Rússia Envia Africanos para Combater na Ucrânia com Ameaças e Falsas Promessas

EQUIPA DA ADF

Entre um punhado de prisioneiros de guerra capturados na Ucrânia depois de terem lutado pela Rússia, destacava-se um jovem somali. Ele dsse que se alistou no exército para dar à sua família um “bom futuro” e que lhe foi dito que seria um “ajudante” a fazer logística e primeiros socorros.

Não estava à espera de ser enviado para a linha da frente.

“Não sabia que ia estar na primeira fila,” disse o homem não identificado durante uma conferência de imprensa em Kiev, no dia 15 de Março. “Fui simplesmente largado lá sem … conhecer a língua.”

Um outro homem da Serra Leoa enxugou as lágrimas enquanto explicava como pagou a um recrutador e foi para a Rússia em busca de um “bom emprego” para sustentar a sua numerosa família, mas foi enganado para se alistar nas forças armadas.

O homem, que era guarda de segurança, disse ter-se apercebido, depois de assinar a papelada em russo, que se tinha alistado no exército.

A expressão “moedor de carne” tem sido utilizada para descrever as tácticas da Rússia na sua guerra contra a vizinha Ucrânia. Nos últimos meses, a Rússia terá perdido cerca de 1.000 soldados por dia, enviando, de forma imprudente, algumas forças para ondas de ataques com elevado número de vítimas humanas. Precisando de dezenas de milhares de novos recrutas por mês, Moscovo tem recorrido a forçar milhares de estudantes africanos, migrantes e prisioneiros a combater ao lado das tropas russas, de acordo com funcionários europeus e membros da comunidade internacional de informações.

“Utilizando tácticas utilizadas pela primeira vez pelo grupo de mercenários do Grupo Wagner, as autoridades russas têm vindo a ameaçar cada vez com mais frequência não prolongar os vistos de estudantes e jovens trabalhadores africanos, a menos que estes concordem em alistar-se nas forças armadas,” noticiou a Bloomberg a 8 de Junho.

Alguns africanos na Rússia com vistos de trabalho foram detidos e obrigados a escolher entre a deportação ou a luta. O Kremlin também tem olhado cada vez mais para a sua população prisional para recrutar.

Alguns africanos conseguiram subornar funcionários para evitar o serviço militar e permanecer no país, de acordo com um funcionário europeu, que falou à Bloomberg sob condição de anonimato.

“Estas tropas sofrem taxas de baixas especialmente elevadas, porque são cada vez mais utilizadas em manobras ofensivas arriscadas para proteger unidades mais bem treinadas,” afirma o relatório. A Rússia também aumentou os seus esforços de recrutamento no continente, atraindo africanos desempregados. Um relatório dos Serviços de Informações de Defesa da Ucrânia (HUR) afirma que a campanha de recrutamento global de Moscovo abrange pelo menos 21 países, incluindo vários em África.

“Os esforços de recrutamento centram-se nos países da África Central, como Ruanda, Burundi, Congo e Uganda,” afirmaram os HUR no dia 28 de Maio. “A Rússia terá oferecido um bónus de inscrição de 2.000 dólares, um salário mensal de 2.200 dólares e a promessa de um passaporte russo. Com a reserva finita de recrutamento de condenados da Rússia provavelmente esgotada, a Rússia está provavelmente a expandir o seu recrutamento através do sul global, para evitar mobilizações adicionais dentro da própria Rússia.”

Os mercenários russos do Africa Corps, anteriormente conhecido como Grupo Wagner, estão a realizar treinos no continente africano com jovens, alguns provenientes de milícias tribais. O grupo rebaptizado, agora sob o controlo directo do Ministério da Defesa, também aumentou o seu alcance junto dos estudantes africanos.

Entre 35.000 e 37.000 homens e mulheres do continente estão a estudar na Rússia através de vários programas de bolsas de estudo, segundo o jornal britânico The Independent. Prevê-se que os números aumentem ainda mais com a recente ofensiva diplomática do Kremlin em algumas partes de África.

Um alto funcionário europeu, que esteve no Mali e no Níger, disse que, após um período de recrutamento de baixo nível em África, houve “um aumento bastante notável à medida que a Rússia começou a expandir a sua presença no Sahel e em partes da África Central.”

“Tornou-se mais difícil seguir a actividade russa à medida que a nossa presença se foi desvanecendo,” disse ao The Independent. “Agora ouvimos falar de funcionários locais que ajudam no processo [de recrutamento]. O dinheiro oferecido é muito bom para os padrões locais e tentador para os jovens de zonas muito pobres.

“Alguns dos que aderiram têm alguma experiência em vários grupos armados, mas isso é muito diferente, claro, da guerra na Ucrânia com a utilização de armas modernas. Muitos destes homens que são efectivamente destacados acabarão provavelmente mortos.”

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