pouco tempo depois, a junta expulsou a BBC do país e suspendeu as emissões em Francês e em Hausa da estação de rádio do Níger.
A proibição da BBC reflecte o afastamento da junta do apoio militar francês e norte-americano e a preferência por mercenários do Africa Corps da Rússia, antigo Grupo Wagner. Desde que as forças russas foram convidadas a entrar no país, as acções da junta tornaram-se mais violentas e menos transparentes, segundo os especialistas.
Rahmane Idrissa, um cientista político do Níger que ensina na Universidade de Leiden, na Holanda, disse ao The New York Times que a junta tem apenas uma abordagem para lidar com os extremistas: “Eles não têm uma estratégia real, excepto o uso da força bruta.”