Descobertas das SAF em Omdurman Apontam para o Apoio Secreto dos EAU às RSF

EQUIPA DA ADF

Quando as Forças Armadas do Sudão retomaram um bairro importante da cidade de Omdurman às Forças de Apoio Rápido, em Março, os soldados descobriram quatro passaportes pertencentes a residentes dos Emirados Árabes Unidos, o parceiro silencioso das RSF na sua guerra pelo controlo do Sudão.

De acordo com um relatório das Nações Unidas, os quatro passaportes pertenciam a homens com idades compreendidas entre os 29 e os 49 anos, que se pensa serem oficiais dos serviços secretos dos EAU. São a primeira indicação de que, apesar dos seus desmentidos, os EAU colocaram discretamente agentes no terreno no Sudão, alargando o seu apoio secreto e contínuo aos combatentes das RSF.

“Isto ridiculariza a insistência dos EAU em que não têm nada a ver com o apoio militar às RSF,” o analista político sudanês Kholood Khair, director fundador da Confluence Advisory, disse ao The Guardian.

Os EAU têm uma relação de longa data com as RSF e o seu líder, o General Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo, que enriqueceu com o contrabando de ouro do Darfur através dos EAU. O ex-ditador Omar al-Bashir concedeu a Hemedti uma mina de ouro depois de os combatentes de Hemedti, na altura conhecidos como Janjaweed, terem reprimido uma rebelião no Darfur no início da década de 2000. Os ataques contra os residentes não árabes de Darfur foram mais tarde declarados genocídio.

As RSF renovaram os seus ataques às comunidades não árabes em todo o Darfur, no âmbito da sua guerra com as SAF pelo controlo do Sudão. Segundo os analistas, a parte das RSF no conflito tem sido financiada, em grande parte, através das ligações de Hemedti com os EAU, no âmbito do contrabando de ouro.

Os dados mais recentes disponíveis mostram que os EAU importaram do Sudão 39 toneladas de ouro no valor de mais de 2 mil milhões de dólares em 2022. Outras 60 toneladas chegaram aos EAU vindas dos países vizinhos do Sudão, o que leva os especialistas a suspeitar que parte do ouro sudanês passa pelo Chade, Egipto, Etiópia, Sudão do Sul e Uganda para ser lavado nos EAU.

Para além do contrabando de ouro, Hemedti e a sua família controlam empresas registadas nos EAU, e as RSF têm uma conta no First Abu Dhabi Bank. Os combatentes feridos das RSF são enviados para os EAU para se recuperarem.

Desde que a guerra eclodiu entre as SAF e as RSF em Abril de 2023, investigações internacionais acusaram os EAU de apoiar as RSF com carregamentos de armas através de alguns desses mesmos países vizinhos. A ONU informou que os EAU contrabandearam armas e combustível para o território controlado pelas RSF no Darfur através da República Centro-Africana e do Chade, disfarçados de ajuda humanitária para as pessoas deslocadas.

“Enquanto as RSF perpetram ataques genocidas contra civis no Darfur e noutras regiões, Abu Dhabi está a fornecer armas às milícias,” John Prendergast e Anthony Lake escreveram recentemente para a Foreign Affairs.

Se não fosse o apoio dos EAU às RSF, segundo alguns peritos, o conflito no Sudão já teria terminado há muito tempo.

O General Abdel Fattah al-Burhan, líder de facto do Sudão, acusou publicamente os EAU de ajudarem as RSF, incluindo uma tensa troca de acusações no Conselho de Segurança da ONU no início deste ano. Al-Burhan confrontou o presidente dos EAU, Mohammed bin Zayed, sobre as acções do seu país a favor das RSF durante um telefonema em Julho, de acordo com o Sudan Tribune.

De acordo com o relatório da ONU, quando os soldados das SAF descobriram os passaportes dos EAU, também encontraram um drone quadricóptero equipado para lançar bombas de morteiro de 120 milímetros, provavelmente fornecido pelos EAU. As caixas tinham marcas que indicavam que continham bombas termobáricas que tinham sido enviadas por um fabricante de armas sérvio para o exército dos EAU.

Os dirigentes dos EAU continuam a negar que apoiam as RSF. Os representantes dos Emirados na ONU classificaram as alegações das SAF e de outras autoridades como “mentiras, desinformação e propaganda disseminada por alguns representantes sudaneses.”

No entanto, os especialistas da ONU continuam a afirmar que os relatos sobre o apoio militar dos EAU às RSF são credíveis. Segundo Khair, os passaportes e as armas descobertos em Omdurman contradizem fortemente as afirmações dos EAU.

“É uma arma fumegante quando corroborada por outras provas,” disse ao The Guardian. “Os Emirados estão a dar um grande apoio prático imediato às RSF, algo que têm negado porque não tem havido esta ligação directa no terreno.”

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