Drones Mortais Nivelam o Campo de Acção entre Terroristas e Militares
EQUIPA DA ADF
Os militares não podem continuar a presumir que dominam os céus. Os grupos extremistas estão a utilizar cada vez mais drones para efectuar vigilância, guiar ataques de morteiros e utilizá-los como plataformas de armas aéreas em miniatura.
Segundo os especialistas, a disponibilidade generalizada de drones de consumo — máquinas do tipo helicóptero e de asa fixa — está a nivelar o campo de jogo entre os grupos terroristas e as forças militares mais bem financiadas e equipadas.
“A capacidade aérea permite que [os extremistas] tenham uma melhor visão do espaço de batalha e dos seus ambientes operacionais,” Bárbara Morais Figueiredo, do Instituto das Nações Unidas para a Investigação do Desarmamento, disse recentemente à Voz da América (VOA). “Também lhes proporciona uma nova forma de obter informações e também de planear e coordenar ataques, por vezes, com um maior grau de letalidade e precisão.”
Os grupos extremistas que utilizam drones, muitas vezes, estão alinhados com o grupo Estado Islâmico (EI) ou com a al-Qaeda, que desviaram a sua atenção para África à medida que o seu poder no Médio Oriente diminui.
O EI e a al-Qaeda têm utilizado amplamente drones armados no Médio Oriente, mas os seus afiliados africanos só recentemente adicionaram drones armados aos seus arsenais.
Em Julho, por exemplo, as autoridades de segurança da Puntlândia, na Somália, descobriram um esconderijo de drones armados que tinham sido contrabandeados dos rebeldes Houthis no Iémen, possivelmente para benefício do al-Shabaab noutros locais do país.
Na Somália, o al-Shabaab utilizou drones para vigiar o Exército Nacional da Somália (SNA), grupos de manutenção da paz, organizações humanitárias e dignitários estrangeiros. Também utilizou drones para filmar ataques a bases militares do outro lado da fronteira, no Quénia, para fins de propaganda.
Na Nigéria, o Boko Haram e a Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP) utilizam drones para recolha de informações e vigilância do campo de batalha. O mesmo se aplica aos grupos terroristas na República Democrática do Congo (RDC) e em Moçambique. Em Moçambique, as forças governamentais abateram vários drones de observação de terroristas em 2022 e 2023.
No Mali, a Jama’at Nasr al-Islam wal-Muslimin (JNIM) é suspeita de ter utilizado drones armados para matar 10 membros da milícia Dozo, aliada da junta no poder contra os extremistas.
“O ataque de 14 de Abril mostra que o grupo desenvolveu os conhecimentos necessários para, pelo menos, fabricar um sistema de lançamento de explosivos, que por vezes pode ser tão simples como um cinto,” os analistas Liam Karr e Matthew Gianitsos escreveram recentemente para o Instituto para o Estudo da Guerra. “A utilização futura de drones armados permitiria à JNIM atingir alvos que, de outra forma, seriam difíceis ou impossíveis de alcançar, tais como locais fortificados ou de alta segurança.”
Os especialistas dizem que é difícil manter os drones fora das mãos dos terroristas porque a tecnologia tem muitas utilizações legítimas. Karen Allen, consultora do Instituto de Estudos de Segurança, sediado na África do Sul, compara os drones disponíveis no mercado aos telemóveis — tecnologia que pode ser utilizada para fazer chamadas ou detonar bombas à beira da estrada.
“Há uma dificuldade real em conseguir impedir o uso de uma tecnologia que é uma tecnologia de dupla utilização,” Allen disse à VOA.
Os drones que se movem lentamente e voam baixo podem ser vulneráveis ao fogo antiaéreo. No entanto, Allen exorta as forças armadas africanas a investirem mais em tecnologia anti-drone, como dispositivos de interferência para perturbar os controladores de drones e lasers que podem abater drones.
Nos últimos anos, os drones têm assumido um papel mais importante no campo de batalha, com os terroristas a modificarem-nos para transportar e entregar armas simples, como bombas de morteiro, que podem ser lançadas sobre pessoas e edifícios. Os drones pequenos são difíceis de defender.
Os drones evoluíram de instrumentos de reconhecimento para armas mortíferas, segundo o Small Wars Journal.
“A utilização de drones desta forma pode aumentar a letalidade e a imprevisibilidade dos ataques terroristas, bem como a dificuldade de os detectar e interceptar,” o analista Aliyu Dahiru escreveu para a Human Angle. “Pode também criar um impacto psicológico na população-alvo, visto que os drones podem induzir o medo e o pânico entre os civis e o pessoal de segurança.”
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