ONU Denuncia Actores Estrangeiros que Prolongam o Conflito no Sudão

EQUIPA DA ADF

Enquanto a guerra civil no Sudão se arrasta, os especialistas apontam para o papel desempenhado por interesses externos no seu prolongamento e no seu agravamento.

“Há muitos recursos e dinheiro que estão a ser investidos nesta guerra, particularmente do lado das RSF,” Hala al-Karib, directora regional da Iniciativa Estratégica para as Mulheres no Corno de África, disse à Voz da América.

Desde 15 de Abril de 2023, as Forças de Apoio Rápido (RSF) têm lutado contra as Forças Armadas do Sudão (SAF) numa batalha pela supremacia sobre o Sudão que matou cerca de 16.000 pessoas e forçou quase 9 milhões a abandonar as suas residências. Ambos os lados beneficiaram do apoio de actores estrangeiros que despejaram armas e dinheiro no país, não dando a nenhum deles um incentivo para procurar a paz.

Uma análise recente das Nações Unidas apontou os Emirados Árabes Unidos (EAU) como um dos principais apoiantes das RSF. Segundo os investigadores, os EAU forneceram armas disfarçadas de ajuda humanitária destinada a ajudar os sudaneses que se refugiam no leste do Chade. As RSF também receberam mísseis terra-ar portáteis e outras armas dos mercenários russos do Grupo Wagner, agora conhecidos como Africa Corps, através das suas bases na Líbia, onde são aliados do Marechal Khalifa Haftar.

O Africa Corps tinha uma relação de longa data com as RSF e o seu líder, o General Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo. Os dois grupos contrabandeavam ouro das minas controladas pelas RSF no Sudão Ocidental para os mercados dos EAU. Hemedti e as RSF mantêm as suas finanças nos EAU. Os combatentes das RSF feridos são tratados em hospitais dos EAU.

Desde que assumiu o controlo do Africa Corps, o governo russo transferiu o seu apoio para as SAF, comandadas pelo General Abdel Fattah al-Burhan. Enquanto chefe do Conselho de Soberania de Transição do Sudão, al-Burhan é o líder de facto do Sudão. Al-Burhan também recebe apoio do Egipto, aliado de longa data do Sudão, e do Irão, que fornece drones militares Mohajer-6 às SAF.

“Ambos os lados continuam a violar as leis dos conflitos armados de várias formas, com o apoio de actores externos,” Nathaniel Raymond, director-executivo do Laboratório de Investigação Humanitária da Escola de Saúde Pública de Yale, disse à VOA.

A Rússia e os EAU procuram estabelecer bases de apoio militar na costa sudanesa do Mar Vermelho. Os observadores alertam para o facto de a concessão de acesso a forças externas à costa do Sudão poder conduzir a problemas mais graves.

“É sabido que a intervenção russa na Síria começou com a aquisição de uma base naval,” o analista Yassir Arman escreveu recentemente no Dabanga Sudan. “Estas alianças em perspectiva vão irritar vários países vizinhos que não querem ver bases estrangeiras no Mar Vermelho.”

Segundo os analistas, o acesso ao porto russo no Sudão poderia ser utilizado para reforçar a presença da Rússia na República Centro-Africana e na Líbia, que fazem fronteira com o Sudão, até ao Burquina Faso e ao Mali, onde opera o Africa Corps.

Al-Burhan começou a aprofundar as relações de longa data do Sudão com a Rússia no final de 2023 e, em Maio, assinou um acordo com a Rússia para construir um centro de operações logísticas na costa em troca de armas. O analista Liam Karr, do Instituto para o Estudo da Guerra, escreveu recentemente que o centro de operações é um provável precursor de uma base naval russa.

No início de Junho, funcionários sudaneses visitaram a Rússia para reforçar laços militares e económicos.

O afluxo de armas às RSF e às SAF viola as sanções impostas pela ONU ao Sudão em 2005, em resposta ao genocídio perpetrado em Darfur pelo precursor das RSF. Isso inclui um embargo a armas e munições.

Mohamed Ibn Chambas, presidente do painel da União Africana sobre o Sudão, afirmou que os actores estrangeiros estão a complicar os esforços para negociar um cessar-fogo que ponha fim aos combates.

Rosemary Anne DiCarlo, subsecretária-geral da ONU para assuntos políticos e de consolidação da paz, disse ao Conselho de Segurança em Abril que os actores estrangeiros alimentam os combates, que não têm fim à vista.

“Se as partes têm sido capazes de manter o seu confronto, é em grande parte graças ao apoio material que recebem do exterior do Sudão,” disse DiCarlo. “Estes actores externos continuam a desrespeitar o regime de sanções imposto pelo Conselho para apoiar uma solução política, alimentando assim o conflito. Isso é ilegal. É imoral. E tem de acabar.”

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