Irão Procura Influenciar o Sudão Através de Armas

EQUIPA DA ADF

O Irão está a trabalhar para tirar partido do caos causado pela guerra civil do Sudão para ganhar uma posição no Mar Vermelho.

Segundo os especialistas, o estabelecimento de uma presença no Sudão permitiria ao Irão, essencialmente, encurralar os seus adversários regionais, incluindo a Arábia Saudita e Israel, e ameaçar a navegação através do Canal de Suez.

“O Irão considera-o um ponto de partida para a obtenção de ganhos estratégicos a longo prazo, em termos de expansão em África, controlo do Mar Vermelho e influência regional mais vasta,” o analista Abdal Monim Himmat escreveu recentemente para o The Arab Weekly. Para isso, o Irão passou mais de um ano a reconstruir as suas relações com a liderança do Sudão, que está baseada em Port Sudan porque as Forças de Apoio Rápido (RSF) controlam a maior parte da capital nacional, Cartum.

Em Outubro de 2023, o Sudão e o Irão retomaram as relações diplomáticas e trocaram embaixadores após um interregno de oito anos. Desde então, o Irão tem fornecido armas às Forças Armadas do Sudão (SAF) para reforçar a sua luta contra as RSF.

Uma parte crucial desses carregamentos de armas tem sido os drones Mohajer-6 e Ababil, fabricados no Irão. Os drones ajudaram as SAF a derrotar os combatentes das RSF. No início deste ano, os drones desempenharam um papel fundamental na expulsão das RSF de partes de Omdurman e na retoma da sede da emissora nacional do Sudão. Os drones Mohajer-6 são capazes de transportar explosivos.

Para além das armas iranianas, as SAF dependem cada vez mais dos serviços secretos iranianos para ajudar as suas ofensivas contra as RSF.

Segundo os observadores, o Irão tem ajudado as SAF a recrutar e a treinar novos soldados provenientes de pessoas deslocadas pelos combates e que foram treinadas nos campos do Uganda. O Irão tenta utilizar a sua ajuda às SAF como alavanca para levar os dirigentes sudaneses a aprovar uma base naval iraniana na costa do Sudão. O país rejeitou essa proposta, bem como uma proposta posterior de um porto comercial e militar de dupla utilização em Port Sudan.

A ajuda do Irão tornou-se uma componente essencial da eficácia das SAF contra as RSF. Segundo os observadores, quando o governo iraniano se distraiu com a morte do Presidente Sayyid Ebrahim Raisolsadati, em Maio, as acções das SAF no campo de batalha sofreram.

As ligações do Sudão com o Irão vão para além das armas e dos serviços secretos.

“O Exército sudanês procura aproveitar a presença do Irão como instrumento de pressão sobre os actores regionais e internacionais anti-Irão, encorajando-os a pressionar as RSF a aceitarem um cessar-fogo nos termos do Exército,” Hani al-Aasar escreveu recentemente para o Emirates Policy Center. As RSF recebem ajuda dos Emirados Árabes Unidos, que, juntamente com a Arábia Saudita e outros países do Golfo Pérsico, mantém uma relação tensa com o Irão. Até à data, essa estratégia não deu frutos, observou al-Aasar.

Em última análise, é provável que o Sudão saia a perder com o envolvimento do Irão na sua guerra civil, à medida que a República Islâmica expande a sua presença no país.

“Como o exército sudanês e o Irão intensificaram claramente a sua cooperação, surgiu a especulação sobre a vulnerabilidade do Sudão à influência de Teerão,” escreveu al-Aasar. “A guerra em curso entre o exército sudanês e as RSF tem vindo a minar significativamente a capacidade de resistência do Sudão contra a infiltração e a influência de potências estrangeiras.”

A curto prazo, porém, a entrada de armas iranianas cria o risco de o conflito interno do Sudão se agravar e poder alastrar-se para além das suas fronteiras.

“As armas iranianas no Sudão irão inflamar ainda mais os conflitos no país e nos países vizinhos,” escreveu Himmat. “Transformará o Mar Vermelho numa arena de confrontos internacionais, complicando ainda mais a postura de segurança na região e expondo a navegação internacional a grandes ameaças.”

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