Grupos Oferecem aos Jovens Um Caminho Para se Afastarem do Extremismo
EQUIPA DA ADF
Nos últimos cinco anos, o extremismo violento do Sahel tem vindo a aproximar-se da fronteira norte do Gana.
Mataru Mumuni Muqthar, director-executivo do Centro de Combate ao Extremismo da África Ocidental (WACCE) em Acra, disse que, embora não tenha havido ataques, a área está “muito mais exposta do que antes.”
“Quando é que se esperam ataques a nível local? Não temos a certeza, mas [a ameaça] está a aumentar devido à marginalização segundo linhas étnicas, especialmente do grupo étnico Fulani,” Muqthar disse à ADF. “Há outros grupos étnicos, mas é mais difundido com os Fulani, mais intenso.”
Muqthar disse ainda que, desde 2015, há provas de esforços de recrutamento por parte de organizações extremistas afiliadas ao grupo Estado Islâmico para recrutar jovens no Gana e noutros Estados costeiros da África Ocidental.
“De momento, não temos provas de recrutamentos activos, mas suspeitamos que estejam a ocorrer nas regiões fronteiriças dos Estados costeiros, onde se dedicam cada vez mais a ataques,” disse Muqthar. Os terroristas e as organizações extremistas utilizam actualmente a internet e as tecnologias móveis para “radicalizar e recrutar os jovens,” acrescentou.
Devido a preocupações de que grupos extremistas violentos explorem os jovens, o WACCE em Novembro de 2023 lançou o projecto Building Resilience Against Violent Extremism, ou BRAVE, através da coesão social no norte do Ghana.
“Envolvemos os jovens para lhes ensinar o que é o extremismo e quais os factores que podem levá-los a radicalizar-se, mas trata-se de uma ameaça muito complexa e cheia de nuances,” afirmou Muqthar. “Baseamo-nos nos constructos locais para fazer com que os jovens se envolvam entre si para evitar o extremismo.”
Os factores que podem levar os jovens, incluindo os adolescentes e as crianças, ao extremismo violento incluem o desemprego e o subemprego, o aumento do custo de vida, a falta de serviços públicos e a ausência do Estado em zonas com conflitos étnicos e políticos. Todas estas questões são críticas, uma vez que o número de jovens no continente continua a aumentar.
A população africana com idades compreendidas entre os 15 e os 35 anos foi estimada, em 2018, em 453 milhões de pessoas. De acordo com a União Africana, prevê-se que o número de pessoas nesta faixa etária aumente para mais de 1 bilhão até 2063.
Na maioria dos países da África Ocidental, a soma das taxas de desemprego e de subemprego é superior a 50%, de acordo com o Banco Africano de Desenvolvimento. Subempregado significa não ter trabalho remunerado suficiente ou não fazer um trabalho que utilize plenamente as capacidades de uma pessoa. Nos últimos meses, um grande número de jovens protestou na Nigéria e no Quénia contra a sua falta de oportunidades económicas.
Durante um recente webinar organizado pelo Centro de Estudos de Segurança de África (ACSS) intitulado “O papel da juventude na prevenção e resposta ao extremismo violento em África,” Muqthar sublinhou que tais respostas exigem uma abordagem calculada. O ACSS definiu os jovens como profissionais com 35 anos ou menos.
“As pessoas que trabalham nesta área têm de ser deliberadas na educação dos jovens para que compreendam que a solução para um mau governo civil não é um governo militar, é um governo civil melhor,” disse Muqthar. “A forma de o fazer é manter a conversa no espaço dos jovens.”
As autoridades estão a fazer esforços semelhantes noutras partes de África, onde 60% da população tem menos de 25 anos. O Centro de Apoio Comunitário do Quénia (KECOSCE), por exemplo, criou quase 30 centros que formam mais de 20.000 jovens para participarem efectivamente na governação, em protestos e manifestações pacíficas. Os a nalistas consideram que os jovens das comunidades muçulmanas do país são particularmente vulneráveis ao extremismo violento.
“Acreditamos que os jovens devem tornar-se activistas, levantar a voz e fazer perguntas difíceis ao governo,” Phyllis Muema, directora-executiva da KECOSCE, disse durante o webinar do ACSS. “Muitas vezes, as manifestações organizadas pelos jovens em África são pacíficas até que as agências estatais as tornem violentas.”
Achaleke Christian Leke, director-executivo do Local Youth Corner Cameroon, afirmou que é fundamental que os jovens estejam munidos de informação baseada em provas sobre o extremismo violento.
“Se as pessoas virem as provas, acreditam mais nelas,” Leke disse durante o webinar. “Numa era de notícias falsas, é altura de os nossos líderes enfrentarem os seus cidadãos. Já passou o tempo em que os jovens pediam que lhes respondessem cara a cara.”
Falando para a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Leke disse acreditar que o papel dos jovens na prevenção e resposta ao extremismo violento é subestimado.
“Temos a capacidade de convencer os nossos pares e de encontrar soluções para os factores que estão na origem do [extremismo violento],” afirmou. “Constituímos a maioria da população dos nossos países em todo o mundo, mas não se trata apenas do número, mas do zelo, da paixão ardente e da capacidade de fazer as coisas como elas devem ser feitas. Esta é uma das coisas que garante a estratégia dos jovens na construção da paz.”
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