Kremlin Abre ‘Casas Russas’ como Instrumento de Influência

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EQUIPA DA ADF

À primeira vista, e por definição, as Casas Russas em África parecem ser como os centros de intercâmbio cultural de qualquer outra nação.

Na sua página do Facebook, a Casa Russa em Bangui, capital da República Centro-Africana (RCA), intitula-se como “uma plataforma educativa e cultural.”

Estão estreitamente ligadas à Rossotrudnichestvo, a agência oficial russa para a cooperação internacional. Mas especialistas e jornalistas de investigação dizem que as Casas Russas são fundamentais para a vasta operação de desinformação e propaganda do Kremlin no continente.

A Rossotrudnichestvo assinou acordos em 2024 para criar formalmente casas russas na RCA, no Chade, na Guiné Equatorial, na Guiné, na Nigéria, na Serra Leoa e na Somália. Tenciona expandir-se ainda mais, de acordo com um artigo de Janeiro de 2024 da Iniciativa Africana, uma agência noticiosa gerida pela principal agência de segurança e informação da Rússia.

“Estes acordos representam apenas a parte visível da presença russa nestes países, muitas vezes, servindo como formalização de uma rede de influência já bem estabelecida,” Olena Snigyr, membro do Foreign Policy Research Institute, escreveu numa análise de 8 de Novembro. “A Casa Russa na RCA é amplamente considerada como uma fachada humanitária para as actividades do antigo Grupo Wagner.”

A Casa Russa em Bangui abriu informalmente em 2021 antes de ser reconhecida pela Rossotrudnichestvo em 2024. É gerida por Dimitri Sytyi, que controla a presença do Grupo Wagner mercenário na RCA e que, alegadamente, utiliza a Casa Russa como centro logístico para as operações de tráfico de ouro, diamantes e madeira do Grupo Wagner.

Maxime Audinet, investigador do Instituto de Investigação Estratégica da Escola Militar, considera que o plano para expandir a utilização das Casas Russas em África é uma peça importante numa guerra de informação implacável que está a ser travada contra os africanos.

“Isto reflecte a vontade de reforçar a diplomacia pública e cultural,” disse à Radio France Internationale. “Simboliza a intenção de criar raízes.”

A Rossotrudnichestvo, que responde perante o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, foi sancionada pela União Europeia e viu os seus bens congelados em Julho de 2022 por operar o que o bloco descreveu como uma rede de “agentes de influência” que espalhavam a desinformação do Kremlin após a invasão russa da Ucrânia.

Embora algumas Casas Russas noutras partes do mundo tenham sido acusadas de abrigar espiões, em África as ligações entre as Casas Russas e o Grupo Wagner são inconfundíveis.

Maxim Shugaley, que fazia parte da “troll farm” russa conhecida como Internet Research Agency, é conhecido por difundir propaganda pró-russa e tem laços estreitos com o Grupo Wagner. Visitou a Casa Russa no Níger em 2024 e foi detido no Chade em Setembro de 2024, antes de uma visita prevista à Casa Russa em N’Djamena.

“É uma forma de os chadianos traçarem linhas vermelhas e dizerem que não querem este tipo de pessoas no seu território,” Ivan Klyszcz, investigador de política externa russa no Centro Internacional de Defesa e Segurança, sediado na Estónia, disse ao The Africa Report.

Os jornalistas dos países que foram inundados pela desinformação russa estão a ter dificuldades em operar, visto que a sensibilização e a formação dos membros dos meios de comunicação locais são uma característica fundamental das Casas Russas em África.

“A presença dos russos mudou a forma como processamos a informação,” um jornalista nigerino que pediu o anonimato disse à Forbidden Stories, uma rede internacional de repórteres de investigação. “Os jornalistas foram comprados pelos russos através da junta para espalharem desinformação.

“Logo após a dissolução da casa de imprensa do país, em Janeiro de 2024, surgiu a Casa Russa. De acordo com alguns relatos, desde então tem estado a trabalhar com repórteres próximos do governo.”

Outro repórter, do Burquina Faso, disse que os primeiros alvos da desinformação russa no seu país foram os jornalistas locais.

“Estamos a viver as horas mais sombrias do jornalismo no Burquina Faso,” disse à Forbidden Stories.

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