Especialistas: Plano Ambicioso da Força de Segurança da África Ocidental Enfrenta Desafios
EQUIPA DA ADF
Numa região confrontada com o terrorismo, os golpes de Estado e o crime organizado transnacional, os líderes da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) há muito que procuram criar uma força de intervenção para reforçar a segurança.
Recentemente, os ministros da defesa e das finanças dos países-membros propuseram um ambicioso plano de segurança de 2,6 bilhões de dólares para apoiar uma força de 5.000 efectivos, mas os analistas alertam para o facto de o plano enfrentar desafios de financiamento e divisões políticas no seio do bloco.
“Mais do que nunca, estamos num momento crucial na história da nossa comunidade para enfrentar a insegurança,” o presidente da Comissão da CEDEAO, Omar Alieu Touray, disse numa reunião em Abuja, na Nigéria, no dia 27 de Junho.
Touray referiu-se ao Índice Global de Terrorismo de 2024, que indica uma mudança no epicentro do terrorismo do Médio Oriente e da África do Norte para a África Subsariana, sendo a região do Sahel a mais afectada.
De acordo com o relatório, o Sahel é responsável por 26% dos ataques terroristas a nível mundial e por mais de metade de todas as mortes causadas pelo terrorismo na África Subsariana. Os três países mais afectados do Sahel — Burquina Faso, Mali e Níger — registaram um aumento acentuado do número de mortes causadas por ataques terroristas.
A insegurança no Sahel conduziu directamente a golpes militares nestes três países, que anunciaram a sua saída da CEDEAO em Janeiro de 2024.
Pouco antes de os chefes de Estado da CEDEAO acolherem as propostas de força de intervenção durante a sua reunião bianual em Abuja, a 7 de Julho, e encarregarem Touray de mobilizar recursos financeiros e materiais, os chefes militares do Burquina Faso, do Mali e do Níger realizaram a sua primeira cimeira a 6 de Julho em Niamey, no Níger, para assinar um pacto de defesa mútua separado.
“Os nossos povos viraram irrevogavelmente as costas à CEDEAO,” o líder da junta nigerina, General Abdourahamane Tiani, disse num discurso.
Leonardo Santos Simão, que lidera o Gabinete das Nações Unidas para a África Ocidental e o Sahel, afirmou que cerca de 7 milhões de pessoas na região estão deslocadas internamente e 8.000 escolas estão fechadas, “privando centenas de milhares de crianças de uma educação e corroendo a própria base de qualquer desenvolvimento futuro nos seus países.”
Ele disse que a ONU contactou as três juntas para as exortar a considerar a permanência na CEDEAO e a procurar soluções para as suas queixas “no seio da família.” A sua saída poderia enfraquecer o bloco, e Touray disse que a liberdade de circulação e um mercado comum de 400 milhões de pessoas oferecido pela CEDEAO estavam em causa.
A CEDEAO tem um historial de intervenções que remonta à década de 1990, quando o bloco regional formou o seu grupo de controlo conhecido como ECOMOG e enviou intervenções para a Libéria e a Serra Leoa. Mais recentemente, a intervenção militar da CEDEAO na Gâmbia, ECOMIG, ajudou a restabelecer a ordem no país na sequência de uma crise política.
A força em estado de alerta da CEDEAO poderia começar por ser uma brigada de 1.650 homens e aumentar de tamanho ao longo do tempo. Espera-se que os países-membros financiem a força, mas Touray também contactará a União Africana para obter apoio financeiro.
“Os requisitos financeiros para estas propostas são substanciais,” o Ministro da Defesa da Nigéria, Mohammed Badaru Abubakar, disse durante uma reunião dos ministros da defesa e das finanças da CEDEAO, em Abuja, no dia 27 de Junho. “Enquanto o custo de uma brigada de 5.000 homens está estimado em 2,6 bilhões de dólares por ano, uma proposta alternativa de uma brigada de 1.650 homens custaria cerca de 481 milhões de dólares por ano.”
O Presidente da Nigéria, Bola Tinubu, reeleito para um segundo mandato de um ano como presidente da CEDEAO na cimeira de chefes de Estado no dia 7 de Julho, instou os Estados-membros a fornecerem recursos à força em estado de alerta.
“Devo sublinhar que o êxito deste plano exige não só uma forte vontade política, mas também recursos financeiros substanciais,” disse ao dirigir-se à conferência. “Permitam-me sublinhar que uma sociedade pacífica e segura é essencial para a realização do nosso potencial.”
Kars de Bruijne, investigador sénior do Instituto Clingendael, disse que, para além de encontrar financiamento externo, a CEDEAO precisa de forjar uma estratégia para lidar com o Burquina Faso, o Mali e o Níger.
“O cumprimento das obrigações tem sido o problema da CEDEAO desde há muito tempo,” disse à The Associated Press.
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