Especialistas: Ouro Africano Ajuda a Financiar a Guerra da Rússia Contra a Ucrânia

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EQUIPA DA ADF

Desde que invadiu a Ucrânia, a Rússia extraiu pelo menos 2,5 bilhões de dólares de ouro de África através de operações ilícitas facilitadas pelas suas forças paramilitares.

Esse dinheiro, retirado de minas artesanais e de pequena escala no Burquina Faso, na República Centro-Africana, na Eritreia, na Guiné, na Líbia, no Mali e no Sudão, “foi canalizado para a máquina de guerra russa,” segundo um relatório do Conselho Mundial do Ouro publicado em Novembro.

“A morte misteriosa de Yevgeny Prigozhin, chefe do Grupo Wagner de mercenários russos, num acidente de avião em Agosto de 2023, não reduziu o saque e a pilhagem de recursos naturais pela Rússia em todo o mundo — da Líbia à República Centro-Africana (RCA),” refere o relatório. “Pelo contrario, o Kremlin aproveitou o momento para recuperar o controlo sobre esses interesses comerciais lucrativos.”

Os peritos dizem que o ouro é movimentado através de esquemas internacionais intrincados e ilegais.

“Estamos a ver uma grande quantidade de ouro a ser vendida, contrabandeada e refinada e efectivamente branqueada através do Médio Oriente, em particular dos EAU [Emirados Árabes Unidos], no mercado do ouro do Dubai,” a analista política Jessica Berlin disse à National Public Radio (NPR). “Além disso, através da China e de Hong Kong, existem empresas fictícias muito, muito extensas e complexas, empresas fictícias que são utilizadas para movimentar o dinheiro.”

Berlin, co-autora do estudo “The Blood Gold Report,” publicado em 2023, afirma que o ouro é transportado em camiões e aviões para esses países, onde é derretido e misturado com ouro de origem legal. O relatório de Berlin centrou-se nas actividades de extracção de ouro da Rússia na RCA, no Mali e no Sudão.

“É nestes países que o comércio do ouro de sangue russo está a ganhar força,” Berlin disse à NPR. “São os principais alvos das operações da Rússia no sector do ouro.”

Na RCA, os mercenários do Africa Corps da Rússia cometem massacres em locais de mineração artesanal. Pelo menos 20 mineiros artesanais de Koki foram mortos em meados de Junho, depois de não terem comparecido a uma reunião convocada pelos mercenários. Após a reunião, os mercenários atacaram as minas em redor de Koki, segundo o Corbeau News Centrafrique (CNC) da RCA.

Cerca de uma semana depois, os combatentes do Africa Corps convocaram uma reunião dos intervenientes no sector mineiro da cidade. Segundo o CNC, os mercenários declararam que ninguém podia comprar ouro no local e que quem o fizesse seria executado. Os mercenários designaram seis pessoas como intermediários para comprar ouro exclusivamente para eles. Qualquer infracção a esta regra era punível com a morte.

Os mercenários confiscaram então tudo o que os mineiros e comerciantes haviam trazido para a reunião, incluindo telemóveis, reservas de ouro, ferramentas valiosas e dinheiro.

Sabe-se também que os mercenários russos tomam conta de operações mineiras com a ajuda de forças governamentais em países liderados por juntas militares com ligações ao Kremlin.

Em Fevereiro, por exemplo, os combatentes do Africa Corps chegaram de helicóptero perto da aldeia rural maliana de Intahaka, na região de Gao, e apoderaram-se da maior mina de ouro artesanal do país. Com a ajuda das forças armadas malianas, os mercenários garantiram a segurança do local, expulsando um grupo rebelde Tuaregue.

Em Agosto, o Burquina Faso, liderado pela junta militar, concedeu à empresa russa de extracção de ouro Nordgold uma licença de quatro anos para explorar uma nova mina de ouro na região Centro-Norte, onde a Nordgold já explorava três minas de ouro.

De acordo com a Célula Norbert Zongo para o Jornalismo de Investigação na África Ocidental, a Nordgold arrecadou, em 2018, 16,5 milhões de dólares em direitos de extracção de ouro, graças a um acordo de baixa tributação celebrado com um antigo governo burquinabê 15 anos antes. O dinheiro poderia ter financiado serviços públicos vitais.

Não existe “uma panaceia única para eliminar os riscos” associados à procura de ouro africano por parte da Rússia, afirma o relatório do World Gold Council. Apelou a que os actores internacionais, governamentais e empresariais desenvolvessem um plano estratégico para expandir a aplicação da lei, reforçar as sanções e oferecer incentivos à formalização das comunidades mineiras artesanais de ouro.

“A coordenação internacional precisa de ser melhorada e deve ser acordado um fórum primário único para reunir os esforços que, de outro modo, estariam isolados, a fim de impulsionar a implementação e a execução,” afirma o relatório.

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