ONG Queniana Reforça Segurança em Ambos os Lados da Fronteira com a Somália

EQUIPA DA ADF

Ninguém conhece a perigosa e porosa fronteira entre o Quénia e a Somália como os seus residentes e, face ao aumento dos ataques terroristas e do recrutamento, os membros da comunidade estão a unir-se para se protegerem.

Uma nova iniciativa lançada pela Womankind Kenya, uma organização não-governamental (ONG) sediada em Garissa que se dedica às mulheres e às crianças, visa reforçar a estabilidade em ambos os lados da fronteira. O seu objectivo é reunir as comunidades para comunicar, colaborar e melhorar a sua capacidade de resolver conflitos de forma pacífica.

Numa publicação nas redes sociais, a 29 de Maio, o Director da Womankind Kenya, Abdullahi Mohamed, anunciou o lançamento do Projecto de Paz, Segurança e Transformação de Conflitos Transfronteiriços Sustentáveis, afirmando que o projecto será implementado durante um ano.

“O projecto utiliza estratégias para reforçar a resiliência e as capacidades dos membros das comunidades transfronteiriças, do governo e dos intervenientes não estatais para prevenir e atenuar o extremismo violento e os conflitos,” publicou a Womankind Kenya na sua página da internet.

“Reconhecendo o papel único das mulheres, dos jovens e de outros grupos vulneráveis como agentes de mudança na construção da paz e na transformação de conflitos, o projecto adopta uma abordagem integrada de género na execução das intervenções.”

O condado de Garissa, no Quénia, na fronteira com a Somália, tem sofrido alguns dos piores ataques do grupo terrorista al-Shabaab. O condado partilha uma fronteira com centenas de quilómetros de comprimento e centenas de estradas poeirentas para a Somália, mas existem poucos postos fronteiriços formais.

De acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED), uma ONG que mapeia e analisa crises globais violentas, os recentes ganhos militares na Somália resultaram em mais ataques do al-Shabaab no Quénia.

As operações de combate ao terrorismo que envolvem a Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS) e o Exército Nacional da Somália “intensificaram-se em preparação para o fim do mandato da ATMIS em Dezembro de 2024.”

“Estas operações podem ter levado os operativos do al-Shabaab para o Quénia,” escreveu o ACLED num relatório sobre a situação no início deste ano. “As mudanças na liderança das agências de informação do Estado do Quénia em Abril e Maio [de 2023] também terão afectado negativamente o trabalho de combate ao terrorismo dessas agências a meio do ano.”

Como o terrorismo se espalhou por toda a África, os peritos apelaram a um maior envolvimento das partes interessadas para complementar e reforçar a abordagem mais militarista que muitos países têm utilizado.

O plano da Womankind Kenya consiste em envolver as comunidades transfronteiriças na abordagem das causas profundas que permitem a propagação da retórica extremista e o recrutamento de terroristas.

O projecto irá melhorar a resolução de conflitos entre as comunidades transfronteiriças nas cidades fronteiriças quenianas de Hulugho, Bodhai e Kolbio, Mohamed disse à Agência de Notícias do Quénia, à margem de um seminário de três dias em Hulugho, a poucos passos da fronteira com a Somália.

O projecto foi concebido para beneficiar os grupos vulneráveis, incluindo as pessoas com deficiência, os principais influenciadores da comunidade e os líderes religiosos.

“Mohamed disse que as estratégias de implementação a utilizar incluem a criação e o reforço das estruturas locais, fóruns de participação, envolvimento das partes interessadas, sensibilização a nível da comunidade, diálogos entre géneros e gerações, apoio a grupos de paz de jovens, entre outros,” informou o KNA no dia 29 de Maio.

Na página da internet do projecto, a Womankind Kenya explicou em pormenor como a melhoria da cooperação transfronteiriça e o envolvimento da comunidade fronteiriça são cruciais para atenuar os riscos de ataques transfronteiriços.

“Ambos os lados da fronteira contam com estruturas comunitárias para a paz. No entanto, estes conflitos são complexos, dinâmicos e estão sempre a mudar,” afirmou. “As estruturas de consolidação da paz nas fronteiras podem, por vezes, não dispor das capacidades e competências necessárias para resolver os problemas antes que estes se agravem.

“O projecto procura reforçar a cooperação para permitir que as comunidades transfronteiriças vizinhas colaborem, coordenem e resolvam em conjunto os problemas que as afectam.”

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