EQUIPA DA ADF
Há mais de 4.000 anos, os faraós do Egipto estabeleceram uma parceria comercial com a próspera Terra de Punt. Os egípcios mantiveram em segredo a localização do reino. Percorriam grandes distâncias por terra e por mar para comerciar com o país, que consideravam Ta Netjer — a Terra de Deus.
As primeiras referências directas conhecidas de Punt provêm da Pedra de Palmero, uma tábua que contém relatos das antigas dinastias egípcias. As inscrições na pedra dizem que, durante o reinado do Rei Sahure, cerca de 2450 a.C., os comerciantes conduziram uma expedição lucrativa a Punt, regressando com mirra, ouro, prata, madeira e escravos. Trata-se do primeiro registo de egípcios a viajar para lá.
A Terra de Punt estava maioritariamente escondida do resto do mundo devido ao seu isolamento. Os cidadãos de Punt estavam ansiosos por trocar ferramentas, jóias e armas dos egípcios. Em troca, os egípcios recebiam marfim, ébano, ouro, presas de elefante, incenso e animais selvagens, incluindo babuínos.
Mas cada viagem até ao Reino de Punt era longa e difícil. Ao longo dos séculos, a parceria comercial foi-se desvanecendo, tendo depois cessado por completo. Os egípcios perderam o rasto da localização de Punt. Desapareceu da memória, pensando-se que se situava algures ao longo do Mar Vermelho, ou mais a sul. Mas ninguém sabia ao certo.
Quando a Rainha Hatshepsut se tornou faraó do Egipto, por volta de 1470 a.C., a rota para Punt tinha-se perdido havia décadas. Hatshepsut disse aos seus súbditos que os deuses lhe tinham dado instruções para encontrar o caminho, enviando uma missão comercial. A expedição começou por volta do seu nono ano como faraó, quando enviou cinco navios, cada um com 21 metros de comprimento. Os 210 homens enviados para a viagem incluíam marinheiros e remadores.
A viagem foi um empreendimento fantástico. Os egípcios desceram o Nilo, desmontaram os seus navios e transportaram-nos por terra até ao Mar Vermelho, onde os voltaram a montar. Os navios portáteis eram leves, mas também eram frágeis e tinham de se manter nas margens mais seguras e pouco profundas do Mar Vermelho. A viagem no mar demorou cerca de 25 dias, percorrendo 50 quilómetros por cada dia.
A viagem bem-sucedida entusiasmou os cidadãos de Punt, que sabiam quão perigosa tinha sido a viagem dos egípcios. Os egípcios regressaram da viagem com a vasta riqueza esperada, mas tinham também 31 árvores de mirra, cada uma com as suas raízes num cesto. Hatshepsut mandou plantar as árvores nos pátios do seu complexo de templos mortuários, onde prosperaram — a primeira vez na história registada que alguém transplantou com sucesso árvores estrangeiras. As raízes das árvores ainda hoje podem ser vistas.
O comércio com o Reino de Punt continuou durante a era do Novo Reino do Egipto. Mas, com o passar do tempo, a política regional e a construção de impérios tiveram prioridade sobre o perigoso comércio a longa distância. Por volta de 1100 a.C., Punt tinha-se tornado novamente uma terra perdida e misteriosa. A egiptóloga Joyce Tyldesley descreveu Punt, na época pós-Reino Novo, como “uma terra irreal e fabulosa de mitos e lendas.”
Ao longo dos anos, historiadores e cientistas desenvolveram teorias sobre a localização do reino perdido. Chegaram a acreditar que Punt se situava no Corno de África, possivelmente no que é hoje a Etiópia. Outras possibilidades incluíam o Djibouti, a Eritreia, a Somália, o Sudão do Sul e até o Iémen. Alguns investigadores teorizaram que Punt poderia ter sido outro nome para uma cidade portuária a que os romanos chamavam Adulis, na actual Eritreia.
Em 2020, uma equipa de investigadores fez um grande avanço ao examinar isótopos radioactivos nos restos mumificados de babuínos no Egipto, datados do Novo Reino e do período ptolemaico, entre 305 e 330 a.C. Os cientistas descobriram que alguns dos animais não eram nativos do Egipto, mas provavelmente do Corno de África. Como sabiam que os egípcios obtinham babuínos de Punt, puderam restringir a localização.
Um babuíno em particular, uma fêmea, tinha DNA recuperável, que foi localizado na região de Adulis. Embora o estudo não feche o livro sobre a localização de Punt, coloca-o quase de certeza no que é actualmente a Eritreia. A descoberta poderá ajudar os historiadores a desvendar os segredos desta civilização há muito desaparecida.
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