Insurgência de Amhara Ameaça Consumir a Etiópia

EQUIPA DA ADF

Uma série de conflitos na região de Amhara, na Etiópia, entre as forças governamentais e uma milícia étnica, está a provocar receios de uma guerra em expansão.

Em Setembro, os combates nas cidades de Debark e Dabat, no Norte de Gondar, causaram pelo menos nove mortos e 30 feridos. Durante o mesmo mês, a milícia de etnia Amhara, conhecida como Fano, capturou brevemente Gondar, uma cidade culturalmente importante que data da era medieval.

Ambos os lados parecem estar a preparar-se para um conflito prolongado.

Falando perante uma multidão que aplaudia em Shewa, o General Tefera Mamo, um antigo líder militar etíope que se juntou à Fano este verão, disse que esta está em vantagem e que não é altura para negociações. “Olhem para esta luta armada, vejam o quanto cresceu em apenas um ano,” disse Tefera, de acordo com uma transcrição publicada pela Associação Amhara da América. “Não há ninguém que nos possa parar enquanto avançamos.”

A Fano foi formada em 2016 como um movimento de protesto e, mais tarde, tornou-se um grupo armado que afirma proteger os direitos à terra e outros interesses dos Amhara. Durante a guerra de 2020 a 2022 na região de Tigré, a milícia Fano lutou ao lado das forças do governo federal e recuperou uma área disputada conhecida como Tigré Ocidental. A Fano, o governo e as forças tigrenhas foram acusados de crimes de guerra generalizados, incluindo ataques brutais contra civis.

Perto do fim do conflito, as Forças de Defesa Nacional da Etiópia (ENDF) começaram a desarmar e a prender os combatentes da Fano e, em 2023, a Fano lançou uma insurgência contra o governo. Nos últimos meses, os combates se intensificaram. Os militantes da Fano lançaram cerca de 70 ataques por mês em Julho, Agosto e Setembro. Este número representa mais do dobro da taxa de ataques registada no primeiro ano da insurgência. O grupo também afirmou ter ocupado 28 áreas de aldeias conhecidas como woredas durante os três meses.

No dia 1 de Outubro, as ENDF anunciaram o lançamento de uma grande operação militar para derrotar a Fano. “A única linguagem que eles [os grupos rebeldes armados] entendem é a força. A partir de agora, falaremos com eles nessa língua,” o porta-voz do exército etíope, Coronel Getnet Adane, disse à Voz da América. “Para que a paz prevaleça, é necessário enfrentá-los com a força. Têm de ser visados, atingidos.”

Contudo, os analistas alertam para o facto de ser difícil derrotar a Fano, porque se trata de uma coligação sem uma hierarquia rígida ou uma estrutura de comando central. Conta também com o apoio generalizado da população civil da região.

“A Fano é uma vasta rede de milícias Amhara descentralizadas e pouco alinhadas, a maioria das quais são pequenas e operam de forma autónoma,” Liam Karr escreveu para o Critical Threats Project. “Estas forças são altamente eficazes, apesar da sua pequena dimensão, porque são bem treinadas, uma vez que muitos membros — incluindo a liderança — são antigos membros das forças armadas regionais ou federais e têm um amplo apoio local.”

Os combates já estão a ter um impacto na ajuda humanitária. As Nações Unidas estão a considerar a possibilidade de suspender as suas operações de socorro na região de Amhara, depois de cinco trabalhadores humanitários terem sido mortos, 10 feridos e 11 raptados no primeiro semestre de 2024, noticiou a Reuters. Mais de 2,3 milhões de pessoas na região dependem da ajuda alimentar para sobreviver.

Os observadores receiam também que o conflito em Amhara tenha potencial para desestabilizar todo o país. A crise acontece ao mesmo tempo em que o governo federal etíope enfrenta uma revolta na região de Oromo, enquanto faz esforços contínuos para desarmar e reintegrar os combatentes da região de Tigré.

“Poderá ser este o conflito que desencadeia uma guerra civil mais vasta e conduz à desintegração do país?” James Ker-Lindsay, investigador associado da London School of Economics que estuda os conflitos e a segurança, fez a pergunta num vídeo blogue. “Os Amhara são o segundo maior grupo do país. Qualquer conflito em grande escala na região teria, sem dúvida, consequências devastadoras, não só em termos humanos, mas também em termos de impacto político mais alargado.”

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