EQUIPA DA ADF
O Marechal Khalifa Haftar, líder militar do leste da Líbia, está a consolidar o poder no seio da sua família, nomeando os seus filhos para posições-chave nas suas chamadas Forças Armadas Árabes Líbias (LAAF).
O seu filho mais novo, Saddam Haftar, de 33 anos, foi elevado ao cargo de chefe do Estado-Maior das forças terrestres e é o sucessor mais provável do seu pai. Outro filho, Khaled, foi nomeado para dirigir as unidades de segurança das LAAF.
Um terceiro filho, Belgacem, supervisiona o Fundo de Desenvolvimento e Reconstrução da Líbia, controlado por Haftar e criado pela Câmara dos Representantes, que governa a metade oriental da nação dividida. O fundo aceitará donativos estrangeiros com a promessa de financiar a reconstrução de cidades, como Derna, que foram fortemente danificadas por uma década de guerra civil.
Os observadores têm notado que a família Haftar é responsável por grande parte desses danos, na qualidade de chefes das forças armadas do leste.
A Líbia continua dividida entre o governo internacionalmente reconhecido de Trípoli, chefiado pelo Primeiro-Ministro Abdul Hamid Muhammad Abdul Rahman al-Dbeibeh, na qualidade de chefe do Governo de Unidade Nacional, e o regime oriental baseado em Tobruk, do qual a família Haftar se tornou o líder de facto.
As nomeações foram feitas apesar das acusações de que Haftar e os seus filhos são responsáveis pela corrupção financeira e administrativa e pela pilhagem de fundos públicos no leste da Líbia.
De acordo com o relatório de 2023 do Painel de Peritos das Nações Unidas sobre a Líbia, a família Haftar assumiu o controlo da maior parte da vida social e económica no leste da Líbia, depois de não ter conseguido conquistar Trípoli em 2019. Haftar visitou Moscovo em Setembro de 2023. Desde então, a família tem mantido relações cada vez mais estreitas com a Rússia, que pretende construir uma base naval em Tobruk. Em Junho, dois navios russos visitaram Tobruk para estabelecer laços entre as marinhas líbia e russa.
Haftar tem 80 anos e tem tido episódios de saúde precária nos últimos anos. Os especialistas dizem que é pouco provável que Saddam seja tão bem recebido como líder como o seu pai, especialmente entre as comunidades tribais que ajudaram Haftar durante a guerra civil.
“Khalifa tem outros filhos que poderiam pretender suceder-lhe, como Khaled e Belqasim, mas sabe que a sua aura, que lhe permitiu conquistar o leste e mantê-lo, não pode ser transmitida à sua descendência,” o analista Jalel Harchaoui disse ao Africa Report.
Segundo os observadores, os líderes tribais orientais receiam que Haftar esteja a construir uma dinastia.
“Como reagirão as tribos e os bandos rivais quando ele desaparecer, bem como o Egipto, o poderoso padrinho do leste, que não gosta nada de Saddam?” questionou Harchaoui.
Entre 2016 e 2023, Saddam Haftar passou de Capitão do colégio militar na Jordânia a Major-General. Ao mesmo tempo, comandou a Brigada Tarik Ben Ziyad, que foi denunciada pela Amnistia Internacional por ter cometido execuções, torturas e violências sexuais nas zonas sob o seu controlo “sem receio de consequências.”
Saddam Haftar afirmou que se irá candidatar à presidência da Líbia quando e se as eleições se realizarem este ano. As eleições têm sido adiadas repetidamente desde 2018.
Entretanto, a família Haftar continua a tomar nas suas mãos o poder sobre o leste da Líbia.
“A agenda para passar a liderança militar no leste da Líbia está em curso há já algum tempo, sendo provável que Haftar continue na sua posição a curto prazo,” o analista político líbio, Ibrahim Belkacem, disse ao Middle East Monitor.
De acordo com o analista político líbio, Imad Jalloul, a família Haftar tem reprimido brutalmente os opositores no leste e no sul da Líbia, prendendo, raptando ou matando figuras políticas, tribais e da sociedade civil. Segundo Ben Fishman, investigador do The Washington Institute for Near East Policy, essas actividades podem ser-lhes prejudiciais.
“A família está a tentar dissipar quaisquer dúvidas,” Fishman escreveu recentemente. “Mas a forma autoritária como funciona pode impulsionar opositores dentro e fora do Exército.”