Guerra no Sudão Desestabiliza o Chade Oriental

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EQUIPA DA ADF

Mais de 930.000 pessoas fugiram da guerra civil do Sudão para o leste do Chade, a maioria das quais chegou à província de Ouaddaï, onde a população local já enfrentava uma pobreza extrema e tensões étnicas.

Os refugiados sudaneses são maioritariamente mulheres e crianças do Darfur do Norte e do Darfur Ocidental, cuja capital, Al-Geneina, foi palco de abusos contra populações não árabes em 2023.

O grande afluxo de refugiados traumatizados pelas atrocidades cometidas pelas Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares no Sudão está a “importar novas queixas contra a comunidade árabe, que estão a alimentar os preconceitos dos Ouaddaïanos,” de acordo com um novo relatório do Grupo Internacional de Crise (ICG).

Estes ressentimentos sobrepostos “reforçam as fracturas comunitárias já presentes numa região que viveu outra grande crise de refugiados durante a guerra no Darfur, na década de 2000,” refere o relatório.

É provável que o número de refugiados no leste do Chade aumente, mas a ajuda humanitária já é insuficiente para satisfazer as necessidades dos refugiados e dos habitantes locais. As Nações Unidas e as organizações não-governamentais estão a prestar assistência de emergência na fronteira, mas a cessação das importações do Sudão está a provocar o aumento dos preços em zonas com baixas taxas de emprego.

De acordo com o ICG, a situação levou centenas de jovens chadianos a “juntarem-se a grupos armados no Sudão na esperança de enriquecerem.”

Há também o risco de conflito entre o Chade e o Sudão, à medida que a guerra civil sudanesa se vai prolongando. O Presidente do Chade, Mahamat Déby, proclamou a sua neutralidade na guerra, mas os analistas afirmam que fez negócios com os Emirados Árabes Unidos (EAU) que põem em causa a sua posição. Os EAU são o principal patrocinador internacional das RSF.

Os acordos incluem um empréstimo dos Emirados de 1,5 bilhões de dólares em Junho de 2023, que inclui o aumento da segurança, da energia e da cooperação mineira entre os dois países, e um empréstimo dos EAU de 500 milhões de dólares em Outubro de 2024.

O ICG também informou que o governo de Déby deu “consentimento tácito” para que os EAU fornecessem armas e equipamento às RSF a partir do Chade. Os aviões de carga dos Emirados aterram regularmente no Chade depois de terem cortado os seus transponders para evitar serem detectados, mas o Chade e os EAU negam que estejam a armar as RSF.

No início de Novembro, o Sudão apresentou uma queixa contra o Chade na Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos por causa do seu apoio às RSF. As autoridades chadianas responderam acusando o Sudão de apoiar grupos armados no Chade.

Citando entrevistas telefónicas com fontes de segurança em Outubro de 2024, o ICG também informou que cerca de 1.000 soldados chadianos desertaram. Este facto coincide com a informação do Sudan War Monitor sobre as deserções do exército chadiano para a Força de Protecção Conjunta de Darfur, no Sudão.

As ameaças crescentes de ataques do Boko Haram no oeste do Chade colocam ainda mais pressão sobre as suas forças armadas.

Em Outubro, 40 soldados chadianos e um número desconhecido de civis foram mortos num ataque a uma base militar na região do Lago Chade. Segundo as forças armadas do Chade, os rebeldes apoderaram-se de armas durante a fuga. O ataque levou Déby a lançar uma operação para expulsar o Boko Haram da zona.

Déby apelou também à comunidade internacional para que intensifique o seu apoio às medidas de luta contra o terrorismo no Sahel e na Bacia do Lago Chade.

“Uma acção colectiva determinada é essencial para erradicar este flagelo, que ameaça a estabilidade e o desenvolvimento de toda a região,” declarou o governo num comunicado publicado pelo porta-voz Abderaman Koulamalla.

Em meados de Novembro de 2024, o Boko Haram matou 17 soldados chadianos num ataque de fim-de-semana a um posto militar que também causou a morte de 96 insurgentes na região do Lago Chade, informou o exército chadiano.

Em Março, um ataque que o governo atribuiu ao Boko Haram matou sete soldados, de acordo com um relatório conjunto da Rédaction Africanews e da The Associated Press.

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