SAF Armam Civis para Contrariar Avanço das RSF

EQUIPA DA ADF

Confrontadas com o avanço implacável das Forças de Apoio Rápido, as Forças Armadas do Sudão recorrem a civis pouco treinados e pouco armados para se juntarem à luta contra as tropas rivais, que são muito experientes. No entanto, não é claro até que ponto essa estratégia tem sido eficaz.

Ahmed Mohamed juntou-se a várias centenas de pessoas num grupo comunitário de autodefesa no Estado de al-Gezira para enfrentar as Forças de Apoio Rápido, ou RSF. Os residentes de Elmielg bloquearam a estrada principal da aldeia, cavaram trincheiras e distribuíram armas ligeiras aos residentes masculinos da comunidade.

“Infelizmente, fomos derrotados após curtas batalhas,” Mohamed disse ao Middle East Eye. “Alguns dos jovens da aldeia foram feridos e as RSF conseguiram entrar na aldeia. Chicotearam os homens e levaram alguns deles nos seus carros.”

O General das Forças Armadas do Sudão (SAF), Abdel Fattah al-Burhan, o líder de facto do Sudão, começou a exortar os civis a juntarem-se à luta contra as RSF logo após o início da guerra com os paramilitares baseados no Darfur, em Abril de 2023. Em Junho de 2023, o exército abriu campos de treino militar em todo o Sudão para combatentes voluntários e começou a distribuir armas a civis, com a intenção anunciada de as recuperar depois da guerra.

Desde então, homens e mulheres de todas as idades têm-se alistado para defender as suas comunidades. As SAF e as RSF têm sido criticadas pelo facto de recrutarem jovens e crianças para as suas fileiras. Enquanto chefe do governo internacionalmente reconhecido do Sudão, al-Burhan tem sido acusado de seguir as mesmas tácticas utilizadas pelo antigo ditador Omar al-Bashir.

As SAF recorreram às suas relações históricas com a vizinha Eritreia para obter ajuda na formação de combatentes civis. A Eritreia formou cerca de 2.000 jovens dos grupos tribais Hadendawa, Beni Amer e Rashaida do Sudão Oriental. Outros 700 jovens que estão a ser treinados na Eritreia foram recrutados no Estado oriental de Gedaref pelo Exército de Libertação do Sudão, aliado das SAF, dirigido pelo líder da milícia Minni Minawi.

Desde o início dos combates, os combatentes das RSF percorreram o sul do Sudão, desde o Darfur Ocidental até ao Estado de Sennar, no sudeste, com pouca oposição das SAF.

Os soldados das SAF e os seus aliados das milícias defenderam locais importantes como el-Fasher, a capital sitiada do Darfur do Norte, onde o exército também armou civis.

Mohamed al-Faki Suleiman, antigo membro do Conselho Soberano de Transição do Sudão, alertou para os riscos de armar civis e enviá-los para a batalha contra os combatentes das RSF, que aperfeiçoaram as suas capacidades como mercenários no Iémen e na Líbia, entre outros locais.

Em Dezembro de 2023, al-Burhan anunciou no quartel-general do exército no Estado de al-Gezira que cerca de 40.000 pessoas tinham aderido às operações militares contra as RSF. Pouco tempo depois, as RSF assumiram o controlo do Estado com a retirada das SAF.

Mohamed contou ao Middle East Eye que, depois de as RSF terem invadido o Estado de el-Gezira, os civis ajudaram os militares e as milícias a fazer recuar um ataque à comunidade de Dabang. Apesar de vitórias como a de Dabang, as SAF e os seus aliados não impediram o avanço contínuo das RSF em direcção a Port Sudan, onde al-Burhan estabeleceu o seu governo depois de as RSF terem tomado o controlo de Cartum.

Os críticos do apelo de al-Burhan para armar os civis dizem que a estratégia é susceptível de inflamar o tribalismo e polarizar ainda mais o país, aumentando o número de mortos na guerra civil do país. Isso não impediu as pessoas de se juntarem ao esforço de recrutamento de al-Burhan.

Sawsan Osama faz parte de um contingente de mulheres recrutas treinadas pelas SAF em Omdurman.

“Juntei-me a este campo para aprender a defender-me a mim e à minha família,” Osama disse à al-Jazeera. Osama e a sua família foram expulsos da sua casa no Norte de Cartum pelas RSF. Fugiram para o Estado de Sennar, para depois serem empurrados para o Estado de Gedaref, antes de se juntarem aos recrutas em Omdurman.

Embora as mulheres não sejam autorizadas a entrar no campo de batalha, mais de 10.000 responderam ao apelo das SAF para serem voluntárias. As mulheres disseram que estavam a aprender a usar armas para defender os seus filhos e famílias, em vez das ineficazes SAF.

“Queremos recuperar o que nos foi tirado,” Osama disse à al-Jazeera.

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